Thalita
Quando o apagão aconteceu Rafael mandou chamar todos em cada quarto. Eu adoro meu diretor mas naquele momento só queria bater nele por estragar meu momento com Gabie. Por um instante achei que nós ficamos mais íntimas. Dei mais um passo na nossa amizade demonstrando que gosto dela, isso me deixou feliz. Devagar estou conhecendo um pouco mais dela.
Enquanto descia as escadas com meus colegas, tentava me recuperar do que acabara de acontecer. Por algum motivo aquilo mexeu comigo. Gabriela e eu não nos encaramos, e não pela falta de energia. Parece que se a gente conectar nosso olhar novamente seria difícil controlar os atos. Apesar de tudo, no meio daquela escuridão, só desejei ter aqueles olhos verdes me fitando novamente.
- Fiquem calmos! — Rafa tentou chamar atenção. A maioria das pessoas na casa reclamavam sem parar. As únicas coisas que tínhamos iluminando o ambiente era a lanterna dos celulares. — A queda de energia foi causada por danos no sistema de transmissão de energia elétrica. Um acidente acabou afetando a cidade toda, mas fiquem calmos pois a previsão é que resolvam até essa madrugada. Por favor não deixem isso atrapalhar nossa viagem. Podemos fazer um jantar a luz de velas, acender uma fogueira lá fora e conversar.
- Gostei da idéia. — concordei na hora. Primeiro porque estava com fome e queria jantar logo, segundo que a idéia de ter algo nos aquecendo naquele frio era boa, apesar de que alguns há minutos atrás tudo dentro de mim se encontrava quente.
A produtora colocou o jantar sobre a mesa, durante o tempo que Rafa espalhava velas pela casa. Nós sentamos juntos e conversamos enquanto comíamos. O clima estava divertido. Até que quando terminamos nos reúnimos lá fora. Os meninos tentavam fazer uma fogueira, depois de várias tentativas finalmente conseguiram.
E aqui estávamos nós contando histórias engraçadas ao redor da fogueira. Quando pediram para Gabie falar um acontecimento cômico de sua vida ela tentou desconversar, eu sabia que ela não gostava de se expor então tentei mudar de assunto. Sugeri que cantássemos uma música, mas meus amigos insistiram pra ouvir somente minha voz portanto os atendi.
Ela me hipnotizou
Quase que paralisou
Deixou marcas em meu rosto mesmo sem batom
Se ela me chama eu vou
O que ela pede eu dou
Desaprendi a dizer não
É toda alto astral
Sereia de água e sal
O samba enredo do meu carnaval
É brincalhona até falando sério
Um livro aberto cheio de mistérios
Eu vou seguindo os seus passos
Descobrindo fatos sobre você
Escalando alto pra te merecer
Surfando as ondas do seu cabelo
Sua beleza é um exagero
To jogado aos seus pés tipo Cazuza
Vidrado nos seus olhos de Medusa
Ela me hipnotizou
Quase que paralisou
Deixou marcas em meu rosto mesmo sem batom
Se ela me chama eu vou
O que ela pede eu dou
Desaprendi a dizer não
Agradeci tímida aos elogios. Combinamos de cantar juntos a próxima canção. Pelo canto do olho vi Gabie mexer nos dedos em um sinal claro de narvosismo.
- Tenho que ir pro quarto, estou cansada. Boa noite gente — A loira praticamente correu para dentro da casa e eu fui atrás, sem me importar com os olhares confusos que recebi.
Fechei a porta do quarto ao entrar. Gabriela estava de costas para mim, com o rosto escondido na palma das mãos um pouco mais a minha frente. Fui me aproximando dela e coloquei minha mão em seu ombro esquerdo. Com delicadeza, virei seu corpo lentamente para ficar de frente ao meu. Tirei as mãos que cobriam sua face e com o dedo indicador levantei seu rosto. Nossos olhares voltaram a se conectar. Suspirei alto. Nem as velas do quarto eram capazes de me iluminar como aquele olhar.
- Por que você fica fugindo de mim? — perguntei em um sussurro. A vi engolir o seco. Tentou dizer algo várias vezes mas parecia não ter resposta pra aquela pergunta. — Fica tranquila, não quero invandir teu espaço, só me preocupo contigo.
Resolvi me afastar, essa proximidade estava me causando sensações entranhas. Não conseguia pensar direito. Fui ao frigobar que havia no quarto procurar pela bebida mais gelada - o que era difícil pois o mesmo estava desligado há um tempo. Acabei optando por um suco de abacaxi com hortelã.
- Eu gosto da sua companhia. — falou de repente. Levei um susto, cheguei a me engasgar com o suco. — Obrigada por não desistir de mim mesmo eu sendo totalmente fechada.
- Esse teu jeito misterioso é um charme. — pensei alto. Me xinguei mentalmente por ter dito aquilo. Senti meu rosto esquentar no mesmo momento. Provavelmente Gabie estava corada assim como eu. A falta de iluminação ajudava a esconder nossos rostos evergonhados.
- Você acha? — questionou quase inaudível. Cheguei perto novamente. Talvez não fosse uma boa idéia mas naquele momento já não conseguia raciocinar. Meu corpo pedia pra ter contato com o dela. Me aproximei de seu ouvido como se fosse contar um segredo. Enfraqueci ao sentir seu cheiro, tão bom.
- Deixa eu decobrir um pouco mais de ti, Gabie. — senti o corpo dela arrepiar. Nem o sabor gelado da bebida era capaz de acabar com quentura que dentro de mim se fazia presente.
Me distanciei de seu ouvido para que nossos rostos se aproximassem, de um jeito que nunca aconteceu antes. Estávamos tão perto que nossos narizes se encostavam. Nossas respirações aceleradas. Necessitava de mais toque. Pousei minha mão trêmula em seu pescoço, querendo trazê-la para mais perto. Nosso lábios roçaram. Eu já não aguentava mais de vontade de beija-la então o fiz. Sua boca molhada e macia acariciava a minha. Só o estalo do beijo dava pra escutar no quarto. Virei um pouco sua cabeça afim de explorar mais sua boca. Pedi passagem com a língua e ela logo cedeu. Estava amando as sensações que Gabie me fazia sentir apenas um beijo. Quando o ar faltou nós paramos, dei um selinho antes de me afastar. Não pude conter um sorriso ao perceber que Gabriela gostou tanto quanto eu.
- Eu deixo.
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Feelings
RomanceThalita havia finalmente realizado seu sonho, tudo parecia estar dando certo exceto por uma garota. A que bagunçou todos seus pensamentos. É possível odiar tanto alguém e ama-la ao mesmo tempo?