Capítulo 05

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Meu coração quase parou, eu não podia responder essa pergunta, primeiramente porque fui ensinada que não podia contar que o trabalho do meu pai era esse e segundo porque não queria assustar o garoto.

— Ele cuida de vidas e as protegem — comentei de forma desinteressada para tentar evitar mais perguntas. No fim, os dois estavam fugindo de responder as perguntas ou se abrir para o outro.

Victor estacionou o carro na frente da casa amarela.

— Obrigada pela carona — agradeci. A boca dele se abriu como se fosse dizer algo, mas desistiu. — Tchau — falei e por mais um momento de loucura da minha parte me inclinei para que pudéssemos nos despedir com um beijo no rosto.

E foi isso que aconteceu. Victor entendeu o que queria, talvez nunca mais estivesse perto dele dessa forma e precisava encerrar essa noite em grande estilo (em grande estilo para mim, talvez até bobo para o resto das garotas).

Durante um segundo nossos rostos se encostaram, eu pude sentir como ele era quente e como seu cheiro era bom.

Meu coração disparou como se estivesse fazendo um grande esforço físico.

— Tchau — se despediu e soltou aquele sorriso dele.

Desci do carro e não olhei para trás. Não podia olhar, queria ser estilo Margot de "Para Todos Garotos que Já Amei" quando vai embora para fazer faculdade. Ela não olha. E Noah Flyn de "A Barraca do Beijo" também não olhou para Elle quando foi embora para faculdade. Eu não posso ser a que olha. Na verdade, se eu olhar eu mostro fraqueza, será que Victor conseguiu me conquistar? Que idiotice, é óbvio que não. Sou mais esperta do que isso. Ou talvez, não.

Eu estava a um passo de casa, quando ouvi a voz dele.

— Cristal — chamou. Nada importava, porque agora eu tenho que olhar.

— Oi — falei me virando para olhar para ele.

— Quando vamos poder conversar mais? — perguntou.

Eu o olhei rindo surpresa com sua pergunta. Eu deveria ser capaz de não conversar com Victor, mas ele era melhor do que eu imaginava.

— Acho que quando quiser — comentei. Ele sorriu e concordou com a cabeça.

— Boa noite — desejou.

— Boa noite — falei e soltei o último sorriso antes de me virar e finalmente partir.

Meu pai estava me esperando no sofá bem perto da porta.

— Atrasada — anunciou assim que eu entrei.

— Oi pai — falei tentando conter o meu sorriso.

— Como foi a festa? — perguntou se levantando e vindo até mim com a arma na mão.

— Você tem que deixar essa arma guardada — afirmei.

— Algum garoto tentou algo com você?

Eu ri, chegava ser engraçado que meu pai não enxergasse o que todo mundo enxergava, que eu não era o tipo de garota que os garotos tentam algo.

— Não pai — neguei.

— Você tentou algo com algum garoto? — perguntou com uma cara mais séria ainda. E então eu gargalhei, era menos ainda o tipo de garota que tenta algo com os garotos.

— Pai me poupe — disse e sai andando para o meu quarto.

Passei no quarto deles e dei um beijo de boa noite na minha mãe.

Mandei algumas mensagens para Cláudia e tentei ligar para ela, mas provavelmente ela estava muito ocupada já que não me atendeu, porém deixei avisado que eu tinha vindo para casa.

Queria dizer que pegar no sono foi a coisa mais fácil que fiz, mas estaria mentindo. Não foi fácil, não foi nada fácil. Eu não sei, mas sentia que algo havia mudado. Ideia de menina iludida. Uma menina iludida que não quer namorar e que não pode, pois precisava passar na faculdade de Medicina.

Como se apaixonar por Victor ainda fizesse algum sentido... Não faz porque ele nunca olharia para alguém como eu e também porque ele já beijou todas as garotas do condomínio e isso é nojento. Não sou apenas mais uma, vou achar alguém que seja tão único quanto eu. Ou espero achar.

Nada disso importa, nada disso faz sentido. Eu só preciso dormir, pois amanhã tenho um monte de coisas para fazer e pensar em Victor está fora de questão.

Sobre a pergunta dele: Quando vamos conversar mais? A resposta correta que eu deveria ter dado: Nunca, nós não somos do mesmo mundo.

Tipo Carina Jórdan e Leonardo Cardoso do livro Me Apaixonei Pelo Meu Sequestrador, apesar de eu não ser a garota mais rica da elite de São Paulo e Victor não ser um criminoso. Ainda somos de mundos diferentes.

Dormi depois de tanto pensar sobre coisas que nunca iriam acontecer, pensar sobre Victor e como meu corpo ardia só de pensar em estar perto dele novamente.

Acordei e o sol já raiava. Raiava como se fosse meio dia, tomei consciência de que poderia ser.

Me levantei e fui em busca de algo para comer, porque no fim só tinha me alimentado com meia dúzia de coxinhas.

Minha mãe já preparava o almoço na cozinha.

— Ontem a noitada foi boa em — comentou rindo. Eu dei um sorriso.

— Pior que foi... — admiti sorrindo.

Eu não deveria estar feliz por estar pensando em Victor, não deveria sorrir por me lembrar dele, mas nem sempre eu faço o que devo.

— Huum e essa carinha ai? — questionou me olhando desconfiada.

— Não é nada.

Ela me olhou com o olhar acirrado.

— Só foi legal de forma geral — afirmei.

— Sem bebidas, drogas e gravidez?

— Totalmente — concordei. Ela sorriu.

— Ótimo, mais uma filha que deu certo na vida. — Ela voltou olhar para a panela. Deu para sentir um tom de ironia. Voltamos ao assunto: Meu irmão.

Ele é um chato, sem noção alguma, mas faz o que ama e largou tudo para ser feliz, só que essa felicidade dele tem custado o casamento dos meus pais e eles me olham como se eu fosse a melhor segunda chance da vida deles.

Eu sempre me cobrei muito para ser como eles queriam, mas agora está ficando cada vez mais difícil.

Comi uma bisnaguinha com requeijão enquanto minha mãe contava sobre alguma coisa que nem me lembro, não fui capaz de prestar atenção. Minha cabeça estava viajando.

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Oie! Obrigada por ler!

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Os capítulos serão publicados todos os dias às 08:00!

Lembrando que o lançamento do livro físico será dia 02 de Julho às 19:00 na Bienal de São Paulo.

Beijos!

Meu Crush é um Zé DroguinhaOnde histórias criam vida. Descubra agora