WORKING MAN!

Purgatório.

Jungkook

Encarei Maya pelo canto de olho e, da forma mais discreta que consegui, me afastei um pouco mais. Havia uma áurea escura ao redor da mulher, mais densa do que a que eu estava acostumado, o som das unhas batendo no teclado do computador preenchia o ambiente e eu estava parado ao lado dela há alguns minutos, esperando que acabasse de rever um contrato e tentando, da forma menos suicida possível, convencê-la a fazer o cadastro para o amigo secreto.

O setor de RH, desconsiderado as objeções de grande parte da empresa, estava organizando um grande amigo secreto em cada setor. Em seu pronunciamento a sra. Banks havia ressaltado a importância de nos envolvermos como um corpo, com todos os membros trabalhando juntos e que, uma forma de conseguir isso, era estreitar os laços entre os funcionários.

Eu detestei a ideia, um amigo secreto é sempre estressante e decepcionante, e sabia que outros funcionários compartilhavam da mesma opinião, porém não tínhamos muito o que fazer em relação a isso, então todos aceitaram. Todos menos Maya, é claro.

-A senhorita precisa enviar seu e-mail para o sorteio, eu pensei em fazer o cadastro eu mesmo, mas achei que seria invasivo.

-Achou certo, Jungkook, achou muito certo.- ela parou de digitar e me olhou por cima dos óculos.- Não vou ceder a um capricho inútil da Justine.

-Senhorita.- me dou alguns segundos e preparo minha mente para a batalha.- Todos os funcionários vão participar, não acha que seria antissocial da sua parte simplesmente...

-Realmente, eu venho tentando ser tão social nesses últimos anos, seria um desperdício de esforço, não concorda? Ser antissocial nessa altura da minha vida.- até no silêncio que se estendeu depois dessa frase havia sarcasmo.

-Um amigo secreto pode ser uma coisa legal, as pessoas poderiam te conhecer mais.- fungo e ela se recosta na cadeira.

-Nada de bom poderia vir disso.

-Não tem como saber se não tentar, pode ser uma boa oportunidade d-

-O que você quer fazer, Jungkook?- estreita os olhos para mim- Ultimamente você está preocupado demais em me fazer ser sociável, o que você ganha com isso?- passo uma mão no cabelo e com a outra abano para ela, pedindo que esquecesse essa ideia.

Desde o jantar dos acionistas, que aconteceu há duas semanas, meu relacionamento com Maya havia mudado de uma forma que eu ainda não conseguia definir. Éramos as mesmas pessoas de antes, isso era um fato, mas apesar de estarmos longe de sermos melhores amigos, convivíamos de uma forma mais saudável.

Com o passar dos dias eu percebi que talvez, e esse é um talvez bem grande e complexo, as pessoas não estivessem sendo justas com Maya quando a chamavam de Rainha das Trevas e Mãe do Demônio. Ela estava longe de poder participar de um Coro de Anjos, assim como também não ganharia lugar de destaque no inferno, assemelha-la com alguma criatura do outro plano havia se tornado uma tarefa realmente complicada.

-Só não quero que a sra. Banks ache um motivo para se inclinar, ainda mais, contra você.- digo calmamente.

-Não acho que isso seja humanamente possível.- ela volta a digitar.

-Não doeria, Maya.- ignoro a careta que ela me lançou ao escutar seu primeiro nome.- Você só tem a ganhar com isso, garanto.- tento mais uma vez, saindo de seu lado e me colocando em frente a mesa.

-Sinceramente, eu não vejo o que ganharia com isso.- ela ajeita os óculos e me encara.-O valor máximo para o presente é cinquenta dólares, eu gasto mais de cinquenta dólares no sabonete que estou usando.

-Estou falando que isso mudaria um pouco a impressão que todos tem sobre você.- por debaixo da mesa de vidro ela cruza as pernas cobertas por uma meia calça e, involuntariamente, meus olhos acompanham o movimento.