× 57 ×

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× Capítulo 57 ×

O natal passou, um ano novo chegou e logo já não tinha mais neve cobrindo boa parte das ruas e dos carros. A primavera já dava seu indício de que estava chegando, e com as últimas semanas Ana descobriu algumas coisas.

Com certeza era difícil ser mãe. Era mais que difícil uma gestação, era difícil o parto, a criação, era difícil dar educação, ensinar o certo e errado, proteger desse mundo e amar incondicionalmente. Deus, era muito difícil colocar uma vida no mundo.

Como as mulheres conseguem ter mais de um filho? Como elas conseguem ver outras mulheres tendo filhos e ainda ter os próprios?

Ana não teve escolha, mas ultimamente estava pensando: ela diria não para outra gravidez.

Às trinta e duas semanas estava enlouquecendo. Ela estava a flor da pele, até uma palavra gentil podia fazê-la querer matar alguém ou chorar rios de lágrimas. Geralmente, a fazia querer pegar uma faca, mas quando era com Christian, o drama aumentava e muitas frases como "você não me ama mais" apareceria entre as lágrimas.

Era fofa a forma como Christian apenas levava na esportiva, sabendo que era apenas os hormônios e que ele no lugar dela seria até pior. Então ele só escutava o que ela tinha a dizer e a convencia do contrario, geralmente aquilo demorava mais do que uma reunião com assessores do Japão.

Falar em Japão, foi um desastre. O homem tinha que viajar por seis dias para o país, e Ana parecia querer entrar em depressão do tanto que exagerou dizendo que ele queria se livrar dela.

Outra coisa havia acontecido durante as semanas: Carrick.

Ele havia ido a casa de Ana durante uma dado visitas de Grace - às quais Ana conseguia ser educada ao deixar tocar em sua barriga e responder as perguntas de que estava tudo bem e se alimentando bem - e pela primeira vez queria falar com Ana.

A garota sentiu o corpo inteiro se arrepiar com aquilo, mas acatou o pedido do homem e se surpreendeu quando o mesmo começou com as palavras que fizeram a garota se emocionar - por causa da gravidez, é claro.

_ Eu estou muito feliz que esteja bem, Anastasia - Carrick disse sincero.

Ana sorriu de lado e permaneceu parada. Não tinha bem o que responder àquilo. Ela estava com o coração da filha daquele homem, e também tinha o bebê dela na barriga - secretamente querendo ele para si.

O que dizer nessas ocasiões?

Não existia um manual, então ela apenas assentiu e concordou também quando o mesmo perguntou sobre o bebê estar bem, pediu desculpas pelo que a mulher fez - o que com certeza a não fora culpa dele mas ele deveria ter olhado melhor para tudo o que estava acontecendo - e pediu para tocar na barriga de Ana.

Ultimamente ela havia começado a sentir certo ciúmes de sua barriga, ainda mais que de repente pareceu que era uma obra publica desde que a barriga começou a crescer, todo mundo a tocava sem nem pedir permissão.

Mas Carrick parecia ansioso para tal ato, então a garota não tinha como não concordar. 

E ele tocou. O bebê não estava agitado, mas dormia de apenas um lado da barriga, o que fazia boa parte ficar maior que a outra, e Carrick podia senti-lo ali, quente e seguro.

Ana engoliu em seco quando viu as lágrimas formadas nos olhos do homem quando o bebê chutou de repente, provavelmente não gostando de toda a tocação, ele era metido, afinal.

_ Não chora não - Ana pediu, já sentindo sua garganta formar um nó. - Ele só dizendo 'oi'.

Carrick sorriu para ela.

_ Você é um anjo - ele disse. - E é perfeita para o meu filho. Eu sei que não fui presente, nem muito gentil com você, mas quero que saiba que estou feliz por você e Christian estarem juntos.

Ana não sabia o quanto queria ouvir aquilo até realmente ouvir.

Mais a noite, Carla havia saído, a garota não sabia se era realmente com alguma amiga pois sua mãe se arrumou demais, mas mesmo que não fosse, Ana não se importava, queria sua mãe feliz apesar de tudo. E com Ana sozinha em casa, Christian se prontificou a cuidar dela. Ele chegou a garota já estava na cama, em meio a muitas cobertas por causa do frio - se recusando a ligar o aquecedor - e tentando encontrar algum filme no Netflix. Acabou por se decidir por A Princesa e Plebeia, que tirou a atenção de Ana já no começo. Então ela apenas ficou falando com Christian, o que mais gostava de fazer, contou sobre Carrick, mesmo que Christian já soubesse que o pai havia ido vê-la.

Eles estavam deitados na cama da garota, era cedo, oito e alguma coisa, Carla avisou que só chegaria depois das 23h, então Ana intimou que Christian dormisse em sua casa.

Naquele momento, Ana estava com a cabeça no peito de Christian, já quase em seu sono, as luzes apagadas e só a TV iluminando junto da luz da lua atravessando a janela aberta.

_ Você está com muito sono - Christian sussurrou enquanto penteava seu cabelo com os dedos.

_ Desse jeito eu fico com sono mesmo. Filme besta - ela resmungou e fechou os olhos.

Christian riu baixinho e pegou o controle da TV, desligando-a em seguida.

Ana coçou os olhos e se virou, deitando no travesseiro dessa vez, o cobertor cobrindo-a até o pescoço.

Ela inspirou o ar e sentiu a sensação boa de apenas poder dormir naquele momento, sem precisar se preocupar com nada do dia seguinte.

_ Obrigada - ela pediu quando sentiu Christian abraça-la.

_ Por te aguentar? - ele riu.

Ela bateu de leve em seu braço e ele riu mais ainda.

_ Você não sabe apreciar quando eu sou fofa - reclamou.

_ Você é fofa o tempo todo, meu amor.

Ela sorriu e se virou de frente para o mesmo, a barriga entre eles de forma que estavam acostumados.

_ Está vendo, é por isso que eu quero te agradecer: obrigada por me amar. Você é tão perfeito. Obrigada por me amar nos meus dias ruins, quando estou agressiva e muito irritada, mandona, mimada e brava. Obrigada por me amar quando não sei o que fazer, quando não consigo dizer o que preciso e você simplesmente me diz. Obrigada por amar o meu jeito desastrado, por me amar quando falo sem pensar, quando o filtro cérebro-boca resolve desaparecer.

Christian tocou seu nariz com o indicador e então beijou a ponta, logo sua testa, suas bochechas e por fim sua boca.

_ Eu amo amar você.

Ana riu baixinho e tocou os lábios nos dele mais uma vez.

Era tão fácil amar Christian. Fácil como seu coração batendo.

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Coração que CuraOnde histórias criam vida. Descubra agora