Between Two Families

2K 158 31
                                    

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.




    As mãos pálidas foram outra vez de encontro ao mogno maciço do móvel, fazendo objetos tilintarem, e até um frasco de perfume cair e derramar um pouco do seu conteúdo. Mas ele não ligava, tinha problemas demais para que aquele tomasse sua atenção por mais do que dez segundos... Problemas enormes.
    Sasuke grunhiu, enterrando os dedos nos cabelos, os retirando do lugar, apenas para os ver através do reflexo voltarem levemente bagunçados ao lugar. Rosnou para o próprio reflexo cogitando quebrar o espelho, a gola alta da sua blusa de seda cobria seu pescoço, mas ele sabia muito bem o que estava ali. Ele sentia, maldição, ele sentia em cada célula e em cada segundo. Ele podia sentir...
    - Maldito. — Praguejou mordendo o lábio inferior, outra vez suas mãos inquietas apertaram a borda da penteadeira.
    Nunca havia se sentido tão perdido na vida. Nunca.
    Seus olhos se fecharam, e ele quis imaginar que não estava mais ali, não cumprindo um mero capricho do destino. Não preso ao o que ele mais desprezava, não naquele lugar para onde ele jurou que nunca mais iria voltar...
    Nesse ponto um sorriso amargo e beirando o desespero se formou nos lábios bem esculpidos e vermelhos. Rum, ele literalmente não iria ficar mais muito tempo por ali. Não achava que seu novo "dono" iria querer fazer do distrito Uchiha sua nova moradia... Não quando o castelo Hokage era seu por direito.
    Os olhos negros se apertaram, querendo com todas as forças controlar o espasmo que percorreu todo o seu corpo, só por apenas pensar no herdeiro Uzumaki Namikaze.
    Deuses, Sasuke se odiava... Se odiava tanto.
    E com todo esse ódio correndo, mandou toda a etiqueta a boa e velha merda, usando as mãos delicadas, porém com unhas eficientes para literalmente rasgar a gola irritante daquela maldita blusa.Estremecendo quando o ar resvalou na pele sensível.
    Afastando as pontas dos cabelos, o coração do Uchiha batia com violência. Ali estava, chamativa e irremediável. A marca que tornava seus piores pesadelos realidade.
    A marca que o ligava ao seu parceiro Alfa, um parceiro que o destino havia se encarregado de lhe empurrar goela abaixo.
    Naruto Uzumaki Namikaze.
    Sasuke apertou os olhos, lutando contra a vontade de chorar, vinda do seu lado racional, que se via preso aquela situação lastimável... E lutando com mais força ainda contra a natureza do seu lado ômega, aquele que insistia em girar de excitação em apenas pensar no nome daquele... Dobe.
    "Dobe" foi assim que sempre se referiu ao filho do Supremo Hokage, ás vezes também como "Usuratonkachi" dependendo do seu humor no dia. Nunca com um nome, até por que, Naruto até o dia anterior não passava do herdeiro do título mais importante de Konoha, do príncipe alfa ao qual Sasuke nunca se deu ao trabalho de olhar duas vezes, em qualquer das eventualidades em que era obrigado a encontrar o garoto loiro e enjoativamente simpático e cordial. Um perfeito idiota.
    Se alguém dissesse que um dia ele se veria como o parceiro escolhido pelo destino do descendente dos Namikaze, diria que aquela era a piada mais sem sentido qua já havia tido o desgosto de ouvir.
    Seus dedos se guiaram sozinhos em direção ao lugar certo, tocando com delicadeza a marca sensível na base do seu pescoço. Abrindo os olhos, deixou que a visão se focasse na marca que o ligava ao seu Alfa.
    Seu... Alfa...
    Tantos anos fugindo, temendo secretamente que um dia seria obrigado e se unir a alguém... E então uma das maiores raridades do planeta resolve o escolher. Em um momento de fuga, no momento em que ele tinha finalmente sua liberdade nas mãos.
    Sasuke sentia vontade de vomitar.
    Em um rompante, o Uchiha se levantava, os pés cobertos por meias marchando pelo quarto em direção a cama desarrumada, ignorando o kimono extendido sobre os edredões. O garoto de cabelos escuros esticou o braço fino sob as dobras no colchão, puxando o objeto enrolado em um lenço de seda pura.
    Revelando um punhal, a lâmina gelada e reluzente, refletindo a luz vinda da janela.
    Mas antes que conseguisse sequer dar um rumo aos seus pensamentos, sentiu como se seu corpo todo vibrasse. Porém não sozinho, sabia que a sensação era espelhada em alguém... Em alguém que se aproximava e com ele levava junto o seu alto controle.
    O punhal foi atirado do outro lado do cômodo espaçoso, se fincando na parede com uma precisão sem falhas. Sasuke sentiu as pernas fraquejarem, e não relutou indo parar ajoelhado no carpete macio.
    Suas entranhas sabiam, assim como aquela marca amaldiçoada também sabia. Naruto estava chegando.
    Sasuke se sentiu morrer mais um pouco, mas seu corpo não pareceu se dar conta, apenas parecendo cada vez mais corresponder a um chamado não feito.
    Batidas na porta não fizeram sequer o pequeno Uchiha mover um músculo de sua letárgia.
    - Mestre Sasuke? — A voz feminina chamou.
    - Vai embora. — Sasuke rosnou, porém não alto o suficiente e a próxima coisa que ouviu, foram os sons da fechadura da porta se abrindo.
    Não, não, não. Sentia o ódio se misturando ainda mais ao turbilhão de sensações dentro de si.
    Mas ao contrário do que esperava, não foi a servente irritante que empurrou a porta. O cheiro forte e familiar o fazendo enrijecer a coluna sem ele sequer notar.
    Ela adentrou o quarto, com seu ar altivo, o nariz perfeito aspirando fundo, enquanto o par de sobrancelhas se arquearem na face esculpida em marfim.
    - O que faz aí? — Saiu na voz autoritária que ele sempre havia ouvido. Ela não deu tempo de que ele sequer abrisse a boca, já fazia sinal para a moça acanhada na porta. — Ora, você não tem tempo para chafurdar no chão, querido. Seu Alfa já está aqui.
    - Ele não é o meu Alfa. — Cuspiu erguendo o olhar para aquelas duas pedras ônix, tão idênticas às suas próprias.
    Mikoto deu seu sorriso de sempre, aquele que poderia ser lido como um puxar elegante e encantador de lábios sempre cobertos por batom cor de vinho... Mas para Sasuke, os sorrisos maternos representavam coisas bem diferentes.
    - Não é o que disse o destino. — Ela disse convicta. — A marca está em você, minha criança, você e ele estão entrelaçados. E até onde me lembro você é um ômega. — O sorriso aumentando um pouco mais. — O que faz do príncipe Uzumaki Namikaze o seu justo Alfa.
    A náusea voltou a assolar os sentidos de Sasuke. Tanto que não se perturbou, ou sequer teve reações quando as mãozinhas da beta servente o puxaram com delicadeza.
    Seus olhos perdidos se fixaram na mulher com um vestido de aparência pesada e imponente, violeta realçando a pele alva.
    - Está feliz com isso? — Perguntou baixo, enquanto a moça o tocava com cuidado, tirando sua blusa.
    A matriarca Uchiha o olhou com a cabeça inclinada para o lado.
    - Por que eu não estaria? — Ela deu uma leve risada. — Você foi escolhido pelo destino a ser parceiro do herdeiro do trono, um alfa forte e de excelente linhagem, que pode lhe assegurar proteção e uma vida próspera.
    Sasuke ergueu os braços, sentindo o tecido do kimono ser ajeitado ao seu redor. Seu coração batendo forte, em duas direções diferentes.
    - Como eu poderia não ficar extremamente contente com isso, minha criança? — Mikoto fez sinal para que a garota Beta se afastasse. — E ele é tão bonito, um rapaz criado para ser perfeito.
    - Ninguém é perfeito. — Sasuke sussurrou, sentindo a ponta das unhas compridas e pintadas de cor de berinjela da mãe.
    - Pois você tratará de ser. — As mãos macias agora seguraram o rosto fino e pequeno. — O perfeito ômega que nós criamos, não relevarei outra desobediência como a sua de dias atrás.
    E nos olhos com maquiagem impecável, como sempre, Sasuke não viu nada. A alfa, apenas o olhava como se visse através dele. Através de quem ele era, através de suas vontades. Ele era apenas uma moeda de troca.
    A moeda de troca mais valiosa nesse momento. A que garantiria a aliança absoluta do clã Uchiha com o dos governantes de Konoha.
    Assim como antes havia sido planejado com o garoto herdeiro de Suna. Assim como havia sido planejado desde que Mikoto havia parido a desgraça de um ômega.
    Mikoto fez o trabalho rápido, ajeitando com precisão cada detalhe que ela julgava necessário nas vestes do seu pequeno menino. Sasuke apenas sentia a raiva ferver, borbulhando e escorrendo por dentro das suas veias, se mesclando perfeitamente a sensação de quentura que parecia emanar a partir da marca no seu pescoço.
    - Está tão corado, me faz lembrar como é o côrte pré enlace. — A Uchiha disse enquanto colocava no lugar os fios rebeldes do cabelo do garoto. — Claro, que vocês pularam a parte em que ele propriamente deveria cortejar a você... Nunca imaginei, que dentre  a todos, você seria o que encontraria seu destinado. — Piscou.
    - Sabe que nunca desejei nada disso. — Sasuke rosnou, encarando a mãe pelo espelho.
    - Criança tola, você pode dizer essa blasfêmia quantas vezes quiser, mas sabe que sim, você como qualquer e todos os outros espera isso. Está na sua natureza e instinto, todos queremos encontrar o nosso parceiro perfeito, mas todos podemos apenas sonhar que seja o nosso destinado. — Ela novamente ergueu Sasuke. O sorriso altivo se tornando mais encantador e perigoso. — Aproveite a graça que lhe foi concedida Sasuke.
    Mikoto deixou um leve beijo na testa do menino, antes de sinalizar a porta.
    Sasuke apertou os olhos, sentindo uma força maior o guiar para fora...
    Queria ter conseguido usar o punhal.

DestinedOnde histórias criam vida. Descubra agora