Como tudo começou

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-Então, Bia, tem alguma ideia do que seja?
-Não. Na verdade, só consigo pensar na festa de ontem. Aquele cara! Uau!
Ainda não acreditava que tínhamos ido à festa dos calouros da faculdade, afinal sempre ouvi falar dessa tão esperada festa. Ainda bem que o Colégio Integral forneceu os convites. Havia mais alunos da nossa escola do que da faculdade.
A música começou e fomos todos para a pista. O salão era dividido em duas partes. Na entrada, uma longa mesa com diversos petiscos, rodeada por um sofá vermelho encobrindo toda a parede. Dela saía uma porta para uma varanda com uma mesinha de centro, com mais alguns doces e refrigerantes, duas cadeiras, flores nas laterais. Do outro lado, um salão enorme, com luzes estroboscópicas acesas. A pista redonda, com uma decoração de estilo moderno, com pinturas pichadas, camuflava uma porta que iria para os toaletes. Enquanto a noite caía e a música continuava, pude enxergar encostado próximo à varanda, com braços e pernas cruzados, sorrindo, o moço mais cobiçado da festa; e o melhor de tudo, estava sem acompanhante.
Ele tinha aproximadamente um metro e oitenta de altura, moreno, forte, vestia uma camisa branca, por cima uma jaqueta preta de couro, deixando bem visíveis seus músculos e seu corpo escultural, calça preta social e sapatos pretos. As roupas destacavam os grandes olhos azuis. Por poucos instantes sonhei e torci para que ele não estivesse na faculdade e sim na minha sala.
Bia me cutucou. Eu estava parada, de boca meio aberta e olhos estreitos como se fizesse força para enxergar. Não sei como tive coragem, mas saí do meio da pista e fui para o lado isolado, próximo de onde ele estava. Para disfarçar, peguei um copo e me servi de refrigerante. Percebi que ele se aproximou da mesa e parou seu olhar em mim. Sem muito esforço, e com toda a vontade e curiosidade, olhei para ele. Senti que corei quando nossos olhares se encontraram. Abaixei a cabeça procurando alguma coisa, para não ficar imóvel como um poste. Peguei uma tampa de garrafa de refrigerante enquanto ele ainda me olhava corada, e em menos de meio segundo, derrubei o refrigerante na bandeja de profiterolis na minha frente. E se ele não tivesse dado um passo para o lado tinha manchado sua roupa. Eufórica, saí correndo.
Fui para o lado oposto, e esperando que ninguém percebesse. Olhando para cima, vi a faixa que o Colégio Integral colocou incentivando os alunos a estudar; era minha salvação, fiquei encostada embaixo da faixa que dizia "Projeto Aprendendo a Aprender incentiva os alunos a estudar", olhando na direção do último lugar em que o havia visto. Procurei-o por todos os lados. Não o encontrei, e sem que alguém pudesse notar, comecei a me desesperar.
Bia falava de alguém e eu não conseguia ouvi-la direito; meus sentidos estavam todos voltados para ele. Bia continuava a falar. Eu não conseguia encontrá-lo. Bia se afastou, só pude ouvir quando disse que seu "ficante" a chamava. Não insisti para que ficasse. Eu não o achava. Será que ele foi embora. Será que estava com alguma garota? Onde ele estava?
Passaram-se alguns minutos, que para mim pareciam horas, e eu continuava sozinha a procurá-lo, até que de repente, surgiu uma voz atrás de mim:
- Procurando alguém?
Levei um susto, quase desmaiei : era ele. Seus olhos brilhavam como uma estrela em noite escura. Um brilho indescritível. Sua voz sedutora, confiante e desafiadora. Seu hálito era doce. Não consegui abrir a boca. Eu o fitava sem piscar. Só consegui enviar um comando do meu cérebro para que minhas pernas ficassem fixas no chão e no lugar. Ele continuou
-Está gostando da festa?
Demorei alguns minutos e respondi:
-Sim. E sorri
Ele deu um sorriso. Como ele era lindo!
-E você por onde andava?
-Ah! Entào você estava me procurando!
- Não. Bem. Eu acho que sim. Fiquei com vergonha de quase ter sujado sua roupa. Na verdade, não sabia como pedir desculpas. As vezes sou muito desajeitada.
-Mas não aconteceu nada. Não precisa ficar tão vermelha!
Pus as mãos no rosto e fechei os olhos. Quando abri, ele segurava em meus pulsos retirando minhas mãos do rosto. Senti que tinha um anel grande em seu dedo. Olhei-o e percebi ser um anel de turmalina de uma única cor, azul, e a letra "R" em pequenas turmalinas pretas. Pareciam-me hipnotizar.
Pensei que agora minhas pernas não iriam mais me obedecer.
-Não se envergonhe. Você fica muito bonita corada. Você entrou em qual faculdade?
- Bem, na verdade, eu não entrei, estou fazendo eursinho para prestar o vestibular no começo do ano que vem. E você, qual é sua faculdade?
- Também não estou na faculdade. Meu irmão, um amigo e eu nos mudamos há pouco tempo para Paulínia. Estamos procurando escola. Mathias, meu amigo, é transferência para a faculdade de Informática e eu pretendo fazer cursinho. Você tem alguma sugestão?
-Sim, poderia estudar no mesmo colégio que eu, Integral. Fica aqui perto, na estrada meditval da cidade, mas como se chama?
- Rodrigo Meganne, e você?
-Sabrina Martinelli.
- Quer tomar alguma coisa? Dessa vez eu sirvo, ele convidou.
- Tudo bem. Como chegou tão perto de mim e eu não o vi? perguntei.
-Talvez porque você estivesse tão entretida a minha procura que não me viu.
-Você é muito convencido. Não estava procurando você. Aliás, não estava procurando ninguém. Estava apenas observando a festa.
-Você mente muito mal. Sei que me procurou a festa toda.
-Já disse que você é muito convencido, mas estou vendo que também é muito cheio de achar que é o bom e o mais bonito.
-E não sou?
-Admito que você é bonito, tem uma beleza diferente, mas nem por isso é "o cara".
-Então ganhei! Você concordou que me acha bonito!
-Sim, mas beleza não é tudo! Você quer fazer faculdade de quê?
-Ainda não escolhi, mas espero que até o dia da matrícula eu tenha alguma coisa em mente.Fazendo cursinho iremos descobrir o que cada curso das faculdades realmente nos oferece, para que servem, quais suas matérias, onde poderemos atuar e tiraremos uma porção de dúvidas. E você já escolheu a sua?
-Pensando por esse lado, você novamente está certo, mas por enquanto eu gostaria de fazer Letras em uma faculdade pública, onde tivesse possibilidade de concluir posteriormente mestrado e doutorado.
Tomamos um refrigerante e fomos sentar na varanda. Após algum tempo, olhei o relógio e assustei-me, já passava das vinte e três horas. Avisei-o:
-Tenho que ir embora, já está tarde. Preciso achar minhas amigas.
-Levo você para casa.
-Não precisa.
-Você acha que não precisa. Eu a levo. Daqui para frente, não vou mais deixá-la sozinha.
-Se você quer assim, tudo bem, mas preciso falar com Bia e Giulia.
Assim que as encontrei, falei sobre a oferta de Rodrigo. Elas não concordaram. Bia falou:
-Sassá, como iremos explicar a nossos pais quem era o rapaz que nos deu carona, e depois, uma de nós, a última que nesse caso seria você, iria ficar sozinha com ele! E se ele tentasse alguma coisa?
Concordei. Agradecemos a gentileza, mas não aceitamos; explicamos o motivo e ele foi compreensivo, dizendo que estávamos certas e que não devíamos aceitar mesmo caronas de estranho.
Despedimo-nos e nós três fomos embora.

Vampiros : A união *parte 1 *Onde histórias criam vida. Descubra agora