Herdeiros do Olimpo

A parada mais agitada

Dizem que os homens preferem as loiras, fato comprovado por algumas pesquisas. Pessoalmente? As ondas negras, pouco abaixo dos ombros, como os de Vanessa, compõem o tipo de cabelo mais atraente, na minha opinião. Era bom vê-los se espalhar em contraste com o travesseiro branco enquanto os amendoados olhos bicolores da garota piscavam algumas vezes, lutando para se manter abertos.

-Descanse, Bruxinha. Eu pego suas coisas na enfermaria pra você

_Pede desculpas por eu ter fugido? - ouvi em minhas mente, seguido de um bocejo real.

-Peço. Agora durma, Forbes! - insisti, sorrindo de canto ao notar que ela adormecera, me dirigindo à enfermaria na sequência.

Pensava em Sr. D... Certamente seria punido por afrontá-lo daquela forma. Não que me importasse, já que o deus estava passando (e muito) dos limites com a garota, o que era estranho. Ele não costumava ir tão longe com as alfinetadas aos recém chegados, não importava seu passado.

Mas não poderia perder tempo demais pensando nisso agora. Tinha trabalho a fazer, já que havia prometido a Vanessa que conversaria com Quíron sobre sua não permanência no chalé. Mesmo que soubesse que a chance de conseguir era ínfima não me custava nada tentar... E eu não consegui resistir ao medo e à fragilidade da garota ao me pedir isso. Faria tudo que estivesse ao meu alcance para aliviar essa sensação nela. A filha de Hécate era uma ótima pessoa. Era inteligente, me arrisco a dizer que fazia frente aos filhos de Atena nesse quesito, conseguiria falar sobre quase qualquer assunto com propriedade, com dados interessantes e até mesmo engraçados e , por mais que ela própria não fosse admitir isso, era caridosa, intrinsecamente caridosa, mesmo que dissesse que o fazia como uma forma de compensar as mortes que causara. Era óbvio que se sentia bem fazendo aquilo, não era como algo feito por obrigação, sem falar nas caridades espontâneas que realizava no abrigo, ficando sem comer para que alguma criança adoecida tivesse a dose que precisava de nutrientes ou quebrando as regras e sendo punida para ajudar os mais novos. Sem contar sua habilidade com improvisos, como as armas que usamos na viagem, além de seu talento musical e poético. Em suma? Vanessa era ótima! E não acho que pessoas ótimas devam sofrer por causa de coisas nas quais as fizeram acreditar mas que não são reais.

Passaria na casa grande depois. Por ora iria apenas à enfermaria para buscar a mochila e o cinto de Vanessa, que permaneciam intocados ao pé da maca onde a havia deixado mais cedo.

-Isso tem dona, Fauno! - Bem... Era Esculápio, então - Ah... É você, Dylan! Desculpe... Ainda estou me adaptando a este acampamento! - Ouvi do ruivo, sorrindo de canto ao pegar as coisas da garota.

-Não se preocupe! Logo irá se acostumar. Mas por hora preciso levar isso para Vanessa e resolver um problema com Quíron. Talvez depois possa tentar te ajudar com essa questão dos nomes, Gael!

- Se quiser eu posso levar isso! Acabei tudo o que precisava fazer por aqui.

-Obrigado! Mas não precisa se preocupar com isso! É uma caminhada rápida. - recusei, sorrindo para o irlandês

- Está bem... Mas conte comigo quando precisar! Você me ajudou muito na ultima vez em que estive aqui e quero retribuir o favor. - Insistiu ele, as covinhas surgindo quando retribui meu sorriso

- Terá essa oportunidade um dia, se faz questão. Mas esse dia não é hoje. - respondi, colocando a mochila nas costas antes de levá-la até o chalé, caminhando lentamente até o local, repousando-a ao pé da cama da morena, e deixando o cinto, improvisado com tecido e um cinto comum, por cima dela. Olhei rapidamente ao redor, sem ver outro dos filhos de Hécate... Provavelmente Amélia tinha saído para avisar que ficaria com Vanessa ao invés de cumprir sua agenda do dia. Não era incomum que os conselheiros ganhassem ao menos algumas horas de folga para ajudarem os novatos.