XVIII - Pelo olhar dele

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Seus olhos me acaravam com seriedade. Transmitiam a paz que eu tanto sentia falta. Os momentos mais felizes dos meus últimos dias era olhar para pintura de Carter na minha parede. Certifiquei-me de que estivesse o mais parecido com ela possível. As cores em volta me deixavam nostálgico. Foi a forma mais particular que achei de trazer vida ao apartamento.

Desde seu adeus desesperado, que não falo com ela. Decidi respeitar seu tempo, seja lá quanto for ele. Não sabia ao certo se era a melhor coisa a se fazer, mas sentia que precisávamos disso. Começamos tudo errado. Era hora de nos renovarmos e pensarmos a respeito de tudo. Quer dizer, dela pensar a respeito de tudo. Porque quanto mais eu olhava para aquela pintura, mas certeza eu tinha de que a tinta na parede não era o suficiente. E, que eu queria Carter Rattes de carne e osso junto a mim.

Foram muitos dias de mal humor. Passava horas no Stúdio e perdi as vezes de quanto atendi pessoas fora da hora de trabalho. Inclusive, consegui fazer tatuagens a domicilio. Tudo para me distrair um pouco de meus próprios pensamentos. Todos os finais de semana eu estava com meus amigos em algum bar ou balada. Apenas para beber e fumar ao voltar pra casa.

Todos queriam muito falar comigo sobre o assunto, mas em nenhum momento me abri. O máximo de vezes possíveis que eu pudesse evitar pensar nela, melhor. Porque estar em casa já era uma tortura sem fim.

Ninguém sabia que quando a saudade estava insuportável eu fazia de tudo para ver ela pelo menos de longe. Sempre depois do meu expediente, quando decidia sair no horário normal. Passava pela Camera Roll sabendo que ela estava indo para casa. E, a via, tão linda a cada dia caminhando. Foi assim que descobri seu novo endereço. Um prédio lá próximo. Estava feliz por sua conquista. A observava de longe apenas para garantir que ela estava segura. A cidade de São Paulo tinha muito a desejar em questão de segurança.

Desde um dia que Dimitri apareceu em casa de surpresa e encontrou minha obra de arte ele fica me dando conselhos sem eu pedir. Diz que eu preciso sair com outras garotas, desapegar de Carter e deixar que a vida nos una de novo naturalmente. Nenhuma das duas opções pareciam plausíveis no momento. Porém, deixar a vida seguir naturalmente e deixar que as coisas acontecessem foi algo que levei em consideração.

Se o destino tinha nos juntado duas vezes, porquê não haveria uma terceira?

- Você tem razão! Ela vai me chamar quando estiver pronta.

- É cara, seja lá o que aconteceu com vocês dois, se tiver que ser será, tá ligado?

- Verdade!

- Bora almoçar fora hoje ? Tô cansado de comer marmita – reclamou tirando o celular do bolso.

- O que você sugere?

- Cara, eu descobri um restaurante muito maneiro não muito longe daqui. Vou cancelar as marmitas e chamar o pessoal pra ir com a gente.

- Beleza!

[...]

- Romeu e a Katrina estão com certeza tendo alguma coisa! – disse Teodoro do banco de trás do carro.

- Da onde você tirou isso cara? – perguntou Dimitri tirando o carro da vaga.

- Eles ficam se olhando toda hora. Der repente ela começou a rir das piadas dele. E, agora nem almoçar com a gente ele quer. Muito suspeito vocês não acham?

- Se isso for verdade temos que conversar com ele. Conhecemos muito bem Romeu e sabemos no que isso pode dar. Clima escroto no trabalho não dá- concluiu Dimitri.

- Vocês são muito fofoqueiros, puta merda! Deixa eles fazerem o que eles quiserem. Juntamos os cacos depois- falei irritado. Era a fome gritando.

- Calma cara.

- Já estamos chegando?- perguntei

- Sim- respondeu Dimitri – é logo ali- apontou para um restaurante próximo a Camera Roll.

Para minha surpresa, avistei Carter caminhando em direção ao tal restaurante. Estava sorrindo radiantemente fazendo meu coração bater mais de pressa. Senti felicidade ao vê-la, algo que foi rapidamente substituído por ciúmes assim que vi quem estava ao lado dela. Leonardo. Ele contava alguma coisa, e deveria ser muito engraçado porque ela estava rindo.

Meu sangue ferveu. Quis imediatamente descer do carro e socar a cara daquele filho da puta. Quase fiz isso. Mas, graças a Deus tenho um amigo extremamente perceptivo. Dimitri segurou meu braço evitando que eu descesse do carro.

- Cara, o que foi que conversamos?

- Ela tá com aquele fodido do Leonardo

- Eles trabalham juntos, relaxa!- me advertiu. Dimitri só poderia ser muito ingênuo mesmo para acreditar que era só questão de trabalho. Eu tinha certeza que o loiro não perderia a oportunidade de dar em cima dela. Qualquer um faria isso. Afinal, ela era incrível.

- Foda-se. Eu preciso resolver umas coisas. Falo com vocês depois- aproveitei que o carro parou no sinal vermelho e desci, indo na direção contrária ao restaurante.

Puxei o celular do bolso e mandei mensagem para ela. Não dava mais para esperar por sua resposta. Eu precisava saber se valia a pena esperar ou se estava na hora de seguir a minha vida.

Como ela demorou a responder, decidi ir ao apartamento dela. Tinha um cliente parceiro que morava naquele prédio, por sorte ele sabia quem era ela e me deu permissão para entrar no prédio.

Não importava quanto tempo ela fosse demorar. Eu esperaria o dia inteiro se fosse necessário. Tinha que acabar com essa espera de uma vez por todas.

Felizmente, ela não demorou.

Meu corpo todo enrijeceu ao ver o elevador abrindo e me deparando com seus lindos olhos. Meu coração palpitou a mil por hora quando ela começou a andar na minha direção.

Doce Mistério Where stories live. Discover now