Capítulo 01

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Eu acredito que o amor possa nascer do nada. Em qualquer circunstância, em qualquer momento. Eu acredito que o amor é como o gelo que fica dentro do plástico dos hambúrgueres congelados, que assim que você abre, e ele cai sobre qualquer superfície, simplesmente derrete.

O amor é assim, simplesmente surge e por mais tentemos fugir, em algum momento ele aparecerá e mudará nossa vida para muito melhor, mesmo que no fim nosso coração seja partido.

Meus olhos são castanhos, mais para claros do que para escuros, não sei da onde surgiu esse tom já que meus pais têm olhos tão escuros. Talvez seja porque um dos meus avôs tinha olhos verdes e com essa mistura maluca que é nossa genética meus olhos tenham ficado dessa cor. Aproveitando gostaria de dizer que em 99% dos casos se o pai e a mãe tem olhos azuis, obrigatoriamente os filhos também terão, algo importante para ser dito e questionado.

— Eu não vou na festa, porque eu preciso estudar — neguei o convite de Cláudia pela milésima vez.

Cláudia minha melhor amiga, mestiça, mas se existe um estereótipo que mestiças são sempre quietinhas e inteligentes, nesse caso, não funciona. Ela é totalmente o oposto disso, nada estudiosa, nada quietinha, na verdade nem sempre entendo como somos amigas, afinal a vida nos levou para caminhos tão diferentes. Eu me tornei a garota mais estudiosa da sala, com notas excelentes e que nunca esquece uma lição e ela se tornou: ela.

— Eu preciso de você — disse tentando me fazer cair em seus encantos. Não precisei nem perguntar o porquê, eu sabia que se tratava de Caio. O menino, que nem pode mais ser considerado um menino, afinal ele é três anos mais velho que a gente, aquele tipo "bombado" da academia, estudou em nosso colégio e eu nem sei como conseguiu terminar a escola, além disso, já ficou com quase todas as garotas do ensino médio pelo menos, apesar de já gostar de Cláudia e demonstrar tão fato desde que ele já era do ensino médio e nós ainda do ensino fundamental.

— Tenho medo dele e sem contar que se eu falar para minha mãe que você vai ela deixa eu ir — explicou e eu ri. Ela tem medo dele, mas ao mesmo tempo gosta de um garoto que poderia estar na faculdade se sentir atraído por ela.

— Ela deixa você ir — afirmei sem a menor dúvida. Se o meu pai afasta todos os meninos de perto de mim por ser delegado, a mãe de Cláudia é totalmente liberal.

— Eu quero que você vá — pediu.

Por um momento, meus ouvidos pararam de ouvir Cláudia e começaram a ouvir meus pais brigando novamente, eu já tinha feito de tudo para que eles parassem, tentei fingir não me importar, tentei mostrar que me importava, mas não adiantava. Eu não aguentava mais e então só desejei que não fosse a pior escolha da minha vida.

— Eu vou — respondi e ela parou de implorar.

— Sério? — perguntou pasma, eu gargalhei.

— Acredita logo antes que eu mude ideia em — comentei já me sentindo mal por ter aceitado. Eu sou o tipo de garota que fica em casa lendo livros de romance malucos, não as que vivem tais romances.

— Te pego às nove. Beijos — disse e desligou.

— Droga — reclamei e me olhei no espelho — não foi a sua melhor escolha.

Falando sobre escolhas, é culpa do meu irmão meus pais brigarem assim. Meu irmão nunca foi grudado com a família, nunca amou meus pais de verdade e desde que ele simplesmente foi embora eles nunca mais pararam de brigar, coisas que antes eles nem se incomodavam, agora vira uma guerra. Meus pais amavam meu irmão, não sei como ele foi capaz de fazer isso, cada vez que escuto as brigas deles, eu fico com muita raiva.

Fui até o quarto de meus pais onde a discussão acontecia.

— Eles são da minha família — rebateu minha mãe prendendo seu enorme cabelo cor de mel em um rabo de cavalo.

— Eles não precisam viajar com a gente — disse meu pai.

Entrei no quarto.

— Eu vou para uma festa — falei em tom mais alto. Eles ficaram em silêncio. Sabia que funcionaria pelo menos por hora eles não brigariam mais.

Sai do quarto sem dizer mais nenhuma palavra e sem deixar eles dizerem. A primeira dúvida apareceu em minha mente assim que entrei em meu quarto. Como deveria me arrumar para uma festa daquele tipo? No fim, eu escolhi as roupas que eu estava acostumada com o foco em não chamar a atenção. Uma calça vinho, uma camisa branca e uma sapatilha, eu vestia isso em quase todos os lugares, não tinha como errar. Peguei minha bolsa e um livro na estante (Uma dica: nunca vá a uma festa sem um livro). Era simples, eu iria chegar com Cláudia, achar um canto e ficar lendo até que desse para ir embora.

Me sentei no sofá ao lado de minha mãe que assistia televisão.

— Onde vai ser a festa? — perguntou sem nem me olhar.

— Na casa dos Gomes.

— Você vai com a Cláudia? — perguntou agora se virando para mim.

— Sim Helena vai nos levar — respondi com muita calma, mas eu estava super nervosa por dentro e quase desistindo de ir.

— Você volta que horas? — perguntou daquele modo que ela como mãe tem a obrigação de fazer. — Quero você em casa as meia noite, no máximo — ordenou meu pai surgindo do escritório. — Deixa a menina ser feliz — repreendeu minha mãe se virando para ele.

— Sem bebidas, sem drogas, sem paixões, sem gravidez, sem amassos, sem... — começou falar, falar e falar. E eu interrompi.

— Pai chega — reclamei cansada com as centenas de regras que ele adorava impor, mas que eu nunca desobedeceria porque queria mais que isso.

Helena buzinou.

— Ufa! — comentei e me levantei agradecendo por Helena ter chegado e me poupado de ouvir pela milésima vez as regras do meu pai. —Tchau pessoal. Amo vocês.

— Tchau querida — disse minha mãe com um sorriso no rosto parecendo um tanto orgulhosa.

Meu pai apenas me encarou, com aquele olhar dele que faz as pessoas serem pegas na mentira, mas eu não sou dessa laia, sou apenas a filha dele então não tenho medo.

— Quero você meia noite em casa ou vou te buscar — comunicou. Fingi ignorar, mas tanto eu, como ele, sabíamos que eu obedeceria, pois meu pai não se importaria em estragar uma festa e eu não queria ser mais uma vez lembrada como a filha do delegado.

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Meu Crush é um Zé DroguinhaOnde histórias criam vida. Descubra agora