Manoel

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31 Anos atrás

Mãe!! — berra o pequeno. — O que tem para hoje??

—Hoje não vai ter nada, filho, o papai não conseguiu vender bem na loja esse mês.

—Por quê? Ele precisa de ajuda?

  Não há resposta, o que dizer nessa hora? A criança apenas abaixa a cabeça e aceita, coisas assim já eram comuns em sua vida, apesar de ainda ser jovem.
O pai chegara em casa, ele trazia um saco repleto de itens consigo.

—Querido, você já chegou?

—Você não tem ideia do que aconteceu hoje!! — o senhor mostrava seus dentes amarelos num sorriso.

—O que foi papai?!?!

—O papai conseguiu vários clientes hoje, e vai trabalhar bastante para conseguir entregar tudo no prazo, então a gente vai comer o que quiser!!

Os olhos da mãe e do filho se iluminaram:

—Que bom, querido!!

—Você e de mais, pai!! — o filho pula no pescoço de seu pai.

—Se você me sufocar assim não vou conseguir fazer nada, Manoel. — fala fingindo perder o ar.

Manoel desesperado o solta fazendo seu pai simular um suspiro.

Depois de uns anos, o tempo tinha feito bem para a família, Manoel crescera e agora ajudava seu pai na ferraria, e eles conseguiram manter seu sustento.

—Pai, me passa a guarda, eu ainda não terminei de detalhar.

—Você tem que parar de exigir tanto do seu velho, qualquer dia desses eu vou morrer e aí você vai perder essa mordomia.

—Não fala besteira pai, nunca vi alguém com a saúde melhor que a sua.

—Nunca se sabe meu filho.

O que os pais não sabiam, era que Manoel tinha outro emprego, e esse emprego estava dando muitos clientes para a ferraria.

—Qual é o serviço dessa vez, Diego? —Manoel estava sério.

—Relaxa amigo, não precisa ficar tão bravo assim, é só mais um serviço.

  Diego estava com os pés numa cadeira e sentado na mesa, um sujeito que definitivamente não gostava de padrões.

—Para de enrolar cara, só me passa o trabalho logo.

—Olha como tu fala comigo moleque!! Você sabe que só tá vivo por minha causa.

—Até parece, eu já tinha descido a porrada em todos os seus escravinhos, você deveria agradecer por me ter.

—"Escravinhos"? Que tipo de nome é esse?

—Só me dá o serviço logo cara!!!

—Tá ligado naquele padre né? Aquele do sul.

—Aham, que tem ele?

—Tu é lerdo hein, ele é o alvo.

Crônicas de um ferreiro -  O Santo GraalOnde histórias criam vida. Descubra agora