.urdia sombras desiguais

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[Capítulo sujeito à revisão e modificações mínimas].

Outra aula de história estressante. O tempo ia passando e passando, as pessoas continuavam se borrando de ficar naquela sala. Agora que havia literalmente conversado com um morto, resolvi engolir o cagaço e sentar na frente mesmo. Se eu não sentasse, alguém que não vê gente morta teria de fazer isso. Apesar de também me cagar, ficava feliz de estar poupando outra pessoa do sofrimento. Uma impressão minha é que o medo vinha mais do desconhecido do que do macabro. Não saber se o espírito estava ali era o que assustava as pessoas (eu acho). Sabendo a verdade, eu conseguia me sentir mais tranquilo. Sabia que Seulgi estava em algum lugar por ali, e assim podia torcer pra ela permanecer onde quer que estivesse, pois seu fantasma deveria estar mesmo medonho, e eu não queria ter mais pesadelos do que já estava tendo.

Com esses meus conhecimentos, até conseguia prestar atenção ao professor por um certo tempo. Ele dizia algo sobre a libertação do nosso país pelas bombas nucleares. Mas então eu olhei para o chão.

Uma garota de uniforme estava ajoelhada paralelamente à lousa. Seus abundantes cabelos pretos ocultando o rosto. O chão sob ela totalmente ensanguentado. Eu sentia o cheiro do líquido espesso.

Arfei de susto e me movi na cadeira. O vermelho parecia refletir em tudo. Por causa do silêncio (com exceção da voz do professor) todos notaram e resmungaram confusos para mim.

A garota (que agora eu percebia, carregava em mãos uma tesoura pontuda também ensanguentada) começou a lentamente virar a cabeça para minha direção, de forma que pudesse me encarar. Quando seu rosto estava prestes a tornar-se visível, ouvi uma vozinha encantadora familiar no fundo de minha mente. Não veja.

Obedeci, rapidamente fechando os olhos. Esperei dois segundos antes de abri-los. O chão estava limpo. Não havia nenhuma garota nele. O professor agora me olhava com preocupação.

“Perdão.” Tentei não me atrapalhar. Estava completamente apavorado. “Tive apenas um pouco de tontura.”

“Prefere sair da aula?”

“Não, não, já passou.” Senti uma gota de suor na lateral de minha testa. O homem assentiu e continuou a explicação sobre o bombardeamento promovido pelos Estados Unidos.

Senti um calafrio. E então vi uma mão, presa à um braço coberto por uma manga preta de casaco, indo até minha destra. Segurei-me para não virar a cabeça. Em vez disso, optei por ver de canto de olho a esguia forma de Baekhyun à minha direita. Prendi a respiração. Estava quase chorando quando ele pegou minha mão. Sua pele parecia ser tão macia ao toque, mas eu não conseguia senti-la. Era como se minha mão se movesse por conta própria. Lentamente, ele a fez pegar um lápis e escrever algo no canto de meu caderno. Eu continuava arrepiado enquanto minha mão escrevia. Meu tato dizia que ela fazia isso sozinha, enquanto minha visão dizia que estava claramente sendo guiada. Meus sentidos lutavam entre si, absolutamente confusos. Baekhyun terminou de escrever e soltou minha mão. Lentamente meus olhos tocaram aquele canto do papel.

Sinto muito. Não tenha medo. Estou aqui agora. Não vou permitir que isso aconteça de novo.

***

“Eu odeio essa bosta.” Jongin e eu estávamos sentados do lado de fora. Em seu colo estava o terceiro volume da saga Diários de Vampiro e ele olhava para o nada com cara de perdido. Fiquei quieto, tentando descobrir se ele falava sério com aquela crise toda, mas ele percebeu. “Não me olha assim seu gay, você chora com Crepúsculo!”

“Eu não vou dizer nada. Minha irmã me obrigou a assistir TVD até o final e ela chorou o suficiente pela família toda.”

A única pessoa que sabia que eu chorava com Crepúsculo era Yifan, e Yifan chorava com John Green. Não sei porque eu havia deixado isso escapar pra Jongin. Provavelmente estava sem assunto de madrugada. Jongin chorava com Sherlock Holmes, tinha zero direito de me julgar. Estava acabado ao terminar a primeira trilogia de TVD. Não ia aguentar mais um segundo na vida de leitor.

Deadly Betrayal [ChanBaek]Onde histórias criam vida. Descubra agora