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As coisas finalmente começaram a tomar o rumo que deveriam ter seguido há muito tempo. Já faziam algumas semana que Eu e minhas garotas estavamos passando bastante tempo juntas. Dias antes, Andrea e eu conversamos decidindo que eu iria a revista apenas no horário da tarde, ficando com ela pela manhã no horário em que mais se sentia indisposta e que junto dela poderia ficar na cama até mais tarde.
Caroline e Cassidy estavam alvoroçadas com a ideia de uma garotinha em casa, não poupando esforços para no segundo dias de suas férias já estarem pela casa, mimando Andrea e principalmente protegendo-a.
Acabou que logo após o café da manhã daquele dia me rendi aos encantos de minha amada e junto dela subimos as escadas, deitando em nossa cama ainda bagunçada. Logo, o olhar franzido me mostrava nada de novo. As clássicas dores nas costas estavam cada vez mais frequentes e já não havia como oculta-las, Andrea agora se aproximando do sexto mês de gestação.
Virei minha garota de costas para mim logo depois de tirar sua blusa de pijama e deixei então que meus dedos provassem o mais novo gemido favorito dela vindo deles... Uma relaxando massagem e relaxamento de seus músculos. Confesso que no início, acabou que muitas vezes aquilo foi muito além de uma massagem, indo então para um nível que nós duas amávamos e acabávamos fazendo amor.
Naquela manhã parecia diferente. Andrea estava um tanto cabisbaixa, parecia cansada e deixei então que depois da massagem ela dormisse um pouco mais. Acabou que ela dormiu mais do que devia mas não quis acorda-la antes de ir trabalhar.
As meninas, que estavam na sala após nosso almoço, fizeram questão de deixar a refeição de Andrea já servida e quando me despedi delas me contaram que logo iriam pedir que Roy as levasse para comprar algumas coisas para a bebê.
Ver o entusiasmo das meninas com a chegada de nossa nova e pequena integrante da família era lindo e eu não tinha forças para negar aquilo a elas... E na verdade, nem queria negar.
Fui para o trabalho escondendo o sorriso daquela manhã ao ver os amores de minha vida reunidos na mesa do café e estava até ansiada com a possibilidade do jantar juntas também. Confesso que aquela nova rotina era a certa que eu devia estar seguindo a anos, mas que com tantas dores e necessidade de me isolar, neguei a todos e até mesmo as minhas meninas, que em momento algum mereciam aquilo.
Minha felicidade foi por água abaixo quando no meio da tarde meu celular tocou e era Andrea, com uma das piores notícias que recebi na vida.
Após acordar e ir almoçar, minha amada resolveu tomar um banho e como uma armadilha do traiçoeiro destino resvalou no box do banheiro e acabou sofrendo uma queda.
Eu mal consegui prestar a atenção no que se passava enquanto agarrei minha bolsa e correndo sai da revista. Os soluços de Andrea durante a curta chamada telefônica me deixaram em quase desespero e imaginar que mesmo com a dor que sentia e o sangramento iria pegar um dos carros e ir para o hospital sozinha, me deixou totalmente fora de mim. Praticamente obriguei que ela me esperasse e entrando no carro com Roy basicamente gritando o que havia acontecido pedindo que dirigisse o mais rápido possível, segurei as lágrimas na garganta e corremos para casa.
Quando junto de Roy entrei em casa, Andrea estava de pé apoiada a escada usando um roupão e uma toalha entre suas pernas.
-Onde está todo mundo?! -praticamente gritei. -Autorizei Amália para as compras da semana e a meninas saíram e ainda não regressaram... Me desculpe... Me desculpe...
A sensação que me invadiu naquele momento foi de estar apodrecendo por dentro e nada poder ser mudado.
-Oh meu amor... Vai ficar tudo bem, fique calma.
Roy rapidamente cumprimentou Andrea com um olhar tentando lhe passar calma. Agarrei sua bolsa em meus braços enquanto Roy erguia minha garota em seus braços e via entre as lágrimas as expressões de dor invadindo sua face.
Saímos porta a fora mais do que depressa, Roy deixou Andrea ao meu lado dentro do carro e rapidamente tomou o rumo para o hospital. Enquanto Andrea segurava o ventre com uma das mãos e a toalha entre as pernas com a outra e suas lágrimas e soluços me faziam sentir sua dor, liguei para a médica rapidamente e expliquei o ocorrido.
Quando chegamos ao hospital parecendo uma eternidade, uma equipe nos esperava e com cuidado tiraram Andrea do veículo colocando-a em uma maca.
Mais do que rápido, prenderam o braço dela com uma fita contra a cama móvel e logo a colocaram no soro, logo depois correndo para dentro do prédio a levando.
O que me deixou completamente furiosa foi negarem a minha entrada.
Ousei gritar, usei todas as minhas piores acusações mas nada adiantou, acabei cedendo quando uma das enfermeiras me disse que cuidariam e resolveriam tudo mais rápido se eu não estivesse lá.
Fiquei na recepção, liguei para minhas meninas dizendo para irem para casa e expliquei todo o ocorrido. Em pânico tanto quanto eu, queriam vir para o hospital e eu neguei aquilo -pelo menos naquele instante. Logo, fiz o mesmo informando minhas assistentes que estaria fora no resto do dia e que não saberia se voltaria para o resto da semana.
O peso de esperar estava me corroendo os ossos e nada eu podia fazer, até que a doutora saiu depressa da sala de emergencias e veio em minha direção.
-Como elas estão?
A doutora suspirou cansada, o suor se formando em sua testa e a preocupação me tomando em cheio.
-Andrea está estável, mas com isso acabou causando danos a placenta e ela acabou perdendo parte do líquido amniótico.
-E isso quer dizer que?
-Que a única opção aqui no momento é induzir Andrea ao máximo, nem que sejam algumas horas e monitorar o bebê sem intervalo, esperando o melhor momento para fazer uma cesárea.
O mundo pareceu desabar debaixo de meus pés.
-Santo Deus, ela ainda está entrando no sexto mês! A possibilidade de perder nossa...
-Miranda, respire. -Disse a médica segurando minha mão e me puxando para uma das cadeiras, sentando-se ao meu lado. -Até então houve uma fissura, a bebê está estável em um ambiente que não deveria estar. A perda de líquido não foi intensa e isso nos dá tempo. Um parto neste momento seria crucial para o desenvolvimento do feto, por isso vamos induzir, vamos monitora-las nem que seja algumas semanas para fazer uma cesárea no tempo limite, para que tenhamos uma grande probabilidade de sucesso.
-Uma grande probabilidade? Então não teremos segurança alguma?
-Infelizmente não, Miranda. Eu sinto muito, mas em lugar algum do mundo existe outra saída que não seja essa. Vamos adiar o parto prematuro o quanto pudermos.
-Já posso vê-la?
-Estamos fazendo mais uma ecografia transvaginal para segurança e logo permito sua entrada, ok?
Apenas balancei a cabeça em concordância enquanto tudo em mim pareceu parar de funcionar e deixei então que as lágrimas caisem.
A doutora voltou para a sala com Andrea e eu fiquei ali, sem saber o que fazer.
Liguei para as meninas, contei o ocorrido e pedi ficassem em casa e com o telefone colado nelas. Pedi a Roy que ficasse a total nossa disposição e ele foi mais uma vez uma âncora em meio aos meus problemas.
Ali então, uma das partes mais difíceis aconteceu: comunicar os pais de Andrea.
Quando ela contou a eles da gestação foi um horror. Ouviu xingamentos, palavras de total incompreensão e acreditaram aquilo ser loucura. Porém não demorou muito para que aceitassem a ideia da filha e que amassem aquele bebê tanto quanto nós.
Ambos choraram com a ligação, informaram estar pegando o próximo vôo e que assim que chegassem viriam para o hospital.
Talvez, naquele momento, todos os meus erros de uma vida de sentimentos ocultados se voltaram contra mim e dor por dor, eu estava arcando com o tempo e pagando cada um deles. Exatamente, cada um.

Desalmada  [CONCLUÍDA]Onde histórias criam vida. Descubra agora