Estava eu em mais um pacato dia em minha pacata ferraria, faz três dias desde a última visita de Eduardo, seu cinturão estava quase pronto.
Ele veio me visitar todo dia por uma semana, mas em sua última visita, algo estranho aconteceu.Eu mostrei a ele meu local de trabalho, a forja, meus equipamentos e minha velha bigorna, porém, durante isso, o sino tocou, anunciando a chegada de um cliente. Naturalmente, fui até minha bancada e surpreendi-me com um sujeito de capa e capuz, este não ocultava seu rosto, porém ainda sim era difícil visualiza-lo.
—Bom dia senhor, bem vindo a minha ferraria, não fabricamos armas. — percebi seu olhar penetrante em mim nessa hora— o que o senhor vai querer?
—Bom dia. — me surpreendi com uma voz diferente de minhas expectativas, esperava uma voz grossa e rouca, mas esta era diferente, parecia alguém forçando uma voz grossa. — Eu queria saber se pode consertar meu facão, eu quebrei enquanto cortava carne. —percebi um leve sorriso em seu rosto.
—O senhor é açougueiro? Nunca o vi pelas redondezas...
—Meu açougue fica em outro distrito, mas ouvi falar muito bem de um ferreiro daqui.
—Entendi. — obviamente não estava convencido. — posso consertar sim, deixe-me ver o estrago.
Ele me entregou o facão e, de fato, aquela peça estava num estado deplorável. Além de muito usada, era velha e enferrujada. Sugeri a confecção de uma nova peça:
—Um conserto desta peça seria caro e demorado, posso fazer uma exatamente igual a esta, assim o senhor pode guardar esta como um símbolo ou algo assim.
—Quando posso vir buscá-la?
—Daqui à dois dias. Eu adianto que o preço do conserto serão 15 moedas de ouro.
—Ótimo, venho buscar depois.
Depois disso ele saiu e eu voltei à conversar com Eduardo e o dia correu normal.
Desde então venho me sentindo meio só, nada com que eu já não esteja acostumado, mas é legal ter alguém pra conversar de vez em quando, ajuda na minha sanidade mental.
Já está quase na hora de fechar. Vou até a minha porta para tranca-lá, porém ao por minhas mãos na chave sinto uma coisa estranha. Meus corpo para de se mover e o clima fica pesado, o que é isso?
Com um chute voraz, minha porta é derrubada e cai em cima de mim, rapidamente eu a empurro pro lado e corro até meu quarto.
Olho para trás enquanto corro e percebo que quem está me perseguindo é o meu cliente misterioso.
Ao chegar no meu quarto verifico em baixo na minha cama e pego uma bainha com uma espada. Nela havia uma mensagem para minha mesmo."Só volte a utilizá-la em caso de vida ou morte"
Eu a pego bem a tempo de defender o golpe do homem encapuzado. Nossas espadas se cruzam duas, três, quatro vezes! Na quarta colisão as espadas travaram uma a outra e eu tive a chance de observar o rosto de pessoa por um instante, contudo ela me acerta um chute que me deixa prostrado de joelhos.
—Nada mal para um ferreiro.—diz enquanto aponta sua espada para mim.—Agora largue a espada!
Obedeço e o encaro com ódio.
—Você é...— engulo em seco antes de continuar— Você é o assassino não é? Aquele que já assassinou mais de uma centena de cavaleiros.
—Aceite a resposta como um ato de misericórdia. Sim, sou eu.
—Então pare de esconder seu rosto como um covarde!!
Então ele me chuta e enquanto me observa caído, remove seu capuz, algo se distorce em sua face, ele era irreconhecível antes do capuz, entretanto agora estava claro, e não era um homem de capuz, era uma mulher.
—Derrotado por uma mulher.—resmungo.
—Agora morra!!—ela diz finalmente sem forçar sua voz.
Sua espada descia em minha direção rápida e impiedosamente, aquele era o meu fim. Fecho os olhos, estou particularmente frustrado. Morrerei sem poder cumprir nenhum dos meu ideais, nunca descobrirei a verdade sobre esse mundo.
E Eduardo? Verá o corpo de um homem moribundo que disse mais do que poderia fazer. Não consigo acreditar, falhei na única coisa que não podia falhar. Nada mudou desde meu passado podre.Um zumbido cintilante seguido por um som de metal interrompe meu raciocínio.
Abro os olhos e vejo a espada de minha assassina no chão, como um instinto de sobrevivência, pega a minha arma que eu largara no chão e a golpeio na perna. Procuro por opções mas acabo demorando e ela recupera a espada, só tenho o tempo de pular minha janela e correr, correr pois minha vida dependia disso.
Enquanto corro penso no que a fez derrubar a espada e quase como uma piada do universo, Eduardo me para.—MANOEL!!!
—Eduardo... — fico sem reação ao ver sua mão, ele segurava... Um arco.— O que é isso garoto?!?!
—Rápido, precisamos fugir do reino!!! Já arrumei nossas malas!!
—O que você está falando? — pergunto completamente confuso
—Eu explico quando estivermos do lado de fora.
—Eduardo...
—Aquele assassino não é o único que está atrás de você, vamos logo!!!
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Crônicas de um ferreiro - O Santo Graal
AdventureNum mundo onde a Família Real governa de forma absoluta, sem detalhes sobre a sua tirania, as pessoas vivem dentro das muralhas dos reinos. Ninguém conhece a verdade sobre o mundo lá fora, além dos cavaleiros que saem pra lutar nas cruzadas e é clar...