I

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E mais uma vez a forte luz pisca transluzindo pelas janelas da conhecida cafeteria de Seoul, indicando que Lee Hong Min me aguardava ao lado externo das paredes de tijolos rústicos com detalhes na cor creme. Mantenho minhas estruturas passivas, encerrando o pedido de um dos clientes, eu sabia que meu horário havia encerrado, mas nunca deveria deixar que um cliente esperasse, por mais demorada que fosse sua escolha. Além de que, já havia deixado claro a Hong Min que não voltaria junto a ele, pois havia algumas coisas para terminar no ateliê.

-Deseja mais alguma coisa? - pergunto mantendo um sorriso delicado em meus lábios.

-Por enquanto é apenas isso.

-Tudo bem, logo seu pedido estará pronto, é só aguardar que alguém o trará.

Deixo a pequena comanda pendurada ao lado da janela da cozinha, atravesso o balcão amadeirado, que era enfeitado pelos pequenos guizos e sinos natalinos, seguindo até a sala dos funcionários, antes mesmo de entrar meu avental já se encontrava longe da minha cintura. Pego minha bolsa conferindo se não havia deixado nada.

Antes de me dirigir até a porta, respiro fundo preparando o resto de paciência que havia em mim, eu sabia que a conversa com Hong Min não seria da maneira mais pacífica e ele era o tipo de pessoa que não reconhecia os preceitos da palavra não, mas dessa vez eu realmente não cederia a ele. Antes de tudo eu tinha meus afazeres.

Empurro com meu corpo a grande porta de vidro, que assim que perco o contato se volta automaticamente ao seu ponto inicial. Era final de novembro, o inverno já se aproxima e o frio era presente nas ruas de Seoul, visto meu sobretudo preto por cima do meu típico uniforme de trabalho, uma calça preta de cintura alta, com uma camisa de botões brancas que ficava por dentro da calça.

-Eles deveriam te dar as devidas horas extras.- Hong Min desce e desliga a sua moto ao me ver aproximar.

-Não se passaram nem cinco minutos. - solto meus cabelos na tentativa de proteger meu pescoço da brisa fria.-Você precisa aprender a esperar, Hong Min.

Ele ignora o que digo, dando uma última tragada em seu cigarro, o jogando no chão e apagando com seus sapatos Boot Louis Vuitton. Seu sobretudo verde musgo quase chegava em seus pés, cobrindo toda sua calça preta, os cabelos pretos se encontravam bagunçados devido ao capacete recém tirado. Apesar de estar longe de casa, Lee ainda tinha o típico estilo de garoto sustentado pelos pais.

-Pega. - Min estende o capacete que antes estava preso em sua moto BMW G 310 R.

-Por que eu deveria? - minhas sobrancelhas se franzem, enquanto minha mente espera que Hong Min aja sensatamente.

-Vamos logo, Hye Lin! - ele chacoalha o capacete sem muita paciência.

Respiro fundo lembrando que não deveria ceder, por mais que fosse a maneira mais fácil de se evitar uma briga. Eu já havia cedido demais a Hong Min, a vida havia cedido muito a ele.

-Hong Min, eu lhe disse que hoje eu iria para o ateliê.

-Vamos ser francos, Hye Lin...- seu sorriso de escárnio toma seus lábios, o qual eu sentia completa repugnância, por mais que tenha se dirigido a mim em poucas vezes, Lee sempre o usava para demonstrar sua fútil superioridade.

-Quanto mais cedo você parar de brincar de ser artista, melhor será para todos.

As palavras de Hong Min passam pela brisa fria, sendo capazes de congelar o ar que nos cercava e entrar queimando em meus ouvidos. Se havia qualquer resquício de terminar nossa conversa com passividade, agora ele era inexistente.

-Você acha que desisti daquela vida para brincar, Lee Hong Min? - minha voz soa mais alto, entretanto ainda tento manter o mínimo de equilíbrio, pois uma briga em frente ao meu local de trabalho não seria uma ação muito sensata.

Paint MeOnde histórias criam vida. Descubra agora