Os homens que se amotinavam próximos ao castelo de popa abriram espaço para que uma mulher passasse. Alta e voluptuosa, a mulher vestia um colete carmesim de mangas compridas por cima de uma tradicional blusa branca; o decote com um bordado ondulado fazendo os seios caírem pesadamente sobre um espartilho marrom. As longas pernas eram cobertas por uma calça de algodão negra, mesma cor das botas de cano longo que tocavam os joelhos. O som delas pisando duro no convés e do vento chiando por entre os mastros eram os únicos sons presentes no momento.
A capitã Skylla parou entre Alder e Velman, cruzando os braços. Superava ambos em altura.
- Demoraram - disse para Alder, a voz tinha um tom de impaciência.
Alder lhe dirigiu um olhar igualmente repreendedor.
- É mesmo? Talvez tivéssemos chegado mais cedo se não fosse a pequena peregrinação que fizemos a sua procura. - ele franziu o cenho, intrigado. - Uma discussão com o taverneiro? Está vendo, senhorita Sasha? Depois diz que sou eu que não consigo controlar minha língua.
- Foi mais complicado do que isso - disse a capitã. Havia olheiras e rugas de preocupação em seu rosto austero. Ela começou a andar e dobrou um pouco o pescoço, indicando para segui-la - Explicarei na minha cabine.
- Hei, espere um pouco - protestou Alder. - Nem vai perguntar sobre nossa presa?
Por um instante a capitã o encarou, o rosto uma máscara de confusão, só quando Alder apontou para o senhor Batô ela pareceu se recordar do motivo de estarem ali. Finalmente encarou o senhor Batô. Seus olhos, de um azul oceânico profundo, pareciam cintilar a medida que examinava o homem apavorado que parecia estar sendo esmagado aos poucos perante o peso daquele olhar.
- Senhor-r-ra, e-eu... - tentou balbuciar ele, mas desistiu.
A capitã o encarou por mais alguns momentos. Fez um gesto displicente com uma das mãos seguido de um dar de ombros quase imperceptível, como quem sugerisse que o senhor Batô não era relevante.
- Acompanhem-no até a cabine do capitão, por gentileza, rapazes - disse ela para a alguns homens parados próximos ao senhor Batô. Em seguida se virou para Velman - Capitão Velman, não irei me demorar muito em sua cabine, não se preocupe.
- Não por isso - respondeu o capitão simpático. - Levem o tempo que precisarem, tenho que colocar essa banheira para navegar.
A capitã assentiu em agradecimento e passou os olhos por Sasha e Alder.
- Cuidaremos dele depois, agora me sigam, preciso mostrar uma coisa.
Sasha e Alder, embora visivelmente confusos, obedientes, seguiram a capitã convés a dentro. Desceram pela escotilha e se viram na coberta estreita do navio, na divisa entre os dormitórios dos marujos e um corredor que fazia curva pouco a frente. Seguiram pelo corredor. A curva acabou dando na cozinha do navio e Ronald, o cozinheiro, insistiu para que pegassem alguns pãezinhos recém fornados. Skylla e Sasha agradeceram, mas recusarem. Alder pegou meia dúzia de muito bom grado antes de seguir atrás delas por outro corredor mais interno que se conectava a cozinha. Sasha notou em como a madeira situada no piso e na parte inferior das paredes era perceptivelmente úmida. Também notou uma espécie de cochicho assim que dobrou o corredor. Um som abafado e oscilante que não demoraram para se revelarem em vozes. Conforme andavam, as vozes ficavam mais altas e discerníveis, a ponto de Sasha poder constar que se tratava apenas de uma voz, que soava alta e pausada, não muito distante de onde estavam. Se tornou tão nítida que Sasha já conseguia compreender parte do discurso.
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As Sombras de um Pretérito Vermelho
FantasySangue e frio. Com exceção de seu nome, eram as únicas coisas que Eryon se lembrava. Fora achado por uma mulher de cabelos vermelhos em meio aos corpos completamente desfigurados de seus pais. A mulher de cabelos vermelhos se chamava Skylla e capita...