5 - CHEGA AUXÍLIO PARA O REI

1K 125 106
                                    

Seu sofrimento, porém, não durou muito. Quase no mesmo instante ouviu um baque surdo, e depois mais um, e à sua frente surgiram duas crianças. Momentos antes, a mata diante dele estava completamente vazia, e ele sabia que elas não tinham saído de trás da árvore, pois as teria escutado. Elas simplesmente haviam aparecido de lugar nenhum. Logo notou que usavam os mesmos trajes esquisitos e desbotados que as pessoas do sonho, e imediatamente percebeu que eram o menino e a menina mais novos daqueles sete.

– Caramba! – disse o menino. – Isso deixa qualquer um sem fôlego! Eu pensei...

– Rápido! Vamos desamarrá-lo – disse a menina. – Depois a gente conversa. E, voltando-se para Tirian, acrescentou: – Sinto muito pela demora. Viemos assim que pudemos.

Enquanto ela falava, o menino tirou uma faca do bolso e rapidamente cortou as cordas que prendiam o rei. E cortou até rápido demais, pois o rei estava com o corpo tão duro e entorpecido que, quando a última amarra se soltou, caiu para a frente sobre as mãos e os joelhos. E só conseguiu levantar-se novamente depois de uma boa massagem nas pernas dormentes.

– Ah! – disse a menina. – Foi você que nos apareceu naquela noite, quando estávamos todos jantando, há cerca de uma semana, não foi?

– Uma semana, gentil senhorita? ! – exclamou Tirian. – Mas... meu sonho me levou ao seu mundo há menos de dez minutos!

– É aquela costumeira confusão dos tempos, Jill – disse o menino.

– Ah, agora me lembro – disse Tirian. – Isso ocorre também nas histórias antigas. O tempo no estranho mundo de vocês é diferente do nosso. Mas por falar em tempo, acho bom irmos embora daqui. Meus inimigos estão bem pertinho. Vocês vêm comigo?

– É claro que sim – respondeu a menina. – Viemos aqui para ajudá-lo.

Tirian pôs-se de pé e os conduziu rapidamente colina abaixo, afastando-se do estábulo rumo ao Sul. Ele sabia muito bem para onde ir; entretanto, seu primeiro objetivo era alcançar as regiões rochosas onde não deixariam pista alguma. O segundo era encontrar alguma água que pudessem atravessar sem deixar rastro. Isso lhes custou cerca de uma hora, escalando e vadeando. Enquanto isso, ninguém tinha fôlego para conversar. Assim mesmo, de vez em quando Tirian olhava de soslaio para os seus companheiros. O fato de estar andando lado a lado com criaturas de um outro mundo deixava-o meio tonto; mas também fazia com que todas as antigas histórias parecessem muito mais reais do que nunca. Qualquer coisa podia acontecer agora.

– Estamos livres daqueles vilões por algum tempo, e podemos caminhar com mais facilidade –disse Tirian quando chegaram ao topo de um pequeno vale que descia à frente deles, entre pequenas moitas de bétulas. O sol já havia nascido e gotas de orvalho brilhavam em cada galho. Os pássaros cantavam alegremente.

– Que tal "bater uma bóia"? Quer dizer, o senhor, pois nós dois já tomamos nosso café – disse o menino.

Tirian ficou um tempão imaginando o que seria "bater uma bóia". Mas quando o menino abriu a bojuda mochila que trazia às costas e tirou lá de dentro um pacote mole e gorduroso, então ele entendeu. Tirian estava morto de fome, se bem que até aquele momento ainda não pensara nisso. Havia dois sanduíches de ovos cozidos, dois sanduíches de queijo e ainda dois outros com uma espécie de patê. Se não estivesse com tanta fome, Tirian nem teria ligado muito para aquele patê, pois é o tipo de coisa que ninguém come em Nárnia. Quando acabou de comer os seis sanduíches, já estavam chegando ao fundo do vale, onde encontraram um penhasco cheio de musgo de onde brotava uma pequena fonte. Os três pararam, beberam e lavaram o rosto.

– E agora – disse a menina, ajuntando os cabelos molhados na testa e atirando-os para trás –, não vai nos contar quem é você, por que estava amarrado e tudo o mais?

A Última Batalha | As Crônicas de Nárnia VII (1956)Onde histórias criam vida. Descubra agora