Bakugou ouviu passos apressados e pesados se aproximarem do segundo andar onde ficava seu quarto, mas era como se o mundo estivesse momentaneamente mergulhado em uma densa bolha d'água. Seus ouvidos zuniam e ele se sentia zonzo.
Antes que pudesse processolar qualquer coisa, Eijiro entrou de supetão, abrindo a porta com tamanha pressa que ela bateu na parede de maneira estrondosa.
Ao vê-lo caído no chão seus lábios tremeram em antecipação. Ajoelhou-se ao seu lado em segundos com os olhos abertos em pavor.
— Katsuki, Katsuki! — chamou-o angustiado fazendo a cabeça do loiro doer ainda mais. — Por Deus, o que estava tentando fazer, está se sentindo bem, consegue me ouvir?
— Para...de me... balançar... inferno! — reclamou sentindo o cérebro doer com as pontadas agudas que o atingiam em cada sacolejada.
Logo os pais do loiro chegaram no quarto, pávidos com o estado dele, fazendo a ele as mesmas perguntas enquanto o cercavam de cuidados. Aquilo estava irritando o loiro que desejava apenas silêncio e o fim de toda aquela comoção.
— Chega! —desvencilhou-se do abraço do marido que o ajudou a se sentar, encostando na cama — Parem com esse barulho, porra!
— Só queremos o seu bem, meu filho. — Masaru tentou argumentar.
— Se querem isso então me deixem em paz! Saiam daqui, todos vocês e me deixem.
Os pais o olharam relutantemente, mas optaram por não perturbá-lo por hora confiando a Eijiro, através de um olhar cúmplice, a missão de convencê-lo.
— Nós vamos ligar para uma ambulância. — Mitsuki avisou antes de sair.
— Não vai ligar pra porra nenhuma! — Bakugou instou com a voz carregada. A dor que havia aprendido a ignorar em parte, havia retornado com força total.
— Faça isso, Mitsuki, por favor. — Eijiro disse sério, com um olhar que Bakugou desconhecia.
— Parem de me tratar como um inválido, caralho! Eu sou adulto e digo que não quero nenhuma porra de ambulância.
O ruivo pela primeira vez o ignorou por completo, tendo o cenho franzido em descontentamento. Pegou-o no colo, erguendo-se e o colocando cuidadosamente sobre a cama enquanto evitava os xingamentos e protestos do marido que o mandava sair do quarto e deixá-lo sozinho. Por fim Bakugou passou a socar seu rosto, tenso por não conseguir se desvencilhar de seu aperto, sentindo-se inútil. O ruivo aguentou cada um dos golpes calado, sentando ao seu lado e tratando de enxugar o ferimento que sangrava na testa do loiro com um pano.
Exausto e furioso, Bakugou acabou perdendo o controle de sua quirk e acertando uma explosão no rosto de Eijirou, um movimento não intencional que o fez parar no mesmo instante, temendo ter machucado o marido, sentindo-se culpado.
— Me perdoe, eu não queria. — pediu arrependido.
Felizmente, como um instinto de autodefesa, Kirishima havia ativado a própria quirk em resposta, não tão rapidamente para evitar por completo, mas o suficiente para evitar ter a cabeça estourada pela explosão. Seu rosto ainda estava virado de lado e um filete denso de sangue escorreu pela ferida aberta em sua bochecha. Katsuki se sentiu miserável por ter ferido a pessoa que mais amava, a qual se dedicava a si de corpo e alma.
— Por favor... me desculpe... — estava verdadeiramente arrependido.
Eijirou nada disse, apenas bufou visivelmente chateado e se levantou saindo de perto de si. Em um último movimento, o loiro tentou impedi-lo de sair segurando sua mão, mas ele se libertou com um solavanco, rude como nunca havia sido em todo o tempo em que eles compartilharam juntos. Bakugou estava pasmo com a reação dele, apavorado com a possibilidade de ter ultrapassado a barreira derradeira que o levaria para longe de si, congelando de pavor ao se imaginar sem o ruivo por um dia que fosse.
Se deu conta enfim de que tinha conseguido o que almejava desde que recebera o prognostico após o acidente. Havia afastado Eijirou de si, ele sairia de sua vida assim como havia pedido, encontraria outra pessoa e seria feliz com um outro alguém.
Só que naquele momento, Bakugou se deu conta de que havia assinado a própria sentença. Sentindo o coração palpitar em dor enquanto o via se afastar de si ele teve certeza de que não poderia seguir em frente sem Eijirou. Precisava pedir a ele que ficasse, que o perdoasse, mesmo que para isso tivesse que se rastejar.
Desceu da cama com um baque surdo, sentindo os músculos protestarem e a mente novamente gritar em dor, dessa vez evitando bater a cabeça no chão.
Eijirou parou ao ouvi-lo cair no chão, mas não se virou, apenas abaixou a cabeça e suspirou profundamente.
— Por favor, Eijirou, volte... não me deixe... — pediu entre soluços, usando os braços para se arrastar para perto dele. Agora sim se sentia um verme inútil, que tinha que rastejar para poder alcançar o homem que amava.
Os olhos dele, tão cheios de dor, mágoa e raiva se voltaram para Bakugo. Havia arrependimento ali? Talvez repulsa por ele estar naquela situação, tão indefeso e nenhum pouco másculo, choroso como um bebê de poucos meses erguendo-lhe uma das mãos enquanto clamava por sua presença.
Era ridículo, Eijiro precisava de um homem inteiro que pudesse lhe fazer feliz, não um estorvo como ele.
Por um momento fechou a mão, recolhendo-a, mas tornou a abrir, implorando por ele. Não conseguiria fazer nada sem seu amado, ele era sua luz e calor, o sol de sua vida.
— ... por favor... — chiou uma última vez. Seu corpo convulsionava pelos soluços. Abaixou a cabeça assim que percebeu que não podia sustentar o olhar de Eijiro sobre si, chorando audivelmente sem se importar com mais nada que a eminente e catastrófica possibilidade de perdê-lo.
Havia desistido de tudo quando sentiu os braços fortes do marido virarem seu corpo, erguendo-o e o sustentando em um abraço acolhedor. Instintivamente ladeou-o com os braços e o apertando contra si, chorando como uma criança ao desfrutar o calor que temia perder e sentindo que o ruivo fazia o mesmo.
— ... não me deixe, eu sei que sou um idiota...
— Sim, você é. — Eijiro confirmou cheirando suavemente o cabelo dele — Um idiota teimoso.
—Sei que estou sendo egoísta... que você merece algo melhor, mas eu não quero que me deixe. E-Eu... Eijirou... eu...
— Ei, olhe para mim. — segurou o rosto dele ajudando-a a olhar em seus olhos — Eu já lhe disse que nunca vou te deixar, dá para acreditar nisso, ou não?
— Eu pensei que...
— Shiii, pensou besteira. Eu estava irritado, precisava de um tempo sozinho para pensar. Mas eu jamais o deixaria, entendeu? Já lhe disse milhões de vezes a mesma coisa.
— Me desculpe por te machucar. — tocou o rosto dele evitando o corte, sentindo-se um merda por feri-lo.
— Isso não é nada comparado a dor que eu sentir ao ver você desistir. Você pode me bater o quanto quiser, quebrar meus ossos e me arranhar que vai ser menos doloroso que isso — o ergueu no colo novamente, sentando na cama com ele — Entenda que para mim também é difícil, eu não quero ver você definhar e morrer, negando os meus cuidados. Me sinto inútil com isso.
Pela primeira vez durante aqueles meses sombrios, Katsuki percebeu que ele não era o único a padecer com aquela situação, mas que fazia sofrer também todos ao seu redor. Sentiu-se envergonhado e egoísta ao se colocar no lugar do marido e de dar conta de que talvez não fosse capaz de suportar nem mesmo um terço do que ele aguentou sem surtar. Kirishima estava sempre tão para cima e confiante que as vezes ele esquecia que ele tinha essa mania de esconder seus anseios debaixo de um sorriso.
— Eu prometo que vou lutar contra isso. — o loiro buscou a mão de Eijiro, beijando sua aliança com carinho — Por nós dois, amor.
O coração do ruivo se encheu de júbilo ao ouvir aquelas palavras.
— Era tudo o que eu precisava ouvir. — selou seus lábios em um beijo confidente e apaixonado, enxugando suas lágrimas enquanto as próprias desciam sem parar.
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Olha esses bolinhos. E pensar que já estamos chegando ao final, heim?! Vai ser bem soft, prometo ❤
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Abnegar
FanfictionDe todos, Eijiro era o único capaz de lhe tirar daquele abismo, sem jamais abdicar de seu posto de guardião ou desistir de si. E era justamente esse o problema, Katsuki sentia que estava prendendo o amado em uma relação sem futuro, atrelando-o a um...