O Espírito do Natal Passado

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Quando Miranda voltou a abrir os olhos se deparou com uma figura estranha a sua frente. Era homem, com os cabelos brancos caindo pelas costas e um rosto sereno. Ele usava uma túnica branca apertada por um cinto dourado. Miranda não sentiu medo, apenas uma apreensão por estar tendo aquela visão. Pensou que teria que se consultar com um neurologista o mais rápido possível. Resolveu embarcar naquela visão, quem sabe a alucinação iria embora se a confrontasse. Tomou coragem e perguntou:

"Então, você é um espírito? Um amigo morto me disse que eu iria começar a ver espíritos antes do Natal, você é um deles?"

"Sim, eu sou", a aparição disse com uma voz meiga.

"Mas quem é você e de onde vem?", Miranda perguntou mais uma vez.

"Sou o Espírito do Natal Passado".

Ele estendeu a mão e tocou levemente o braço de Miranda.

"Erga – se e me acompanhe."

"Por que eu faria isso?", Miranda desafiou a aparição.

Com um rosto sereno, o Espírito respondeu:

"Você gosta de um desafio. O que teme? Se eu for uma alucinação apenas, como está pensando, que mal lhe fará? Venha e veja por si só."

Miranda fez o que lhe foi pedido e quando caiu por si não estava mais em sua mansão e sim numa rua de paralelepípedo. Estava frio e se via um nevoeiro ao longe. Havia muitas casinhas geminadas dispostas atrás de arcos de tijolos e algumas tinham até um pequeno jardim em frente. Muitas crianças brincavam na rua, mesmo com o frio. Eram crianças pobres, se percebia pelas roupas simples. Miranda parecia reconhecer aquela rua de uma memória muito distante. O ambiente continha mil aromas, que traziam a sua mente muitas alegrias esquecidas havia muitos anos. De repente, surgiu ao longe, um carro velho preto levando alguns homens em sua carroceria. Miranda e o Espírito estavam ali no meio, ela olhou para ele aflita.

"São apenas sombras de coisas passadas", ele disse a acalmando, "Nós os vemos, mas eles não podem nos ver".

A caminhonete parou e os homens começaram a distribuir presentes, fazendo com que todas as crianças corressem para lá. As pessoas abriram as portas para ver o que estava acontecendo. Cada criança foi pegando um brinquedo. De repente, Miranda viu uma menininha que deveria ter pelo menos uns três anos, cabelos loiros escorridos, sujinha, com um vestido leve que não deveria estar usando pela intensidade do frio e com os pés descalços. Ela levantou os bracinhos e um dos homens com um sorriso no rosto lhe entregou uma boneca. A menininha a pegou e foi se sentar no meio fio da calçada com as outras crianças. No mundo daquela criança só havia aquela boneca. Miranda abaixou a cabeça, tentando conter lágrimas que ela não deixava cair a muitos anos.

"Aquela menininha sou eu", ela disse com a voz baixa.

Ela pôde ouvir os homens e as outras crianças gritando: "Feliz Natal! Feliz Natal".

De repente, o cenário mudou e eles se encontravam em algum tipo de escola. As crianças estavam colocando seus casacos apressadas. Muitas carregavam suas pequenas malas. Miranda olhou para o lado de fora e viu muitos adultos chegando e alguns outros tantos carros parados. As crianças saiam da escola e cada uma corria abraçar os adultos. Percebia-se que não eram muito ricos, mas estava com suas melhores roupas. Miranda viu duas meninas com pelo menos 10 anos conversando. Uma delas terminava de arrumar sua pequena trouxinha, a outra tinha olhos tristes. Olhos azuis. Ela chegou perto dela. As duas vestiam um uniforme cinza igual. A outra menina contava tudo o que faria no feriado.

Um conto de NatalOnde histórias criam vida. Descubra agora