4. Sobre garrafas e mármore

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IV Tyrion

Eu estava começando a me acostumar com esse negócio de teletransportar, afinal, já haviam sido pelo menos três em um único dia. Apesar de tudo, estava confuso. Minha cabeça doía por causa da luz que nos levara até lá e a tontura fazia tudo rodopiar. Por um momento pensei que ouvira alguma voz sussurrando comigo, mas, depois de um tempo, passei a achar que era coisa da minha cabeça.

Alice se apoiou em mim, a mão esquerda trêmula enquanto se agarrava ao meu ombro, demonstrando que não era o único afetado. Ela gemia um pouco e parecia estar com o coração acelerado.

— Está tudo bem? — perguntei com certo nível de preocupação.

— Eu acho... — tentou sorrir, entretanto sua feição não obedeceu ao comando. —É só que... Poxa, não dá pra andar? Chega dessa porcaria de luz e... — Suspirou e interrompeu-se. Ela parecia ter visto algo, embora estivesse muito escuro.

Estávamos todos em uma área aberta, sem muitos declives. Havia cinco caminhos de mármore, apesar de um mostrar-se fragmentado. Eles conectavam-se em um enorme disco que, em seu meio, tinha um grande pilar com quatro pontos de luz, um para cada trilha, exceto a quebrada.

Os murmúrios dos demais adolescentes parecia ter ficado mais alto, como se estivessem todos sussurando ao mesmo tempo. Estávamos inquietos, o que era compreensível.

Por um momento, a luz virada para nós intensificou-se. Era de um verde forte e intenso. No mesmo instante, uma figura masculina pousou violentamente na elevação do disco central. Ele próprio reluzia, suas mãos, braços e pescoço apresentavam rajas em um padrão característico. Por fim, fitou-nos com seus olhos radiantes e pulou, chocando-se com o chão em um estrondo.

Formou-se, então, uma onda de choque que abalou tudo, até parar atrás de nós. O solo havia balançado de uma maneira estranha e, por fim, naquele lugar, surgiram novos pilares, entretanto de um material diferente. Eram de cristal. Cristais multicoloridos ergueram-se, aliviando um pouco da penumbra.

Após, aquele homem desapareceu e, na mesma hora, outro surgira em seu lugar. Ele também reluzia, mas tinha um padrão de desenhos diferentes. A sua coloração característica era carmesim e em suas mãos projetavam-se duas enormes chamas. A figura lançou-as para cima, explodindo assim que alcançaram determinada altura. O show de pirotecnia fragmentou-se em centenas de partes, algumas permaneceram no céu, circundando o local, enquanto que outras desceram e fundiram-se aos pilares de cristal e aos caminhos, iluminando-os.

Assim, o homem consumiu-se em chamas, dando lugar a uma mulher com desenhos azuis escuro e cintilantes em seu corpo. Ela balançou as mãos rapidamente, descrevendo movimentos circulares. Logo fomos capazes de visualizar a grande massa de água que formava-se acima de sua cabeça, rodopiando como um redemoinho. A Lady bateu as mãos e o líquido deslocou-se em direção às trilhas de mármore, encostando no topo dos cristais. A mulher então manipulou os dedos, dando forma ao seu trabalho. Por fim, suas mãos tomaram forma de garra e a água se converteu em gelo, lançando um pouco de neve no céu. Estavam, acima de nós, arcos e arabescos, que fundiam-se em uma cúpula acima do disco central.

Ao final, outra mulher surgiu, agora do ar. Tinha marcas prateadas no corpo e parecia assoviar. O som emanado por ela ia, cada vez mais, elevando-se. Era uma música doce e aconchegante, excelente para uma dança lenta. A Senhora dos Ares soprou e a melodia foi continuada por uma leve brisa que passou a penetrar a arquitetura feita por Arya. Então estendeu dois dedos para o alto, sussurrando algo. De imediato seu brilho tornou-se mais intenso e o ar mostrou-se mais pesado. Logo viu-se um raio despencando e atingindo seus dedos, eletrizando tudo a sua volta. O vestido da Lady arqueou-se e ela sorriu pelo canto da boca.

ÉtreserWhere stories live. Discover now