Tirian pensara – ou pelo menos teria pensado, se tivesse tido tempo para isso – que eles se encontravam dentro de uma pequena cabana de palha medindo uns quatro metros de comprimento por dois de largura. Na realidade, porém, estavam pisando na grama, tendo ao alto um profundo céu azul, e a brisa que soprava suavemente nas suas faces lembrava um dia de início de verão. Não muito longe deles erguia-se um bosque de árvores de folhas muito espessas, por baixo das quais se via o dourado ou o amarelo-pálido, o roxo ou o vermelho vivo de frutas nunca vistas neste nosso mundo. Ao avistar as frutas, Tirian teve a impressão de que já era outono. Mas havia alguma coisa no ar que lhe dizia que poderia ser, no máximo, o comecinho do verão. Todos começaram a caminhar na direção das árvores.
Cada um deles ergueu a mão para apanhar a fruta que mais lhe apetecia, e então todos pararam por um instante. As frutas eram tão lindas que todos tiveram o mesmo pensamento: "Estas frutas não são para mim... Certamente não podemos colhê-las!"
– Tudo bem – disse Pedro. – Eu sei o que todos estão pensando. Mas tenho certeza, absoluta certeza, de que não precisamos nos preocupar. Tenho a impressão de que nós chegamos àquele país onde tudo é permitido.
– Pois, então, mãos à obra! – disse Eustáquio. E todos começaram a comer.
E o gosto das frutas? Infelizmente, sabor não se descreve. Só posso dizer que, comparado àquelas frutas, o pêssego mais polpudo e fresquinho não teria gosto algum; a laranja mais suculenta pareceria seca; a pêra mais macia, daquelas de derreter na boca, ainda seria dura e fibrosa; e o abacaxi mais docinho e maduro seria azedo. E elas não tinham sementes, nem pedras, nem vespas. Depois de se provar uma fruta daquelas uma única vez, a sobremesa mais deliciosa do mundo inteiro teria gosto de remédio. Mas não dá mesmo para descrever. O único jeito de se saber como elas são é ir até esse lugar e experimentá-las.
Depois de comerem até se fartar, Eustáquio disse ao rei Pedro:
– Você ainda não nos contou como chegaram até aqui. Quando estava começando a nos dizer, o rei Tirian apareceu.
– Não há muito o que contar – respondeu Pedro. – Edmundo e eu estávamos em pé na estação quando vimos o trem de vocês chegando. Lembro-me de ter achado que ele estava fazendo a curva rápido demais. Outra coisa de que me lembro é que pensei como seria divertido se por acaso todo o nosso pessoal estivesse no mesmo trem.
– Seu pessoal, Grande Rei? – estranhou Tirian.
– É, meu pai e minha mãe, de Lúcia e de Edmundo...
– E por que isso? – interrompeu Jill. – Não vai me dizer que eles sabem alguma coisa sobre Nárnia? !
– Oh, não! Isso nada tinha a ver com Nárnia. Eles estavam de viagem para Bristol. A única coisa que sabia é que iriam naquela manhã. Mas Edmundo disse que era bem provável que eles estivessem naquele trem. (Edmundo era o tipo de pessoa que entende de viagens de trem.)
– E daí, o que aconteceu? – perguntou Jill.
– Bem, não é assim tão fácil de descrever, não é, Edmundo?
– Não muito – respondeu Edmundo. – Não foi nada parecido com aquela vez em que fomos atirados para fora do nosso próprio mundo por mágica. Houve um pavoroso estrondo e alguma coisa me atingiu violentamente; mas não doeu. Acho que, mais do que assustado, eu fiquei... bem, fiquei excitado. E então aconteceu uma coisa fantástica. Eu estava com um joelho machucado, por causa de uma partida de futebol. De repente notei que a ferida tinha sumido. E daí eu me senti muito leve. E depois... Bem, aqui estamos nós.
– Foi exatamente isso o que aconteceu com a gente dentro do trem – disse Lorde Digory, limpando os últimos resíduos de fruta da sua barba dourada. – Só que eu acho que você e eu, Polly, sentimos principalmente que o nosso corpo foi rejuvenescido. Vocês, jovens, não compreendem isso. Mas deixamos de nos sentir velhos.
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A Última Batalha | As Crônicas de Nárnia VII (1956)
FantasíaObra do inglês C.S. Lewis.