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Natal.

A casa da minha mãe mais parecia o próprio presépio, cheio de luzes, presentes em baixo da árvore e uma mesa que transbordava fartura.

Seria uma ceia como todas as outras. As famílias todas reunidas. Eu disse todas. Tanto a do meu pai, com minhas irmãs e a Ellen, quanto a família do Philippe.

Permanecer com a presença dele esses dias me fez estar parcialmente blindada. Sem muito contato, e tudo se sairia bem.

— Ainê. - Dona Esmeralda sorriu quando me viu abrir a porta. Philippe estava encostado na parede, com as mãos no bolso e sorriu de lado. Seu Zé acenou e sorriu também.
— Boa noite gente. - Eu sorri, amigável. Eu não era amigável. Vi Seu Zé ajudar Philippe com as muletas e segurei a porta para que eles entrassem. Ele sorriu novamente quando passou por mim e eu me forcei a retribuir. - E Carina? - Perguntei para dona Esmeralda assim que cheguei na cozinha.
— Viajou, querida. É só o que ela sabe fazer desde os dezoito anos. - Dona Esmeralda disse, revirou o olhos e eu sorri.
— Vamos, já é quase 23h da noite. - Minha mãe disse, pegando o último prato pronto e saindo em direção a sala de jantar, a segui, vendo meu pai e Pedro babando no Philippe e ele contava sobre a sua vida no Barcelona.
— Está se saindo muito bem, irmã. - Aira disse parando ao meu lado. Sorri.
— A noite de natal é sagrada, irmãzinha.
— Você sabia que, quando se faz um pedido a alguém, a meia noite de natal, a pessoa para quem se foi feito o pedido, tem que ceder? - Ela perguntou, me olhando de canto de olho.
— Aí, Aira. - Eu disse, cruzando os braços enquanto ria.

Eu continuei conversando com ela, quando todas as minha irmãs se juntaram a gente também.

O tempo passou rápido e era 23:50 quando as nossas famílias começaram a ir para o lado de fora.

Eu voltei da cozinha quando vi Philippe tentando se levantar com a ajuda das muletas.

— Deixa que eu te ajudo. - Eu disse, largando meu copo em cima da mesinha de centro e dando meu ombro para que ele se apoiasse. Ele me olhou, confuso.
— Obrigado. - Ele disse, baixo.
— Os milagres de natal. - Eu disse enquanto caminhavámos para fora. Ele riu.
— Eu sei, que no fundo no fundo, a minha Ainê ainda está aí. - Ele comentou. Eu o olhei.
— Não tem uma Ainê sua aqui, Philippe.
— Mas tem uma Ainê que eu amo. E sempre amei.
— É engraçado você falar isso quando fez o que fez comigo. - Eu disse, colocando a outra muleta embaixo do seu braço, para acabar logo com aquela discussão.
— Eu não fiz nada com você, Ainê. E foi isso que eu tentei te dizer todos estes anos. - Ele confessou, me fazendo olha-lo, séria. - Eu só queria que pudéssemos voltar a se o que era antes, Ainê. - Eu ouvi começarem a gritar a contagem regressiva. Eu estava tentando não deixar aquilo entrar na minha cabeça. - Vem pra Barcelona comigo, Ainê? Eu preciso da sua ajuda, eu preciso poder explicar tudo a você. Eu preciso recuperar este tempo perdido. Vem pra Barcelona comigo? - Ele pediu, enquanto eu ouvia os fogos estourarem lá fora e todo mundo comemorando e se abraçando.

Eu disse que iria manter os sentimentos de fora. Eu preciso fazer isso!

destiny • philippe coutinhoOnde histórias criam vida. Descubra agora