Desculpa Liam... Mas eu não vou seguir sua regra

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“Eu tiro meus olhos de você por dois minutos e você se mete com os punks outra vez. Estou começando a achar que você curte uns bad boys, Luke”.
“Porra, Liam. Corta essa! Só fiquei com medo deles ficarem putos se eu negasse, to seguindo seu conselho, FILHO DA PUTA”.
“Vou dizer ao seu irmão que você vai jogar videogame comigo e que meus pais te levam pra casa mais tarde. Se eles te sequestrarem, QUE MERDA EU FAÇO?”
- Diz pra ele que não vamos – Mike comentou e eu afastei o celular dele. Ele abriu outro sorriso e isso só me desconcertou ainda mais. Ele não tinha se incomodado mesmo com o que a escola tinha gritado sobre ele na última hora? Ou com o que Liam tinha dito? Deuses, até mesmo comigo, nada incomoda ele ou o quê?
- Mike? – arrisquei.
- Chora refém – ele brincou.
- Você por algum acaso escutou o que falaram de você enquanto jogava?
- Perfeitamente – ele respondeu. Não desviou os olhos, não mudou de expressão. Nada.
- Então porque ainda faz isso? É meio...
- Assustador? Esquisito? De extremo mau gosto?
- Eu ia dizer masoquista.
- Provavelmente – ele concordou -, mas você não gritou junto, não é? Eu vi você. É só nesse dia que tenho certeza absoluta de quem é e quem não é meu amigo. E também serve de lembrete que aqueles caras têm muito que melhorar. Passam a porra do ano inteiro se achando só por que estão no time, não treinam, e chegam no fim do ano querendo vencer os municipais. É irritante.
- Então você usa a peneira de basquete pra saber quem é seu amigo e pra jogar na cara do time masculino que eles não são tudo isso?
- É. Não é minha culpa se a maioria não entendeu. As garotas entenderam. Participo do treino delas às vezes, são maravilhosas. Não é a toa que quase foram pros nacionais no ano passado.
- AOS NACIONAIS? – perguntei. Liam não tinha me falado disso.
- SIM – ele respondeu igualmente empolgado – TENHO CERTEZA QUE ESSE ANO É NOSSO. Quero dizer, delas.
- Eu vou matar o Liam por não ter me contado isso – eu disse. Era mais um lembrete para eu mesmo, mas Mike fez uma cara confusa.
- O garoto trans? Não sabia que se conheciam.
- Conhece ele? – Eu e Calum perguntamos ao mesmo tempo, e isso foi totalmente estranho. Sequer sabia se ele estava perguntando para mim ou para o Mike. Clifford levantou os braços em sinal de rendição:
- Conheço. Ele é titular no time feminino, apesar de ter que usar o outro nome nas partidas oficiais. Além disso, eu tentei ficar com ele numa festa no ano passado. Louis devia ter aulas de como socar alguém com ele, a propósito. E você, Luke?
- Ele é meu melhor amigo. Nós nos conhecemos num grupo no facebook cinco anos atrás, mas a primeira vez que o vi pessoalmente foi quando me mudei para cá – me peguei sorrindo ao ouvir Mike usar os pronomes corretos para falar do Liam. E surpreso também.  É estupidamente visível que ele ainda não percebeu que eu sou trans e saber que Mike é respeitoso com isso me deixa contente – e você, Calum?
- Ah, eu nunca falei com ele, na verdade. Só fiquei surpreso de Mike o conhecer.
- Pessoal, chegamos – Katie declarou e parou o carro. Todos desceram com exceção de Mckenna e o garoto loiro que tinha passado o caminho todo brincando com a mão do Calum.
- Não sei o nome dele – eu disse a Mike e apontei – e nem dela.
- Ah, é o Ashton. Ele é da nossa turma, mas faltou a semana toda. E aquela é a Alisa, é irmã da Cristal e está no primeiro ano. Vem, vamos subir. Eles nos seguem depois.
Olhei para os lados, finalmente me dando conta de onde estávamos. Era o antigo zoológico municipal, o que estava a um passo de estar completamente abandonado. Liam já tinha me contado que quase ninguém ia lá, a menos que fosse comprar sorvete ou transar no meio do mato.
- Nós gostamos de ficar na antiga jaula dos leões – Mike contou - é bem no alto do parque e nós não vamos chegar lá se você ficar ai parado.
- Como vocês entram lá? – perguntei acelerando o passo para acompanhá-lo. Passamos a catraca, o segurança ao lado delas levou um susto com o barulho e acordou. A velhinha na máquina de sorvete pareceu esperançosa de nos ver ali, e eu acabei por comprar o sorvete dela. Era ótimo, a propósito. Mike deu risada quando disse isso a ele.
Enquanto caminhávamos fui percebendo que realmente não tinha ninguém. Todas as jaulas estavam vazias e nenhum outro segurança rondava o perímetro. Mesmo as áreas verdes claramente não viam um jardineiro já há muito tempo. Quando olhei para trás percebi que só Mike e eu tínhamos entrado no parque e acabei por ficar meio nervoso, minha mente relembrando o aviso de Liam quanto ao uso do parque.
Subimos um escadão que levava a jaula mais alta. Demos a volta na jaula e entramos por um buraco na cerca que havia na lateral.
- Tivemos que abrir ela aqui depois que fecharam a primeira. É irônico, mas parece que ainda tem gente que se preocupa em manter isso aqui em ordem.
A jaula dos leões nada mais era do que uma jaula onde o mato não tinha crescido por completo, e que dava uma vista bonita do resto do parque. O sol se punha atrás de nós, então tínhamos um maior período de iluminação ali. Dava para ver o resto dos punks esperando a velhinha pegar o sorvete no início do parque.
- Você é meio caladão, né? – observou Mike. Não nego que ele tenha me assustado. Estava bem do meu lado, um pouquinho perto de mais.
- D-desculpe – eu disse, cogitando dar um passo para o lado, mas sem coragem para fazer isso.
- Nah, tudo bem – ele respondeu, observando o céu – a lua vai estar um espetáculo hoje.
Olhei também, mas não havia nada naquele céu que me fizesse enxergar o mesmo que Mike. Então voltei a encará-lo, sem dizer nada. Acabei fazendo isso por um bom tempo, apreciando o cabelo vermelho dele, a confusão de cintos e correntes na cintura, ou aquela camisa vermelha grudada junto ao corpo dele.
- Por que não gritou como todo mundo? – ele perguntou de repente. Tinha viajado para tão longe que sequer entendi.
- O que? – perguntei.
- Hoje, na peneira. Por que não vaiou junto? – Mike se aproximou, mas não muito. Só o bastante para me obrigar a olhar nos olhos dele.
- Não tenho nada contra você – respondi. Acabei por perceber que era por isso também que não o tinha afastado de uma vez no primeiro dia -, nem te considero... Sabe, o que as pessoas dizem. Não consigo te ver assim.
Ele me analisou por cerca de um minuto ou mais. Droga, aqueles olhos verdes me deixam desconcertado. Esqueci completamente o que tinha dito, senti medo de tê-lo magoado. Senti a dor e a confusão que ele sentia por causa do que as pessoas diziam dele. Mike estava analisando se podia confiar em mim, e eu quis gritar para que sim. Aquele olhar tinha muita coisa para dizer, e eu não conseguia decifrar mais do que esbanjava para fora. “Existe beleza em meio ao caos”.
Mike só desviou os olhos dos meus quando o resto da turma chegou, eu descobri que Michael Clifford me tinha feito quebrar a regra de Liam sobre não me envolver com os punks.
Afinal, eu estava caidinho por ele.

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⏰ Última atualização: Dec 22, 2018 ⏰

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