Capítulo I

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— O que significa a palavra "sexo"? — perguntou uma Maluzinha de não mais que dez anos de idade.

— Boas garotas não fazem esse tipo de pergunta, Maria Luíza — respondeu a madre, recostando-se na poltrona. Nervosa, ajeitou os óculos de armação grossa sobre o nariz, perguntando-se onde aquela menina ouviu aquela palavra.

— Mas eu sou uma boa garota — Malu rebateu.

— Então não me faça mais perguntas e esqueça essa palavra. Boas garotas não falam ou sequer pensam nessa palavra — a madre deu a conversa por encerrada e abriu a primeira revista que encontrou, escondendo as bochechas coradas por trás dela.

Maria Luíza jogou-se no sofá, emburrada. Era uma criança curiosa e estava sempre ansiosa para descobrir coisas novas, como a tal palavra "sexo" e seu significado.

— Onde você ouviu essa palavra, para início de conversa? — perguntou a madre de repente, afastando a revista do rosto para encarar a mais nova.

— Na tevê, madre B. — a menina respondeu sorrindo inocentemente e a madre franziu o cenho, certa de que ela estava mentindo.

Malu estava à caminho do refeitório naquela manhã quando viu Selestine, uma das funcionárias do orfanato, conversando com o homem gentil que fora chamado para consertar um dos banheiros do convento, logo ao lado.

Eles estavam cochichando bem próximos um do outro e Malu, como uma boa curiosa, se aproximou de mansinho para ouvir sobre o que falavam com tanto entusiasmo. Mais tarde ela descobriria que esse estranho entusiasmo era tesão e tudo o que o casal queria naquele momento era privacidade e um quartinho qualquer para transarem em paz.

Selestine era jovem, tinha por volta de vinte e três anos, era loira e muito bonita. Era também uma das únicas funcionárias dali que tinham paciência para Maria Luíza e suas infinitas perguntas.

Aos dez anos Malu não ficou chocada quando a moça mais velha respondeu que sexo era uma coisa muito legal que adultos fazem quando se gostam, que ela estava muito ansiosa para encontrar aquele moço simpático após o trabalho e que, sim, eles fariam muito sexo.

Aos dezessete, Malu se perguntava e não conseguia entender como Selestine transou com aquele cara. Quer dizer, na sua opinião, o cara era até bem apessoado, mas não era nada demais. Entretanto, por mais bonito que ele fosse, Malu tinha certeza de que se alguém algum dia chegasse para ela e perguntasse "quer fazer sexo comigo? ", como aquele cara fez com a sua amiga, assim mesmo, sem rodeios, meios termos ou um convite para um café, sua resposta certamente seria um "não, vá se foder" bem redondo.

Que cara chega em uma garota que acabou de conhecer e pergunta se ela quer fazer sexo com ele? E pior, que idiotice essa garota tem na cabeça para aceitar um convite ridículo desse? Pobre Selestine.

Onde ficava o romantismo? Nem um jantar antes, cara? Flores, bombons? Nem mesmo um beijo, uma bitoquinha só, nada? Pelo amor! Malu não conseguia entender.

Selestine era bonitona, tinha um cabelão loiro, olhos claros, carinha de anjo e um corpão cheio de curvas, mas só pegava caras tipo o Zé do Caixão. Ela deveria ter algum complexo ou doença mental muito grave que pudesse explicar seu vasto e terrível currículo de homens. Era a única conclusão que podia imaginar.

Ou talvez fosse míope e não soubesse disso. Talvez a amiga tenha vivido por todos aqueles anos enxergando sombras distorcidas e beijando sapos ao invés de príncipes. Ou talvez ela estivesse sobre efeito de macumba ou algum feitiço, tipo aquele cara de um filme que passa na Sessão da Tarde mil vezes por ano.

O Amor é Cego conta a história de Hal, um idiota que segue à risca o conselho de seu pai e apenas se interessa por mulheres que tenham um físico perfeito. Bem coisa de babaca mesmo e, pior ainda: babaquice que passou de pai para filho.

POR AMAR VOCÊ - SÉRIE JONES | LIVRO I [SEM PREVISÃO] Onde histórias criam vida. Descubra agora