Pata de Sombra observava o território enquanto caminhava. Estava sendo testada pela primeira vez com uma tarefa simples: deveria trazer o máximo de presas que poderia pegar até o fim do dia para ajudar na alimentação do clã durante o inverno que se aproximava rapidamente. A parte boa deste teste é que ninguém estava observando ela, o que poderia lhe permitir mais concentração durante a tarefa. Ela bufou quando percebeu que ninguém a observava por não ser muito promissora, mas tentava não pensar nisso: estava feliz se voltasse sem arranhões e com alguma comida para o acampamento.
Ela já andava fazia horas. Desde que saíra até agora, só havia pego algumas pouquíssimas presas: umas quatro no máximo. Pata de Sombra fez uma careta e parou para sorver o ar, na esperança de encontrar alguma presa. "Ótimo. Agora até as presas estão querendo me sabotar" pensou a gata, amarga, ao não sentir muita coisa interessante. Ela se preparava para continuar quando ouviu um farfalhar de folhas não muito distante dalí. "Ótimo, mais uma para a pilha" pensou, enquanto se aproximava com cuidado para não fazer barulho. Não demorou muito para um apetitoso camundongo se mostrar por entre as folhagens. Pata de Sombra se preparou para pular no animal quando um vulto esbranquiçado pulou no seu alvo primeiro e correu para o arbusto com a presa. Pata de Sombra tropeçou com a surpresa e correu atrás, avistando uma pelagem branca por entre as folhas. "Pata de Luz só pode estar brincando" pensou.
— Hey! Esse camundongo era meu! — disse, arrepiando seu pelo. — Serpente Cinzenta não lhe atribuiu um trabalho importante, para variar? Posar de herói para o clã, talvez? Eu estou sendo testada aqui, ok? — disparou, golpeando o galho que bloqueava a visão da cara do felino. Assim que o galho estralou e voou para longe, ela congelou ao ver que não era com seu irmão que falava, mas com um outro gato.
O felino esbranquiçado saiu do arbusto com o camundongo na boca e sentou-se onde ficava totalmente visível. Era um gato mais ou menos da mesma idade que Pata de Sombra, com algumas manchas pretas pelo corpo, possuía olhos azuis de um lado e amarelo do outro, algo que a aprendiz nunca vira antes.
— Desculpe, não sabia que era seu — desculpou-se o macho, soltando o animal no chão. Pata de Sombra fez uma careta ao ver o animal todo babado. — Eu não tinha a intenção de roubar. — completou.
Pata de Sombra queria se golpear na barriga. Perdera uma presa, falara com um completo estranho pensando que era seu irmão, e ainda estava recebendo a caça, como se não fosse capaz de pegar uma por si só.
— Você não é daqui. — disse a aprendiz, secamente, tentando se distrair de sua vontade de se repreender. — cheira estranho. Nunca senti o seu cheiro antes. — completou
— Huh? — disse, adquirindo uma expressão confusa.
— É como se você fosse do Clã do Sangue — disse ela, se inclinando para sorver melhor o cheiro do desconhecido.
— "Clã... do Sangue"? — repetiu, ainda mais confuso.
— É, mas isso não faz sentido. Gatos do Clã do Sangue possuem coleiras de ossos, e são psicopatas assassinos. Nunca pediriam desculpa ou mesmo devolveriam uma presa — disse, se ajeitando, enquanto apontava para o camundongo babado aos pés do felino esbranquiçado. Ele seguiu o olhar até o animal no chão, e depois olhou para o próprio pescoço, como se algo estivesse preso alí.
— Colar de ossos...? — repetiu. Pata de Sombra fez uma careta, incomodada pela lerdeza do desconhecido. — Ah! Entendi! Bem, vou receber a minha em breve. É um ritual de passagem de aprendiz para gue-- — Pata de Sombra já pulava em cima do estranho, furiosa.
— Você é mesmo do clã do sangue?! Eu fui tão tola... O que faz em nosso território? Responda, AGORA! — disse ela, chicoteando a cauda. A vontade se atacar crescera ainda mais, e ela mordeu a língua de leve para satisfazer parcialmente tal desejo.
— E-eu venho para a floresta de vez em quando para dar uma volta... É muito mais calmo do que aquele lugar cheio de felinos mal-encarados e coleiras pontudas. Estamos passando fome, então eu aproveitei para pegar um camundongo no caminho, mas aquele foi o único que eu cacei, e já te devolvi. Eu juro! — disse ele, chocado pela súbita reação da gata. Ela o encarou por alguns momentos, e saiu de cima dele, ameaçando-o com uma pata.
— Me ataque e eu quebro a sua cara — disse ela, agressiva. O felino esbranquiçado encolheu um pouco, como se estivesse se protegendo de um futuro ataque.
— Ok, ok, eu não vou te atacar! — disse ele.
— Ótimo. Volte para o seu clã fedorento e não roube mais comida. — disse ela, apontando para a cerca que dividia seu território do dos Duas-pernas. O felino esbranquiçado seguiu o olhar de Pata de Sombra, observando o local com desânimo.
— Olha, eu... Eu não poderia andar um pouco? A natureza me acalma... — disse ele, voltando o olhar para ela com um sorriso sem jeito. Ao ver a cara fechada da gata escura, ele desfez a expressão. Ela não iria mudar de ideia. — Disse que estava sendo testada... O que isso quer dizer? — disse, tentando enrolá-la
— Quer dizer que eu tenho trabalho a fazer e você está me atrasando. — disse ela, irritada.
— E-eu posso ajudar! Sou útil! Eu prometo que não te ataco! — disse ele, desesperado para não voltar à cidade. A gata bufou e lançou olhares ao seu redor.
— Você me segue, calado, quietinho. Tente me atacar ou fugir e eu te levo direto para o meu clã, onde você vai apodrecer na prisão, ouviu bem? — disse ela, se inclinando para encarar o felino esbranquiçado de perto, levantando uma garra para ele. Este fez que sim com a cabeça, intimidado. — Então vamos. — disse, seca, enquanto se virava para seguir seu caminho. O macho foi atrás, pegando o camundongo com a boca.
— Então... Eu sou o Hip. Você é...? — disse, a voz abafada pelo camundongo em sua boca.
— Pata de Sombra. Agora QUIETO. — disse, apenas.
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Gatos Guerreiros - Oneshots
FanfictionEncante-se com estas histórias curtas sobre OCs de Gatos Guerreiros. Descubra o que uma mãe fez para proteger seus filhotes de maus tratos, o sacrifício de uma líder apaixonada e muito mais!