Miranda, a mesquinha

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Miranda Priestly era considerada a mulher mais poderosa no mundo da moda, pois como editora chefe da revista Runway, a publicação mais importante nessa área, era ela quem escolhia as tendências para determinado período e quais seriam os estilistas e casas de moda que mereceriam ser reverenciados. Qualquer roupa usada pelas pessoas em qualquer lugar do mundo, tinha uma influência direta do que fora publicado por Miranda em sua revista e isso acontecia há mais de 20 anos. Miranda estava no topo do mundo, ela conseguiu chegar ao tão almejado sucesso.

A mulher que agora contava com 50 anos, era temida por todos. Quando ela chegava em algum lugar as pessoas preferiam manter a distância, já que ela era conhecida por seus comentários cortantes. Apenas os puxa sacos e bajuladores queriam ficar perto dela. Miranda chegou ao topo muito rápido, usando até mesmo de artifícios não muito abonadores para chegar lá; ela não pensava duas vezes em puxar a cadeira de alguém ou fazer complôs a seu próprio favor. Já seus conhecimentos e relações a faziam ser praticamente insubstituível em sua posição.

No âmbito pessoal, Miranda tinha uma personalidade forte e dura, fria o tempo todo. Era conhecida como o "Diabo vestindo Prada", "Mulher dragão", "Rainha do gelo", ou simplesmente uma megera. Seus funcionários viviam com medo dela, pois a mulher por motivos pequenos podia demitir uma pessoa que trabalhava com ela há anos. Além de tudo, pedia tarefas quase impossíveis e sem mais explicações aos empregados.

Nunca se ouviu falar de alguém que a cumprimentasse com carinho em alguma festa ou mesmo na rua. As relações de Miranda eram baseadas na falsidade e no interesse. Ela morava sozinha numa townhouse de 4 andares num bairro nobre de Nova York, numa das ruas mais caras não só da cidade, como do mundo. Miranda nunca esteve num relacionamento duradouro ou teve filhos, seu único interesse era seu trabalho, ela nem mesmo fazia viagens por diversão. O dinheiro que ela ganhava ela gastava apenas com coisas básicas. Ela era mesquinha, economizava cada tostão, pois tinha horror à pobreza. Um dos poucos amigos que Miranda teve foi seu diretor de arte Nigel Kipling. Os dois trabalharam juntos desde o começo da carreira de Miranda e ele era seu verdadeiro amigo, o único. Como ela, Nigel trabalhava incessantemente, sua vida fora dedicada a moda e a revista, porém há menos de um ano, seu coração não aguentou todo o stress e parou de repente numa tarde de inverno. Miranda perdeu o amigo e profissional que admirava.

                                                                                                         ***

Os funcionários de Miranda geralmente eram bajuladores. Sua mais nova assistente era alguém totalmente diferente dos outros: seu nome era Andrea Sachs, mas todos a conheciam por Andy. Ela se vestia diferente das outras pessoas na Runway, ela não se ligava na moda, não tinha o corte de cabelo perfeito, a melhor maquiagem. Não se incomodava em usar uma saia xadrez com um suéter azul de coleções passadas, nem ao menos de cuidar muito de seu cabelo castanho e longo, que às vezes se encaracolava dependendo da umidade. Andy tinha um filho de 5 anos chamado Tim, a alegria de sua vida. Por causa dessa gravidez, Andy teve que desistir no meio de sua faculdade de jornalismo e pegar qualquer emprego que aparecesse. Por muito tempo ela foi secretária na revista Auto Universe e fora transferida para a Runway, depois que Miranda demitiu cinco segundas assistentes em apenas uma semana. Como Andy trabalhava na revista do mesmo grupo, o RH a mandou para uma entrevista com Miranda, que por alguma razão desconhecida deu o emprego a ela, para o horror da primeira assistente Emily e de muitos que trabalhavam ali. O que faltava a Andy de noção em moda, sobrava em competência: em pouco tempo, ela começou a se adequar as demandas que a chefe lhe impingia. Ela madrugava para deixar o filho na creche de manhã e voltava muito tarde da noite para casa, tendo que inclusive pagar uma vizinha para buscar seu filho na creche e cuidar da menino até que ela chegasse em casa. Mesmo com o trabalho lhe tomando quase todo o tempo, Andy dava muita atenção e amor para o filho, que retribuía na mesma quantidade. No fim de semana quando estava de folga, Andy passava o tempo todo com o menino, que tinha os cabelos castanhos lisos. Eles moravam num pequeno apartamento no Bronx, no entanto os dois eram muito felizes ali. Fora o fato que Andy era querida por muitas pessoas não só no prédio da Runway como em todos os lugares que ia. Sempre lhe perguntavam como ela conseguia trabalhar para uma mulher vil como Miranda e ela sorria. Às vezes, ela mesmo se fazia essa pergunta. Apesar de Miranda ser tão má, Andy conseguia enxergar apenas uma mulher solitária em sua chefe. Desde que trabalhou na outra revista, ela gostava de olhar para Miranda de longe, de admirar sua beleza e postura. Mesmo com Miranda a maltratando, gostava de acreditar que Miranda agia assim por puro receio de se aproximar das pessoas e num dia, quando Miranda a chamou para entrar no elevador com ela (coisa impensável para qualquer assistente), Andy não quis pensar na palavra, afinal era tamanha loucura, no entanto achava que talvez até estivesse apaixonada pela mulher mais velha.

Um conto de NatalOnde histórias criam vida. Descubra agora