Alma Da Dor.

O Sacrifício Por Um Amigo

Passei dias em casa pensando em como ajudá-lo.  Uma noite passeando pela rua vi uma cena e decidi intervir.
Vários homens formando uma roda com 2 lutadores no meio se acabando em uma briga totalmente fora do comum.

Fiquei ali olhando de pertinho e perguntei porque fizeram aquilo e como funcionava. Me disseram que os lutadores assinam um contrato de que se morrerem não haverá nenhuma consequência a quem estava lutando com o mesmo. 1 vitória R$ 100,00 reais para cada luta.

Regras simples. Vale tudo, dedo no olho, golpes em partes genitais, usar armas brancas e o que quiser fazer para vencer. A luta só acaba por nocaute, morte ou desistência.

Pensei apenas uma vez e decidi que iria lutar, era o único jeito de ajudar a tirar a mãe do meu amigo daquela situação. Voltei na casa dele e conversei sobre o assunto, ele enlouqueceu:

- Como pode dizer uma coisa dessas? Você não vai se matar nisso não garoto.
- Você não tem escolha é a minha vontade.
- Ricky eu sei que não tem como te impedir então...por favor cara, pensa bem e não faça nenhuma besteira.
- Não se preocupe irei conseguir dinheiro o suficiente.

Não vou mentir, nem eu estava confiante, mas era pelo meu amigo, então é tudo ou nada.
Volto para casa e tomo um banho gelado, as madrugadas são uma tortura para minha mente.

Todos que comigo estavam um dia e morreram ao meu lado, meus irmãos, meu pai, Sarah. Tudo passava em minha cabeça me torturando sempre. As vidas de que eu já tirei, mesmo que eu lave minhas mãos meu rosto, nada disso se apaga.

Passei toda a madrugada pensando no passando e assim que amanhece vou até a casa de minha mãe, digo que teria que ficar um tempo fora mas não contei nada a ela, a mesma coisa foi sobre meu passado. Ela meio desconfiada me abraça dizendo que me ama, eu saio sem dar uma palavra voltando para casa de Alexandre.

Horas se passaram. 18:45 da noite e lá vou eu para minha primeira luta de rua, cheguei bem rápido e eu fui a primeira luta da noite. Um cara apostou 2 mil reais no meu openente e ninguém apostou nem se quer 10 centavos em mim.

A luta começa, começo apanhando bastante mas como esperado eu não sentia nem um pingo de dor. Socos atrás de socos, meu oponente deslocou seu pulso por conta de tanta força que me agredia. Eu olhei bem para sua cara e vi maldade em seu olhar, aquele ali não merecia uma segunda chance.

Um soco! A luta acabou, e como resultado de sua derrota os 2 mil reais foram inteiramente meu.
Caramba 2 mil de primeira tava muito bom. Continuei lutando venci 15 lutas  após aquela acumulei no total de R$ 3,500,00 reais só naquela noite.

Volto para casa bem machucado, Alexandre abre a porta e me ver naquela situação, começa a chorar e me abraça devagar por conta dos machucados. Entrego-lhe  o dinheiro e sento no sofá, estou exausto. Não por conta dos machucados e das lutas mas pela rotina que tenho todos os dias.

- Cara isso deve estar doendo pra caramba, olha só seu olho.
- Ah que nada eu vou melhorar logo, não se preocupe.
- Deixa de ser teimoso rapaz. Que droga eu sou um inútil!
- Aê! Você não me obrigou a nada, eu escolhi isso sabendo das consequências. Agora guarda o dinheiro pra sua mãe amanhã irei buscar mais.

Ele foi dormir morrendo de ódio de mim, nem guardou o dinheiro. Guardei o dinheiro numa latinha de metal e fui dormir ali mesmo no sofá.

Passei dois meses assim, não sentia dor, mas minha saúde estava péssima...após alguns dias lutando já tinha conseguido 17 mil reais faltavam 13 mil, eu decidi passar num médico para examinar meu corpo para ver se estava tudo em ordem.

Péssimas notícias, meus órgãos estavam danificados, ossos quebrados, e quase acabei morrendo.
Eu precisava fazer 15 cirurgias para colar alguns ossos, mas eram muito caras e perca de tempo então deixei pra lá.

Mas 5 meses de lutas, que droga estava totalmente destruído, 23 mil na mão estava tão perto...
Nesta noite era uma luta muito significativa para mim. Lutaria com 30 homens de uma vez só é ganharia 5 mil reais caso eu ganhasse. Era um avanço enorme então...porque não?

Eu não sabia se saíria vivo de lá então aproveitei o máximo do meu dia. Fui numa sorveteria que eu sempre quis tomar um sorvete imenso que custava R$ 30,00 reais. Eu não consegui tomar tudo. Mas eu levei o pote para casa.
Pilotei a moto dos meus sonhos por algumas horas, surfei, abracei minha mãe dizendo que amava muito ela e o quanto era importante pra mim.

Meia noite, a hora chegou. Piso na arena, olhando para meus oponentes vejo todos armados. Com pedaços de madeiras, barras de ferro, facas e bastões de basebol.

Eu só fechei os olhos, perdi perdão a Deus por todos meus pecados. Logo ouço gritos daqueles guerreiros famintos pela vitória, eles eram como eu. Não tão forte, não pelo mesmo motivo de estar lutando. Mas eles estavam ali pra vencer custe o que custar...

Sinto o chão da arena tremer, lá vem eles! Fecho meus punhos e parto para cima de todos. Tomo o primeiro soco e já tremo por estar fraco fisicamente.
Recuo e respiro fundo.

Vem um oponente com uma barra de ferro, agacho pegando areia do chão e jogo em seus olhos desarmando o mesmo.  Uma oportunidade imperdivel, pego sua arma e vou em busca dos outros.

Apanhando e batendo era tudo que podia fazer, me cercaram e meu instinto de assassino estava tomando conta de mim. Solto a barra e minhas mãos endurecem, minhas unhas estavam prontas para cortar.

O massacre começa, ataco todos os pontos de nervos centrais e tendões de cada um, não eram cortes tão profundos mas foi o suficiente para derrubar todos eles.

Graças! Agora estava tudo acabado. Só que não, sai do meio da multidão o campeão invicto por 5 anos daquela arena, o cara tinha uns 2 metros e 20 centímetros. Seu porte físico era bem grande, mas não havia pra onde correr e também nada poderia quebrar o meu orgulho, eu poderia morrer mas morria lutando.

Parto pra cima do infeliz totalmente machucado, sem forças, e enxergando por apenas um olho pois o outro já estava fechado de tão roxo e inchado. Tomei socos e chutes de diversas direções, não sabia nem onde defender. Ele bateu tanto em mim que cansou e ficou lento, meus braços estavam totalmente roxos e incapacitado de se levantar.

Levantei a cabeça e fui me arrastando até o miserável, ele levanta o braço pra mim. Elevo minha cabeça para trás e por fim! Bato minha cabeça contra a dele. Vejo sangue jorrar, mas não era o meu, o alto de sua cabeça tinha partido e ele acaba desmaiando.

Eu venci...ganhei dinheiro a mais por ter derrotado o campeão. Então ganhei os 5 mil da luta e mais 7 mil por derrotar o campeão. É isso aí 35 mil reais na mão.

Acha que saí lá de boa? Não mesmo, desmaiei, 6 dias inconsciente no hospital não acordava nem dava sinal de vida. Mas a mãe do Alexandre começou a  fazer o tratamento e isso já estava bom demais pra mim.

Passei 2 meses internado no hospital ninguém me visitou, até o Alexandre me esqueceu...assim que acordei e recebi alta, saí de lá e voltei para casa, liguei para meu amigo e ele disse que a mãe dele já estava bem melhor. Me agradeceu e não nos falamos mais.

Nesse mesmo dia...eu fui para o terraço do prédio de meu tio, olhei para as estrelas e perguntei. Porque todos me abandonaram ? Porque tanto sofrimento? Acho que eu só nasci pra sofrer.

Olho para baixo e decido pular...sim eu pulei.