satirizei
o pobre cachorro de um interior
norte rio grandense
preso no quintal de uma casa velha
amarrado a um pé de pau
levando chuva e sol ardente
satirizei
as moscas que sempre aparecerão
pra pousarem na manga que se chupa
num domingo ensolorado de verão
satirizei
as coitadas das vacas
que levam o leite à sua mesa
elas viram a mistura do almoço
e compõem a sobremesa
satirizei
os mosquitos que perturbam o seu sono
almejando a refeição do dia
o sangue composto
de cansaço e agonia
satirizei
as mães que trabalham
e ao mesmo tempo
dão casa, comida e roupa lavada
aos filhos, a razão de tanta dedicação
enquanto o marido não se presta a nada
uma pena, engolem de tudo
pra se entupir
e, tragicamente
morrerem caladas
satirizei
o sistema que nos prejudica
adorado apenas por quem se beneficia
dos inocentes que só fazem sonhar
com o dia que serão, também, um beneficiador
porque afinal, o sonho do oprimido
é ser o opressor
satirizei
o fato da ignorância
ser linda e louvável
quanto menos se sabe, menos pânico se sente
o cérebro não fica imprestável
processando tanta informação
de um mundo tão miserável
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Espinho Numa Rosa
PoesíaMinha vida Meus pensamentos Minhas rosas Meus sentimentos Meus espinhos Meus lamentos Minha saudade Meu amadurecimento
