Paint Me

III

-Acho que falta um pouco de preto aqui. - Jimin aponta para o detalhe na porta, pintada na tela em nossa frente.

-Mais? Já tem preto aqui.- aponto para o lugar onde o garoto falara.

-Não noona, olhe!- ele se levanta, apontando para o pequeno risco que havia na porta branca, era um detalhe mínimo, mas que contrastava com a cor clara da porta.

-Você é quem manda.- levanto minhas mãos em rendição. Eu queria entender as inspirações artísticas de Jimin, então acabei propondo que fizéssemos algo juntos, a maneira dele.  

O vi pensar por segundos, mas no final acabou aceitando. Então sugeriu que pintássemos o lugar típico de nossos encontros, aquele pequeno ateliê. Ele deu vida a obra com tons sombrios, em destaque a formação clara inicial, os detalhes minuciosos, como o da porta, eram extravagantes.

Jimin pediu para que eu fizesse um esboço daquela sala, sem muitos detalhes, apenas o real, em tons claros, assim como realmente é. E depois com tons marcantes deu vida aos detalhes. E mesmo o acompanhando, eu ainda tinha meus questionamentos. Park Jimin era um diário escrito em alguma língua extinta, que dá origem às atuais, suas ideias vinham antes do que somos capazes de ver.

O mais novo se concentra, parando por um segundo para analisar aquele local, a procura dos seus detalhes mínimos. Logo volta sua atenção a tela, fazendo um grande risco na falha que havia no insulfilm da janela. Jimin vestia uma blusa listrada, era incrível como nunca se sujava com um pingo de tinta, se mantendo impecável.

-Hye Lin?- sua voz soa e só então percebo que Jimin me encara.

-Ne?!

-Poder arrumar aqui?- aponta para onde havia escorrido um pouco de tinta preta, na verdade era uma detalhe mínimo.

Viro-me pegando o que ele havia solicitado, quando ergo o pincel em minha mão, em um movimento consideravelmente brusco, faço com que a tinta respingue em meu rosto e em parte do meu moletom bordô. Minha primeira reação é olhar para tela, esperando que não tenha a atingido, o que por sorte não havia feito. Jimin me olha com seus pequenos olhos arregalados, que logo se fecham, seguidos pela instantânea gargalhada do garoto. Seus pés batem no chão, enquanto suas mãos se unem em seu peito, ele ria feito uma criança.

-Está achando engraçado, Sr.Park?

Lhe aponto o pincel em uma única ameaça,  cessando sua risada instantaneamente, retornando ao seus olhos arregalados e suas pequenas mãos em frente ao seu corpo, ele me olha assustado, como se aquela fosse a pior ameaça a se fazer. E assim que percebo que suja-lo poderia ser uma péssima ideia, viro meu corpo deixando o pincel no suporte.

-Vou me levar, já volto!- me levanto e Jimin balança a cabeça em positivo.

O natal se aproximava e os corredores da universidade estavam vazios, talvez as únicas presenças ali fossem a minha, a de Park e de alguns funcionários. Havia um banheiro no corredor paralelo, empurro sua porta e a primeira coisa que vejo é meu reflexo no espelho.  Havia uma quantia generosa de tinta, um pouco mais de que o esperado. Minha atenção se volta ao meu moletom, eu já havia perdido tantas roupas para as tintas, realmente não estava disponível para perder mais uma.

O esfrego com um papel toalha úmido, até que seja o suficiente para a mancha ficar clara. E então volto a atenção para os respingos em meu rosto, aperto a torneira e coloco minhas mãos em concha, em um movimento instantâneo meu corpo se afasta da pia. Era quase inverno, aquela água parecia congelar e minha coragem de levá-la até meu rosto era mínima. Respiro fundo, em um movimento rápido aperto a torneira, colocando minhas mãos e as enchendo de água, para logo as levar até meu rosto. Passo por minhas bochechas as palmas das minhas mãos, com movimentos leves até que saíssem todos os respingos.
Assim que termino, volto para o pequeno ateliê em passos lentos, ainda havia muito tempo para terminarmos.