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A neve travessa incomodava os cílios de um Jeongin encolhido próximo ao ponto de ônibus. Torcia com todos os dedos que conseguia cruzar para que o próximo ônibus estivesse sendo conduzido pelo Senhor Bang. Se estivesse ausente, tudo bem, porque o feriado de natal seria dali alguns dias e ele tinha prometido ceiar junto à família na fazenda que possuía — uma vez, Sr. Bang contou seus planos  —, mas a barriga insistia em revirar de ansiedade. Além da alegria de poder conversar com o motorista simpático e conselheiro, Bangchan era muito bondoso, poupando os pés inchados do frio de Yang quando precisava vender seus pequenos trabalhos no centro da cidade. Nunca pagara um tostão e talvez aquele fosse o segredo mais sagrado do motorista e do rapazinho.

Jeongin gostava de chamar aquela máquina de rodas de "Coração Andante", porque, de alguma forma, era como se ele sempre encontrasse seu caminho entre palavras e rodas girando; a intuição de tentar mais uma vez — já que atravessara mundos que jamais se colidirão — vender o ilusório conforto de sua vida que não lhe fazia mal ao todo. Afinal, a magia que transbordava de seus olhos quando trabalhava habilidosamente as cartas compensava a falta de fantasia em truques. O verdadeiro inacreditável beirava daquelas orbes sinceras e bem pintadas; a obra prima, um tesouro secreto.

Um Coração Andante surgiu na pista e Yang chamou a atenção com o indicador, ainda que estivesse incerto sobre o motorista. Nem todos eram como Chan em sem querer ser egoísta, porque, muito antes de conhecê-lo, enfrentava o frio congelante nos talos do pé com muita insistência. Mas, recentemente, passara temer seriamente que o coração mole petrificasse o resto daquela determinação.

Respirou fundo enquanto a porta abria. Quase gritou, tilintando o sino de vaca na direção de Chan ao vê-lo dirigindo Coração Andante com os olhos felizes e cansados. O homem mais velho riu de sua graça e tratou de convidá-lo a se sentar.

— Pensei que o senhor estivesse preparando a fazenda para o feriado — ajeitou-se confortavelmente no primeiro banco.

— Era o propósito, garoto — Chan fechou as portas e as rodas começaram a girar. Jeongin também pôs o cérebro para funcionar. — Mas tempestades fortes de neve vieram. Minha prima disse que teria de esperar até baixar, porque nem mesmo os tratores estão passando.

Yang curiosou a reação descontraída ao dizer as próprias palavras, meio decepcionado, mas sabia que Chan não era daqueles insatisfeitos da vida que recebera de graça — vida essa que, na maioria das vezes, a gente complica — e apenas um jeito de contentar as expectativas que ele tinha sobre si, o Coração Andante-curioso. Em muitas situações, até fazia poesia de  suas graças e guardava no coração que, apesar de não ter rodas ou condicionado, ainda assim era um andante à moda antiga.

Coração Andante virou a esquina e caiu na ruazinha movimentada que Jeongin tentara vender algumas vezes no mês anterior. Ao lembrar do episódio, sorriu com sucesso — não era muito, mas suficiente; considerável a seus propósitos. Sorrindo, quebrou o silêncio.

— Senhor Bang, qual é o coral de seus desejos?

Ao ouvir, o motorista fitou ligeiramente o garoto e deu um sorriso discreto.

— Você diz, para esse natal?

— Sim.

— Ainda não pensei nisso — deu seta —, mas talvez eu encontre quando a temporada na fazenda baixar.

Jeongin chacoalhou a cabeça várias vezes para dizer que havia compreendido e que esperava nesses desejos que não foram professados. A pergunta lhe gatilhou aquela tristeza característica: a família; a família que costumava levá-lo à igreja todos os domingos para participar do coral. Ele adorava os uníssonos de natal, porque o fazia acreditar que não era o único admirando a significância do momento todo.

Era bom ser feliz junto às pessoas.

— O coral dos meus desejos entoa a nota mais alta e marcante — disse, fazendo círculos no vidro da janela embaçada. — Isto é, vou comprar uma estrela e pendurar no ponto de apoio principal da minha barraca. Ela tem de ser enorme. É por isso que vou ao centro.

Serpenteando nas ruas, Coração Andante chegaria em breve ao destino, e Chan se viu pensando o que um garoto fascinante como ele fazia nas ruas quando era capaz de abraçar o mundo com todas suas relíquias e podridões.

— Acho que você achou as palavras certas.

— Você tá falando do Coração Andante? — Jeongin virou e arregalou os olhos.

— Sim — Bangchan sorriu em silêncio. — Estou.

[...]

🔊🔊🔊🔊🔊🔊🔊 EU QUERO CHORAR

ㅡ i wish. stray kids | jeongin ! a christmas giftOnde histórias criam vida. Descubra agora