Já era para Jill ter-se escondido atrás do rochedo branco. No entanto, com a excitação de assistir ao combate, esquecera completamente esse detalhe das instruções recebidas. De repente ela se lembrou. Deu meia-volta e desatou a correr, chegando ao rochedo apenas uns segundos antes dos outros. Então, por uma questão de instantes, aconteceu de todos eles estarem de costas para o inimigo. E, ao atingirem o rochedo, todos voltaram-se de uma vez, ainda a tempo de assistir a uma cena terrível e inesperada.
Um calormano ia correndo na direção do estábulo, carregando alguma coisa que chutava e se debatia desesperadamente. Quando passou entre eles e a fogueira, conseguiram divisar claramente a forma do homem e o que ele carregava: era Eustáquio!
Tirian e o unicórnio saíram em disparada a fim de libertá-lo. O calormano, porém, já estava mais perto da porta do que eles. Assim, antes que recobrassem metade da distância, o soldado já havia atirado Eustáquio lá dentro, batendo a porta às suas costas. Atrás dele já vinham correndo uns seis outros calormanos, que formaram uma barreira no espaço aberto na frente do estábulo. Agora não havia mais chance de chegar lá.
Mesmo naquela hora, Jill lembrou-se de manter o rosto voltado para o lado, bem afastado do arco. "Ainda que eu não consiga parar de chorar, não vou molhar o arco!", disse ela.
– Cuidado com as flechas! – gritou subitamente Poggin.
Todos abaixaram rapidamente a cabeça, puxando bem o elmo sobre o nariz. Os cães saíram rastejando na direção de onde vinham as flechas. Entretanto, embora algumas tivessem passando raspando por eles, logo perceberam que o alvo era outro. Grifo e sua turma entravam novamente em ação; só que, desta vez, atiravam friamente contra os calormanos.
– Vamos lá, garotos! – gritava Grifo. – Todo mundo junto! E com cuidado! Chega de morenos por aqui! Abaixo os macacos, os reis e os leões! Vivam os anões!
Pode-se dizer o que quiser sobre os anões, mas não que são covardes. Eles bem que poderiam ter-se safado para algum lugar seguro. No entanto, preferiram ficar e matar quantos pudessem dos dois lados, exceto quando ambos eram amáveis o suficiente para matar uns aos outros, poupando-lhes trabalho. Os anões queriam Nárnia só para eles.
O que eles provavelmente não levaram em consideração era que os calormanos estavam protegidos por cotas de malha, enquanto os cavalos não tinham proteção alguma. Além disso, os calormanos tinham um líder. A voz de Rishda Tarcaã ressoou do lado de lá:
– Trinta de vocês fiquem de olho naqueles tolos lá perto do rochedo branco. Os outros venham comigo, que eu quero ensinar uma lição a esses vermezinhos!
Tirian e seus amigos, ainda arquejando da luta e gratos por aqueles poucos minutos de descanso, ficaram parados, olhando, enquanto o tarcaã e seus comandados investiam contra os anões.
A cena era um tanto estranha. A fogueira, quase apagada, pouco iluminava, produzindo apenas um clarão avermelhado. Até onde se podia ver, a clareira das reuniões estava agora vazia, à exceção dos anões e dos calormanos. Com aquela luz, quase não dava para ver o que se passava. Pelo barulho, parecia que os anões estavam empenhados numa boa luta. Tirian conseguia distinguir a voz de Grifo soltando palavrões e, de vez em quando, a do tarcaã gritando: "Peguem todos quantos puderem, vivos! Quero eles vivos!" Mas a luta não durou muito tempo. Todos os ruídos desvaneceram. Então Jill viu o tarcaã voltar para o estábulo, seguido de onze homens arrastando onze anões amarrados. (Se os outros haviam sido mortos ou se alguns conseguiram fugir, nunca se soube.)
– Joguem-nos no santuário de Tash! – ordenou Rishda.
Os onze anões, um após o outro, foram atirados porta adentro no meio da escuridão, aos chutes e pontapés. Após fechar novamente a porta, o tarcaã fez uma reverência na direção do estábulo, dizendo:
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A Última Batalha | As Crônicas de Nárnia VII (1956)
FantasíaObra do inglês C.S. Lewis.