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Luzes apagando e ascendendo, risadas ecoando e taças tilintando. Às vezes, música brega tocando ao fundo num violão ou instrumento de corda qualquer — a plena bagunça feliz e humilde do cortiço que se entregava ao espírito comemorativo. Jeongin ouvia e assistia tudo lá de baixo, em sua barraca pré-pronta de enfeites, esperando que a neve caísse assim desse meia noite, os estouros nos céus em frases multicolores, em uma língua que, embora não entendesse, apreciava esperançoso.

Tentou amarrar mais uma vez as cordas na ponta para que o ponto de fricção se estendesse além — Yang queria deixar a estrela bem a vista, brilhando esperançosamente no final do beco, para que as pessoas que passassem se convencessem (ou convencer a si mesmo) de que ali havia todos os sentimentos, postos corretamente, preenchendo toda sua existência. Tentava com muita insistência, sempre sorrindo distraído quando os pedaço da barraca escorregavam, a estrela pesada — sem contar o fio que a acendia, muito curto. E o fato de usar a tomada do vizinho furtivamente.

Tudo bem. Não queria pensar assim. Então limpou o suor na testa, espantou as músicas para o inconsciente e trabalhou arranjando coisa que o tranquilizasse: pensou na mãe, no pai, nos irmãos, em Chan, em Cici e até mesmo nas meias azuis de rena que usava na véspera. Respirou fundo, sem conseguir. Veio-lhe ao cérebro o grude harmônico, vozes amargas emboladas do cortiço, transparecidas de felicidade.

Yang Jeongin era feliz. Ele era feliz e ponto final, sempre repetia. Não precisava pensar em sua solidão. Ele tinha a si mesmo, e isso era mais do que suficiente.

— Não! — gritou entre tanta música e vozes, limpando o rosto. — Eu não vou chorar — pegou a estrela do chão e tentou encaixá-la novamente no topo da barraca. — Acho que é hora de parar de contar cores e contar desenhos, porque ninguém vai fazer isso por você, Jeongin. As pessoas acham que você tá sozinho, e pode até estar. Mas talvez não vejam que isso não é a pior coisa do mundo e que há sempre uma faísca contraída em perspectiva. É pequenininha, Jeongin — batia na própria cabeça, indignado por sair do clima natalino. Não era justo. — Você tem você e isso é suficiente. Não chore, não chore...

A primeira lágrima caiu.

Hoje fazia um ano que fora abandonado.

Começou a nevar e ele não podia ver, porque o borrão dos olhos escondia a vulnerabilidade exposta: querer ser amado, a efêmera solidão ao encalço. Não era justo, não era nada justo. Por tudo o que fazia e todos os sorrisos que arrancava, como poderia um garoto como ele ser a pessoa mais infeliz do mundo, ainda mais num dia para ele, num dia que era dele, uma data pertencida?

Pertencimento.

Jeongin pertencia a mundo.

Mas o mundo não pertencia a ele.

Sempre esteve tudo bem estar sozinho nessa jornada. Ele gostava de acreditar que tudo não passava de um treino, testando o quão cabível lhe era a solidão e as limitações da responsabilidade. Era como lidava com a selva, um dia de cada, enfrentando um leão por vez. Respirar e soltar o ar.

Nunca sobreviver. Sempre viver.

No pé que Jeongin ia, ele voltava. Voltava sempre para o mesmo lugar, na mesma hora, pelo mesmo caminho e desenhava os mesmo rostos de diferentes formas: da mãe, do pai, da família. Rostos rechonchudos, às vezes magros ou sérios e outras vezes felizes e vívidos. Também desenhava o próprio rosto, porque era tudo que tinha. Anunciando em segredo: eles todos,  uma parte de si, que talvez jamais existira, para caminhar lado a lado.

O desenho rosa, seu melhor amigo; o azul, contador de histórias; amarelo, o amor de sua vida; roxo, o senhor da praça;

sua família.

A estrela parou no lugar e piscou duas vezes antes de estabilizar. Os dentes batiam frio, os lábios roxos. Mas Jeongin não entrou, encarando a pentagonal, ouvindo as vozes em conjunto como uma espécie de...

— Então é esse o coral dos seus desejos? – Jeongin ouviu atrás de si.

ㅡ i wish. stray kids | jeongin ! a christmas giftOnde histórias criam vida. Descubra agora