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Sentada naquele gélido banco, naquela tarde fria de Outuno, numa capital, como habitual, sempre demasiado ocupada para se preocupar com o que à sua volta acontecia, Luísa reproduzia, na sua cabeça, as palavras que, para sempre mudaram a sua vida.

Cancro.

Estado terminal.

1 mês de vida.

Morte.

Quando deu por si, limpava as lágrimas que, não sabia que segurava.

Era a terceira vez que, nos seus vinte anos de existência, chorava. A primeira fora quando a vida lhe obrigada a dizer adeus aos seus pais, dois anos antes, num acidente de carro, cuja única sobrevivente fora ela. E, três meses antes, quando, mais uma vez, a vida lhe pregara uma partida e lhe obrigara a dizer adeus à sua avó paterna, após esta ter deixado a cidade de Manchester para, em Portugal, cuidar da neta.

Em algumas semanas, seria ela a dizer adeus à vida.

Não se sentia mal por isso.

Desde aquele dia que ela, desejava ter ido com eles.

A vida tinha sido tão melhor. Eram os seus constantes pensamentos.

O curso de Ciências da Comunicação, que frequentava, apesar da sua boa média, não lhe fazia feliz, pelo menos não mais. Terminara a sua relação com Afonso, um estúpido e arrogante estudante de Desporto, que conhecera numa festa académica. Apesar de ter demorado a perceber, fora um dos maiores erros que já cometera. Aprendera com ele, era isso que, no fundo interessava.
As amizades que, pensava, ter, fez-lhe entender que, na vida, os seus amigos e eram os seus dentes e, mesmo assim, eles mordem, como já dizia o ditado popular. Luísa, apercebera-se que, tinha conhecidos, não amigos.

Odiava sentir-se assim mas, já nada mais lhe satisfazia. Sentia falta da pessoa optimista que os seus pais educaram. Ela fora uma criança feliz. Muito.
Suspirou ao lembrar os seus progenitores. Deveriam estar tão desiludidos com ela.

- Desculpem. - murmurou para o nada, sentindo o vento levantar os seus cabelos, que lhe caiam pelos ombros.

- Dia mau? - escutou do seu lado.

Olhou o rapaz que sentara à sua beira, decidindo, assim, fazer-lhe companhia.

- Vida má. - ao invés, e quase como automaticamente, respondera.

Ao notar a falta de qualquer reação por parte do bonito moreno, esta olhou-o, não evitando corar ao observar que este já a mirava intensamente e, até mesmo de forma apreensiva.

Revirou os olhos internamente, querendo bater em si própria. Detestava lamentar-se. Não fora isso que lhe tinham ensinado. Não gostava de ver que, a notícia que recebera, horas antes, dominava todas suas atitudes e comportamentos.

- Dia má. - acabou por corrigir, querendo que o jovem esquecesse a sua anterior resposta. - Apenas isso. - num murmúrio, proferiu, focando o seu olhar no imenso rio.

- Sou o Rúben. - apresentou-se. A moça riu, pegando a sua mão estendida para a apertar.

- Eu sei quem tu és, jogador. - não escondeu tal facto. A sua expressão um pouco surpresa foi o suficiente para que a jovem sorrisse. - Não literalmente. - riram. - Apenas da televisão e por causa do meu estúpido ex-namorado. Digamos que ele era um grande adepto do Sport Lisboa e Benfica. Nem para escolher a equipa ele prestou. - deu de ombros.

Adeus Amor Adeus | Rúben Dias Onde histórias criam vida. Descubra agora