Tédio e raiva era o que minha vida estava se resumindo desde a morte da minha mãe.
Tédio por que me tratavam como uma boneca de porcelana, que se me movesse quebraria.
E eu tinha raiva dos olhares de piedade que todos me lançavam sempre que eu saia de casa, meus padrinhos não faziam mais isso, mas dava pra perceber que estavam tão tristes quanto eu.
Mas não é disso que quero falar, quero falar das burradas que o filho do meus padrinhos aprontava, ele simplesmente não sabia ficar longe de encrenca e eu não conseguia não me preocupar com ele, afinal mesmo não sendo tão unidos quanto antes, eramos amigos.
Foi apenas por isso que sai de casa naquele dia, embora eu negue que isso para todos, inclusive para mim.
No fim de semana aconteceu simplesmente a maior tempestade de verão dos últimos anos, nem sei como a casa não foi alagada, a praia foi destruída.
Mas naquela manhã de segunda Travis resolveu que iria ajudar na limpeza, até ai tudo bem.
As horas passaram e pela janela do meu quarto, que dava pra o jardim da frente, vi as pessoas voltando pra casa e nada de Travis, olhei para céu, o sol estava se pondo, banhando o céu com suas luzes laranjas e cor de rosa.
Estava simplesmente lindo, "Na praia deve estar bem mais". Foi com esse pensamento que pulei a janela do quarto, atravessei a rua e procurei pela trilha que levava a meu destino, estava vazia, apressei o passo, afinal ainda quero ver o sol se pôr, "E se Travis não se meteu em confusão" meu subconsciente fez questão de me lembrar, balancei a cabeça, eu iria ver o sol se pôr, se encontrasse o cabeça de vento seria lucro.
"Eis o meu plano" pensei" vou sentar na areia, assistir o pôr do sol, olhar as estrelas surgirem, voltar pra casa"
Não cheguei a fazer isso, quando cheguei na praia a brisa maritima acariciou o meu rosto e bagunçou (ainda mais) meus cabelos, Fechei os olhos aproveitando o momento, foi só quando os abri que percebi o vulto perto da água, ele mexia em algo, não me levem a mal sempre fui curiosa então envés de me afastar ou me esconder, me aproximei cada vez mais, até destinguir a cena.
"Ele realmente se superou"
Eu havia descoberto o motivo do atraso de Travis, e daquela vez havia simplesmente se metido na maior encreca de todas.
O que tinha acontecido? Ele tinha encontrado uma garota, eu não tinha dúvidas, ela estava desmaida e parecia muito machucada, quanto mais me aproximava mais marcas e cortes eu via.
Travis estava tentando vestir a garota quando parei junto ao corpo.
— O que está fazendo? - indaguei
— O que acha?- me respondeu com outra pergunta, continuei olhando pra ele, eu sabia o que ele estava fazendo - tentando ajudar - ele mesmo respondeu, ainda tentando vestir a garota, mas ele simplesmente estava olhando para o mar e não pra ela.
—Funciona melhor se você olhar para o que está fazendo.- minha voz saiu mas debochada do que eu previ, ele me encarou de modo hostil- Sai pra lá, eu faço isso.
E ele realmente se afastou e virou de costas.
Me concentrei em vestir a garota, pensando no que tia Mary poderia fazer por ela, quando terminei de vesti-la com a camiseta de Travis, observei melhor o corpo quase morto em minha frente, estava ferida demais, um arrepio correu pela minha coluna ao imaginar quem seria capaz de fazer algo assim.
—Pronto- falei rápido demais, era provável que ela teria que ser levada no colo e só a camiseta de Travis não iria cobrir tudo, ele possivelmente iria ficar constrangido. Comecei a tirar o short de malha que estava usando por baixo do vestido curto, as primeiras estrelas estavam aparecendo no céu.
— O que você ta fazendo?
Ignorei a pergunta estúpida e comecei a colocar o short nela.
— Agora sim, pronta.
— Temos que leva lá ao hospital- Travis falou, ele só podia ser maluco ou retardado ou os dois(Eu desconfiava na terceira opcão) O fato de eu acreditar que ele jamais seria capaz de machucar uma pessoa a esse ponto, não significava que as outras pessoas iriam pensar do mesmo modo.
— Ta louco? - ele me olhou sem entender- Vão achar que você- apontei pra ele - Fez isso - apontei pra garota- E vão te prender. Vamos levar ela para casa, sua mãe vai cuidar dela.
Torci pra ele me escutar uma vez na vida e foi o que ele fez, pegou a garota nos braços, e começou a caminhar.
—Hey, a trilha deste lado está vazia e o caminho é menor- falei indo na mesma direção que vim - Você vem ou não?
Mas não ouvi se ele respondeu, sai em disparada em direção a nossa casa.
***
— Tia Mary! - gritei passando pela porta e indo em direção a cozinha- tia Mary.
— O que foi menina? O que aconteceu? você se machucou?
— Não, eu estou bem - respondo ofegante - Travis, Travis achou ...
— Meu Deus! O que ele aprontou dessa vez? - ela me interrompeu
— Nada, ele achou- parei pra tomar folego- achou uma garota, na praia, ela precisa de ajuda.
— Explica isso melhor Juliette.- definitivamente eu a deixei nervosa.
— Não dá, não agora, vem- puxei a pela mão em direção a saída e fiz um resumo do que aconteceu.
Chegamos na porta da frente no exato momento em que Travis subiu os degraus da varanda com a moça nos braços.
—Céus - Tia Mary exclamou- a leve pro banheiro e a coloque na banheira, vamos limpar essas feridas - o lado médica de tia Mary falou, e foi prontamente obedecida.
Entrei no banheiro logo depois dela e por pura implicância empurrei Travis para fora, afinal ainda eramos amigos e também tia Mary tinha mandado ele sair.
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My Life With A Mermaid
FantasyJuliette Harper jamais imaginou no que iria encontrar em uma caminhada pela praia. Emma nunca imaginou que poderia ter amigos em terra firme. Enfim nem tudo pode é como imaginamos.