O Espírito do Natal Futuro

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O fantasma foi se aproximando lentamente. A casa pareceu se transformar numa nuvem espessa e negra. Miranda sentiu medo.

O Espírito vestia um manto negro e não era possível ver o seu rosto, apenas que era muito alto. Um braço se estendeu, ouviu – se uma voz aterrorizante:

"Sou o Espírito do Natal Futuro. Vim mostrar coisas que ainda não aconteceram, mas que hão de se dar no tempo que virá."

Miranda se encontrou numa escuridão e não sabia se flutuava ou estava com os pés no chão. De repente, conseguiu avistar pessoas descendo de alguns degraus em frente a um monumento grandioso. Todos estavam impecavelmente bem vestidos de preto. As mulheres com casacos de pele e chapéus. Vários fotógrafos estavam os esperando na escadaria. Miranda pôde ouvir as mulheres cochichando entre si:

"Já foi tarde."

"Fizeram uma boa maquiagem, ela até parecia bela."

"Pra quem será que vai a fortuna? Ela não tinha ninguém."

"Bem que poderia ir pra mim, eu faria melhor uso do que ela".

As mulheres riram entre si.

"Que horror. Foram achar o corpo dela só na segunda feira, disseram que foi ataque do coração fulminante."

"Morreu sozinha naquela mansão enorme."

Miranda conhecia muitas daquelas mulheres. Eram modelos famosas e algumas empresárias. Ninguém ali presente parecia estar triste por quem tivesse morrido. Miranda colocou as mãos no ouvido, pois não queria ouvir as piadinhas que as pessoas estavam fazendo. A nuvem negra ficou espessa mais uma vez e agora o Espírito a levou para um lugar tétrico. Eram várias alamedas com um gramado bem verde. Chegando mais perto, ela pôde ver várias placas no chão. Ela estava em frente a uma lápide de cemitério. Conseguiu ver o nome encravado na pedra:

Miranda Priestly, 14/11/1950 – 18/05/2011

Aquele era o seu lugar de descanso eterno. Uma placa insignificante no chão de um cemitério qualquer. Ela não ficou chocada em ver seu próprio túmulo, mas sim por perceber que morreria em menos de 6 meses. Miranda sentiu um gosto amargo na boca e a presença soturna do Espírito do Natal Futuro não a fazia melhorar.

"Me leve daqui, não quero mais ficar aqui!", ela suplicou. Nada mudou.

De repente ao longe, ela viu alguém andando com um vaso de flores nas mãos. Era Andrea. A moça chegou até a lápide com passos lentos. Ela se ajoelhou e colocou o vaso ali ao lado. Passou a mão com carinho no nome de Miranda. A mulher mais velha percebeu que a moça estava chorando.

"Oh Miranda! Queria que você estivesse aqui, queria ter tido coragem pra te dizer o quanto te amava".

Miranda não podia acreditar no que ouvia. Andrea a amava? Ela sentiu um grande desespero, soltou um gemido dolorido de sua garganta e colocou as mãos sobre os olhos. Quando voltou a abrir os olhos, estava na recepção da Runway. Por muitos anos passou seus dias ali e sabia como era o local. No entanto, a recepção estava cor de rosa, as portas de vidro que davam um ar de sofisticação para a casa da revista foram removidas. No hall que dava para o seu escritório as assistentes eram diferentes e para seu pavor a mulher sentada no que antes era sua sala, era ninguém menos do que a francesa Jacquelinne Foillet, sua rival.

"Então é isso", Miranda observou, "eu morri e agora é ela quem manda na revista", ela torceu os lábios. Tudo pelo que ela lutou, as coisas que ela conquistou, não existiam mais.

O Espírito apareceu e ela foi transportada para dentro de sua mansão. Os poucos móveis que restavam, estavam cobertos com lençóis e estavam empoeirados. A casa estava escura e lúgubre. Ela olhou pela janela e viu o coral cantando em frente a casa dos vizinhos. Era Natal mais uma vez.

Miranda sentiu seu corpo encostar no piso gelado e poeirento do chão, se curvando. Ela chorou em desespero.

"Não, não, não!"

Quando voltou a olhar estava de novo no cemitério em meio a escuridão. O Espírito do Natal Futuro estava impassível em sua frente apontando o dedo para seu túmulo.

"Espírito, tenha piedade. Por favor. Não serei mais a mulher que fui. Eu vou mudar, serei outra pessoa daqui em diante. Vou ajudar as pessoas, vou tratá-las melhor. Eu quero ter outro destino e levar uma vida nova. Eu vou honrar o espírito de Natal todo ano. Por favor, por favor".

A mulher agarrou o que parecia ser o braço do Espírito, continuando com suas súplicas e lágrimas. Ela ouviu um alarme contínuo e irritante. Abriu os olhos e percebeu que estava agarrada as colunas de sua cama e o ruído era de seu despertador eletrônico. Ela desligou o aparelho parecendo não acreditar que estava de volta em sua casa. Acendeu todas as luzes, olhou ao redor, saiu correndo pelas escadas e viu que tudo estava em ordem, seus móveis continuavam ali e a casa estava intacta.

Um conto de NatalOnde histórias criam vida. Descubra agora