ㅡ i wish. stray kids | jeongin ! a christmas gift

ii¡🎅

Assim que o despertador de sapinho todo enferrujado de Jeongin tocou, o menino tratou-se de levantar, um baita sorriso no rosto, calçando de qualquer jeito as meias e sapatos. Era dez e meia da manhã, e já a essa hora uma das moradoras do cortiço estendia o pisca-pisca na janela.

Arrumou seu cantinho sem desanimar e comeu restos da marmita que ganhara ontem, pronto pra enfrentar a ventania invernal com um "sino de vaca" em mãos que encontrara curiosamente na caçamba no meio do beco para simbolizar o tilintar natalino que tanto o empolgava. Jeongin adorava o natal; lembrava-se quando menor, na época em que morava com os pais, dos cachorros vira-lata vindo lhe cumprimentar com lambidas pela manhã e depois indo em direção à cozinha como furacão, onde a mãe e a avó assavam os biscoitos que os primos e ele tanto gostavam.

Agora estava por conta própria, o que, às vezes, causava-lhe um vazio descomunal, mas Yang sempre preferiu fingir que mascarar o espírito livre e aventureiro e enfrentar cada dia como uma fera de características mitológicas e empolgantes. Então, tudo parecia melhorar.

Cumpria a caminhada curta até à cidade, tentando vender alguns truques de carta que aprendera com o pai, amante de cassinos, ou crochês antigos que a vó lhe fizera, e que já não cabiam mais. Conseguia pouco durante o dia, porque, além do frio cortante, as pessoas se interessavam mais em olhar vitrines e assistir shows de mágica profissional — certa vez, tentara se enfiar no meio do elenco sem sucesso, sem arrependimentos, porque, afinal, a bailarina simpática improvisou seu almoço intocado.

Uma moça portando uma maleta azul turquesa o parou na calçada naquele mesmo dia, mais tarde, aparentemente interessada em seus truques e, curiosamente, em seus antigos crochês. Seu apelido era Cici e ela amava o natal tanto quanto Yang, prosperando para que o garoto conseguisse realizar seus sonhos natalinos, iluminados e pentagonais; uma coisinha que queria. Parecia-lhe importante.

Cici o presenteou com um saco de bengalas doces e um achocolato que acabara de comprar só porque a extensão do campo magnético positivo de Jeongin  a atraía numa força descomunal, quase incompreensível. Talvez fosse pelo fato do garoto saber apreciar com inocência as belas coisas da vida ou talvez a sobreposição de seus sentimentos em estado gerador, aquela força maior, sem escapatória. E ela jamais poderia saber, porque seu coração, embora de ouro, ainda não sublinhava a perícia das pedras. Cici importava no mundo como qualquer outro, claro. Entretanto, tal poder despertava mais pessoas de sua cunha circunferencial; elas poderiam passar a vida inteira bisbilhotando pedras que Yang chutaria no caminho e, ainda assim, nada seria suficiente para intimidá-lo, a gula de simpatia com quem nem merecia. Olhos rasos de inocência.

No pé que chegou, ela foi. E Jeongin a viu caminhar, cortando a neve com as botas, ainda irradiando a presença na maleta azul vibrante. Cici é como todos; Cici foi como todos.

No pé que chegou, foi.

No pé foi, sumiu.

Jeongin guardou seu rosto na memória e desenhou na parede sua maleta com um pedaço de carvão que encontrou no chão, debaixo da tenda. Era sua parede e de mais ninguém. Havia tantos desenhos que o garoto preferia contar suas cores, não a quantidade de imagens formadas. Porque se contasse, talvez perceberia quantas pessoas foram no pé que chegaram, sem voltar atrás.

A única luz provinha da sacada do cortiço e um senhor amigável cantava uma música triste sobre a chuva em plena madrugada. Yang não queria ficar triste, mergulhado na neve cortante lhe engolindo até o nariz, petrificando um coração que só era digno quando derretido. Por isso, abriu sua tenda e deixou que a luz invadisse suavemente seu cantinho para que pudesse encenar sombras que se assemelhassem às asas desesperadas, habitando as mais altas partes do céu.

É que Jeongin é um passarinho sorridente. Daqueles sem ninho.