Jonah Marais Point of View
Sexta Feira. 01:16.
Há quatro anos, quando eu me mudei para a capital do Colorado, Denver, passei a odiar caixas. De todos os tipos. Se eu fosse uma pessoa organizada provavelmente iria adorar caixas, e empacotar as coisas nelas. Ou desempacotar. Mas eu não sou organizado.Meu novo quarto é uma prova disso. Enquanto Esther, minha irmã do meio, já está com quase todas as caixas desempacotadas, eu nem consegui achar uma tomada para carregar meu celular.
Eu odeio mudanças.Quando fui para Denver achei que nunca mais me mudaria, e muito menos que se fosse mudar seria para voltar à minha cidade natal. O processo de mudança em si é horrível, mas estar de volta é maravilhoso. Eu poderia finalmente rever meus amigos.
Com a bateria zerada eu não tinha como avisar a ninguém que tinha chegado. Aparecer de surpresa não seria algo tão ruim.
- Avisa a mamãe que to saindo - falei a Esther, quando ela veio ao meu quarto pegar algumas caixas.
- Avisa você.
A ignorei, pegando as chaves do carro e, por hábito, o celular, o enfiando no bolso de frente da calça.
Saí as pressas do quarto, descendo as escadas correndo. Se eu não pegasse trânsito (o que essa cidade não conhece de tão pequena), chegaria a tempo na escola dos meninos antes que as aulas acabassem.
Eu queria ter avisado a Amy que já estava na cidade, mas ela ficou sem internet ontem, e eu sem bateria hoje. A comunicação entre nós dois estava de fato péssima, logo agora que as coisas pareciam estar se ajeitando, ainda mais com a minha volta.
Chegar à escola não foi difícil, e nem demorado. Fiquei surpreso por ainda saber o caminho, mas tendo crescido naquela cidade seria difícil esquecer como andar nela.
Os corredores da escola estavam quietos, a tensão dos últimos minutos restantes de aula estavam em todo o lugar. A última aula do dia acabaria em menos de cinco minutos. Até eu estava ansioso.
Os meninos estavam no campo, porque em plena sexta eu sabia que lá era o único lugar onde estariam. Não consegui chegar nem sequer na metade do corredor principal, pois o sinal tocou, indicando o fim das aulas.
- Jonah! - gritou Jack, no pé da escada ao final do corredor. Ele estava sorrindo, com uma bola na mão e os meninos ao seu lado.
Levantei a mão e acenei. Eu me sentia incrivelmente deslocado no meio daquelas pessoas. Eu realmente tinha crescido nos últimos anos... Jack riu de mim, quicando a bola no chão enquanto me olhava.
Ele iria esperar o corredor esvaziar para vim até mim.
Ridículo...Mostrei o dedo do meio para ele, e comecei a andar pelo corredor, indo no sentido contrário ao dos alunos, que não pareciam contentes com meus encontrões.
- Opa - falei, ao dar um esbarrão mais forte do que o esperado em uma garota, a segurando pelos ombros em seguida.
Era Amy.- Jonah... - disse, me olhando chocada.
Não tive tempo de dizer alguma coisa, porque ela se jogou em mim, os braços em volta do meu pescoço. Soltei uma risada, não tendo outra opção a não ser retribuir o abraço. Passei meus braços ao redor de sua cintura, a puxando para perto.- Uhuuul! - gritou Jack, batendo palmas e se aproximando.
Eu tinha me esquecido em como ele era ótimo em fazer as pessoas passarem vergonha.
Amy e eu nos soltamos do abraço, mas minhas mãos continuaram em sua cintura.
Virei-me, olhando os meninos nos encarando. As amigas dela também assistiam, mas sem entender muita coisa.
- Jonah! - gritou Corbyn, se jogando em cima de mim.
Os outros fizeram a mesma coisa. Amy riu, se afastando da pequena confusão.
21:00
- Bora, cara. A gente precisa comemorar sua volta - dizia Daniel pela décima vez.- Mas pra isso não precisamos ir para outra cidade.
- Claro que precisamos, você precisa conhecer a balada que tem lá. Dá de dez a zero nessa que tem aqui - disse Zach.
- E além do mais, a Amy vai estar lá - dizia Corbyn enquanto me olhava. - Vai deixar mesmo essa oportunidade passar?
Eu realmente não estava a fim de ir para outra cidade. Eu tinha acabado de chegar e ainda não havia arrumado nada, com certeza minha mãe iria me matar ao ver minhas coisas ainda nas caixas espalhadas pelo quarto. Mas eu não podia perder a oportunidade de estar mais um pouco com Amy...
Concordei em irmos. Pensei em mandar uma mensagem pra ela avisando que também estava indo pra tal balada, mas preferi deixar para chegar de surpresa. Pela segunda vez.
23:47
Chegando lá olhei para todos os cantos tentando avistar Amy, e logo a vejo conversando em um canto com suas amigas.
Ela estava linda. Com um simples vestido preto (que apesar de não ser tão curto tinha um decote que deixava todos babando) um pequeno salto (mesmo que isso não a tornasse alta) e o batom. Aquele maldito batom vermelho que ela insistia em colocar só pra provocar.Eu poderia ficar horas ali parado olhando para ela, mas logo fui tirado dos meus pensamentos ao ouvir Jack gritando o nome dela e das amigas.
Quando nossos olhares se encontraram ela soltou um sorriso baixo e veio em minha direção.
- Não sabia que vinha. - Ela se aproximou.
- Os meninos insistiram, e bom, tenho que comemorar o fato de estar de volta na minha cidade.
- A cidade não é a mesma coisa sem você. - Riu.
- Eu realmente faço falta. - Rimos.
Conversamos um pouco até começar a tocar What Are We Waiting For, o que era bem irônico. Soltei uma risada baixa e puxei-a para pista.
- Tá louco? - Riu.
- Um pouco talvez.
Me aproximei, envolvendo meu braço em volta da sua cintura, juntando nossos corpos. Ela fez o mesmo, envolvendo seus braços em volta do meu pescoço.
Enquanto dançávamos não tirávamos os olhos um do outro, era como se cada trecho daquela música fosse pensada e escrita para nós.Eu a queria e sabia que o desejo era recíproco.
Aproximei-me mais um pouco, descendo o olhar para sua boca, e ela levemente puxou alguns fios do meu cabelo quebrando a pequena distância que havia entre nós.
O beijo dela era quente e ao mesmo tempo suave. Enquanto minhas mãos passeavam pelo seu corpo, pousando em sua cintura, uma das mãos dela agarrava meu cabelo de leve, e a outra fazia uma trilha de carinho no meu pescoço.
Eu ansiava tanto por aquele beijo que para mim só havia nós dois ali. Éramos só eu, ela e a música ao fundo.
Paramos de nos beijar pela falta de ar. Ficamos nos olhando durante minutos sem dizer nada, apenas sorrindo um para o outro.
Depois de mais algumas danças, resolvemos ir embora. Apesar de já estar tarde não planejávamos irmos para casa tão cedo. Os meninos andavam pulando no meio da rua, cantarolando qualquer música, enquanto eu e Amy íamos atrás deles, rindo daquela situação constrangedora.
- Eles são tão idiotas. - Revirei meus olhos rindo.
- Mas você sentiu falta disso. - Ela riu entrelaçando nossos dedos. Uma atitude que me pegou de surpresa, mas ao mesmo tempo me deu um toque de felicidade por dentro.
- Não só disso. - Olhei para ela e sorri.
Ela entendeu o que eu quis dizer com aquilo. Eu senti a falta dela.

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8 Letters
RomanceApós cinco anos morando fora, Jonah volta para sua cidade natal. Anos antes disso ele se envolve, de forma virtual, com uma amiga de infância, Amy Jones, mas a distancia impede que algo realmente aconteça entre eles. Agora de volta a cidade onde cre...