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28 dias.

Luísa riscou o calendário que, na parede da casa que herdara dos pais, residia.

Apesar de, por um lado, custar ali permanecer devido a todas as memórias que, cada canto de cada divisão, lhe traziam à mente, a jovem não conseguia desfazer-se daquela moradia. Aquela onde ela morara toda a sua vida, onde fora feliz com os seus progenitores e avó e onde encontrara conforto quando o mundo parecia querer conspirar contra ela.

Tal como está a acontecer agora, pensou.

Só que, daquela vez, ela não tinha qualquer apoio.

Ou talvez tivesse. Não evitou um sorriso ao lembrar o jovem e insistente jogador.

Rúben era uma lufada de ar fresco na vida de Luísa.

Ele era um espírito livre, que ansiava nunca deixar a vida passar-lhe entre os dedos, fazendo o melhor dela possível.

Rúben Dias era o completo oposto de Luísa Evans.

E, talvez fosse por isso que se atraíam tão bem.

Na noite anterior, após o jantar improvisado, mas divertido, do casal, o internacional português levara rapariga a casa, independentemente dos protestos da morena de que um recorreria aos serviços de um Uber ou táxi.

O atleta do Sport Lisboa e Benfica aproveitaria todas as oportunidades para poder estar com Luísa, mesmo sem saber que aquelas eram de ouro, exatamente, por serem as últimas.

Já com a sua caraterística persistência, o jovem da Amadora solicitara-lhe que mantivessem o contacto, pedido ao qual a luso-britânica cedeu, sendo aquela, também, a sua maior vontade, permitindo, assim, que Rúben pudesse adicionar o seu número aos contactos.

Mas apesar disso, estava dividida entre o coração e a razão.

Queria atirar-se de cabeça para o que quer que aquilo que partilhava com Rúben fosse mas, por outro lado, não era justo para o rapaz criar uma ligação com alguém que, dentro de dias, iria partir.

E, por essa mesma razão, e por muito que lhe estivesse a custar fazê-lo, Luísa ignorara a mensagem de bom dia do moreno, procurando criar uma distância que, sempre, deveria ter existido.

Ela não deveria ter permitido tão grande proximidade.

Tinha apenas uma única aula teórica, naquele friorento dia. Apesar de não mais se importar, pois não tinha tempo para o fazer, Luísa decidira continuar a frequentar a universidade.

De forma constante reproduzia, na sua cabeça as palavras de Rúben: "Se vais partir, é agora que tens de viver."

E a escolha era dela.
Ou viver miseravelmente ou aproveitar os restantes 28 dias de vida que tinha.
Não sabia o que fazer.

No lava loiça deixou a tigela dos cereais que tomara como pequeno-almoço e pegou a sua pasta escura, onde guardava os seus materiais necessários para o dia.

Deixou um leve carinho na cabeça do já enorme labrador, Patrick, homenagem em vida a Rui Patrício, ex-jogador da sua equipa do coração e o atleta preferido da sua mãe, em tempos.

Adeus Amor Adeus | Rúben Dias Onde histórias criam vida. Descubra agora