Capítulo 3- 37 dias (pt.1)

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Tali acordou pensativa. Ela não se sentia confortável e não entendia muito bem com o quê. A chegada do hóspede havia mexido com ela mais que ela gostaria de admitir. Na noite anterior, ela encarou os olhos dele imaginando o que ele já havia visto, as aventuras que viveu. Ele tinha acabado de se formar na Academia Real, logo devia ter a mesma idade que ela. Era injusto ele ter tanta liberdade e ela não. Ela estava presa aos desejos do pai. E futuramente estaria presa aos desejos do marido. E jamais poderia seguir seus próprios desejos. Havia um sentimento que crescia dentro dela nos últimos tempos, mas agora a atingia com força no estômago. Seu irmão casou. Ela era claramente a próxima.

Sua irmã dormia serenamente na cama ao lado. Ela parecia ter tanta certeza do seu lugar no mundo, tão feliz em cumprir o que foi traçado para ela. Tali observou o sono relaxado da irmã. Ela tinha pequenas sardas no nariz e nas bochechas, o que davam um ar meio infantil. Ela mesma não era tão mais velha, pouco mais de um ano. Tali se levantou e abriu a janela. Observou o dia que raiava. Tanta coisa neste mundo vasto. Foi quando um pequeno plano começou a se formar dentro dela.

Lagan acordou estirado no chão. Tinha dormido bastante, quase pensou estar atrasado quando se lembrou não estar mais na Academia. Tinha que seguir viagem, mas de qualquer forma seria rude sair antes do desjejum. Precisava agradecer a hospitalidade de seus anfitriões. Rapidamente se levantou e arrumou o quarto. Dobrou as roupas de cama, reorganizou sua mochila e sua bolsa. Conferiu se as roupas recém lavadas estavam secas e as vestiu. Guardou as que utilizou na noite anterior. Provavelmente não teria a mesma sorte durante o resto da viagem, encontrar uma família abastada e hospitaleira.

Devidamente vestido, desceu as escadas e encontrou a família tomando o desjejum. Olhou a mesa e sentiu falta de Ayla, que devia estar dormindo ainda. Cumprimentou os presentes e convidado a comer. A criança, que ele sabia agora ser um menino, brincava com uma colher e o saleiro, enquanto sua mãe tentava alimentá-lo. Lagan entrou em uma conversa trivial sobre como havia passado a noite, no que respondeu amavelmente. Um tempo depois, se pegou admirando a elegância da sala de jantar. Era simples, mas de bom gosto. A mesa grande, de 12 lugares, ficava no centro do cômodo abaixo de um lustre delicado. As paredes eram claras. De um lado, ficava a porta para a cozinha. Do outro, um grande portal para a sala de estar e a escada. Em uma das paredes ficavam algumas pinturas. Lagan ficou se perguntando quem havia pintado. Será que alguma das moças da casa era tão prendada a ponto de reproduzir uma paisagem tão bela? Na quarta parede haviam três janelas grandes com cortinas finas. Lagan fechou os olhos sentindo a brisa fresca da manhã. Era realmente primavera e os dias estavam cada vez mais mornos.

Lagan tentoou lembrar como eram feitas as refeições na sua própria casa. Fazia um tempo que ele não pensava nisso e quase uma década que ele havia partido. Ele sentiu um misto de incertezas e ansiedade por voltar para casa, foi quando ele percebeu que sua anfitriã havia terminado de comer, assim como Tali. Ambas pediram licença e saíram da sala levando o menino. Alguns minutos depois, ele ouviu a porta se abrindo. Olhou, curioso, para ver se era Ayla e encontrou outro rosto familiar. Sham entrava satisfeito na casa da família. Quando viu o hóspede, parou por alguns momentos, sem acreditar. Depois apressou-se em cumprimentá-lo.

- Olá, estranho!

- Sham! – Lagan se levantou para abraçar o colega.

- Como você veio parar aqui? Fugiu da Academia? – Disse Sham, o abraçando de volta.

- Eu me graduei, idiota. Vou voltar para casa.

- Como assim? Voltar... Você era o melhor vice comandante quando saí de lá, achava mesmo que você ia fazer carreira – deu uns tapinhas amigáveis na cabeça do colega e falou para o pai – Bom dia, pai.

LatenteWhere stories live. Discover now