Gozo Final

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Sasuke não sabia exatamente como havia chegado a aquele lugar, só lembrava de ter deixado Naruto trancado e ter ouvido seu escarcéu com receio de que Kabuto e Sasori fossem até ele. Não havia ficado tão surpreso com a presença do outro. Antes de atender a porta escrevera um bilhete que apareceria na mesa do escritório de seu pai. Se lembrava de descer as escadas e sair de seu prédio, depois disso havia um lapso. Acordara em um lugar escuro, com uma única luz fraca sobre si, as mãos acorrentadas no que parecia uma cama de hospital. Tentou fracassadamente se mover, percebeu que alguém o observava do canto escuro. Era Sasori, ele parecia imóvel, como se fosse só a carcaça.

“Ei.” Sasuke tentou chamá-lo. “Aonde estou?”

Sasori permaneceu na mesma posição, sequer fez menção de responder.

O moreno olhou melhor a sala, tinha uns tubos de ensaio com líquidos com cheiros fortes, alguns destampados, o que fez Sasuke chegar a conclusão de que havia sido feito um experimento enquanto dormia. Ele olhou para todos os lados e examinou a cada canto da sala. Procurando injeções, soros, bisturis ou qualquer outra coisa que possa introduzir algo. Ele ergueu a cabeça examinou seu corpo a procura de qualquer marca. Alguém entrou na sala com mais tubos de ensaio em mãos, aquilo parecia um hospital, só que menos iluminado.

“Kabuto, o que fez comigo?”

O homem seguiu até a bancada ignorando a presença do outro e continuou a mexer com seus experimentos, pegou um caderno e fazia anotações. Deu instruções para Sasori e se retirou.

“Ei, você. Garoto, o que pensa que vai fazer?”

Sasori continuou misturando as substâncias apático.

“Acha mesmo que vai se sair bem? Você não conhece mesmo Kabuto. Afinal, se ele quer mesmo que você termine esse experimento isso não deve ser lá algo muito seguro de fazer.” Concluiu e, finalmente, ganhou a atenção do outro para si.

“O corpo que eu uso é resistente e reage de forma diferente do que de uma pessoa normal, e se quer saber eu não consegui ele sozinho. Então cala a sua boca antes que eu corte sua língua com o bisturi alí na gaveta.” Disso apontando.

O moreno se calou, provavelmente o garoto não sabia da sua habilidade em mover coisas de lugar, ou estava lhe testando. De qualquer forma, ele não tinha muita escolha. Esperou o outro sair, mirou a gaveta e se concentrou nela, no que estava dentro dela especificamente. E mentalizou a imagem de um bisturi dentro dela até que pudesse sentir o metal frio na sua mão.

Sasori havia deixado o Uchiha e entrado na sala ao lado. Sabia que Naruto tinha chegado, que conversava com Orochimaru em cima de suas cabeças. Quando fora buscar o loiro, Sasuke apareceu como um bônus, deixando outro trancado que facilitaria quando Yahiko o fosse buscar. Concluiu que chegaram assim que o homem de pele branca se agitou por alguns segundos e depois subiu.

“Cuide do Uchiha.” Disse Kabuto direcionando-se para ele. “Afinal, quando se cuida de um rato por tantos anos o gozo do experimento se torna muito maior.” Deu um sorriso sombrio ajeitando o óculos.

Ele permaneceu impassível quando ao outro. Afinal, já estava acostumado com suas insanidades, anos trabalhando juntos e Sasori não se surpreendia com mais nada. Ele olhou o homem mais velho, ele parecia sereno como se meditasse todo esse tempo. Ele desamarrou com cuidado o pano sujo que pressionava sua boca e deu-lhe o pão fatiado na boca.

“Essa voz.” Disse. “Na sala ao lado, me é familiar.”

“É uma segunda cobaia. Caso você não tenha bom desempenho.” Respondeu Sasori simplista.

“Eu chamaria de destino.” Disse a voz de Kabuto atrás de si. “Os adolescentes mudam tanto o timbre de voz, pensei que não fosse reconhecer.”

O homem amarrado arregalou os olhos, esse que depois adquiriram uma tonalidade obscura.

“Sasuke.” Moveu os lábios mas nenhum som foi emitido.

“Bravo. Eu fico pensando que se vocês dois morressem um do lado do outro sem nem saber seria muito engraçado, mas eu perderia a cara que está fazendo agora.” Ele gargalhava escandalosamente. “Não quer ver seu maninho enquanto eu aplico o experimento em você? Essa seria uma cena que arrancaria vários gozos de mim.”

“Seu desgraçado.” Gritou.

“Itachi, é você?” Disse a voz vinda da outra sala.

O mais velho se amaldiçoou por ter gritado, não queria que seu irmão o visse assim. Nem queria preocupa-lo. Sasuke chamava histericamente por seu nome, ele não respondeu.

“Ah, ninguém merece esse escândalo. Sasori, aplica de uma vez isso, tá parecendo novela mexicana aqui.”

Sasori permaneceu imóvel, olhando para trás do homem. Kabuto que estava em pé se encontrava no com o pescoço sendo pressionado pelo bisturi.

“Ninguém vai concluir experimento nenhum.” Disse o moreno quase quebrando o braço do outro.

“Sabe garoto, eu admiro a sua coragem. Pena que ela não vai servir de nada. Esse experimento vai multiplicar as habilidades de pessoas como nós de forma inimaginável. Quem sabe seu irmão se perca nas próprias ilusões que cria e nunca mais volte, eu não sei ainda o resultado, é um risco. Ainda mais porque reprimimos a manifestação delas todos esses anos e quando elas se multiplicarem será como um gozo final e inesquecível.”

“Você é doente.” Disse Sasuke.

“Não, moleque. Eu sou visionário. Por isso não importo que me mate, eu vou estar eternizado nesse mundo ou no caos que ele virar. De qualquer forma, esse experimento vai acontecer.”

Sasuke o deixou no chão correndo em direção a Sasori. Pegou-o pela roupa e desferiu um soco no seu maxilar duro. Ele teria sentido a dor de alguns dedos quebrando se não estivesse possesso. Kabuto ria ainda no chão da sala e a seringa vazia repousava no chão.

Sasuke estava com os dedos quebrados e Sasori tinha o maxilar rachado. Itachi permanecia imóvel como um defunto. Kabuto se aproximou de seu corpo. Antônio. De repente seu semblante obscureceu.

“Isso está errado. Esse não pode ser o gozo final. Não. Não foi isso que eu imaginei. Sasori, aplique em mim. Eu quero sentir esse gozo, custe o que custar.”

Ele se sentou enquanto o outro preparava o experimento, Sasuke se aproximou do corpo imóvel do irmão. Ele descansava sereno.

Sasori se aproximava com a injeção, mas foi derrubado pelo Uchiha.

“Então foi por isso que meu irmão morreu? Por nada.” Disse tampando no chão. E quebrando o vidro de seringa. “Tudo isso não passa de lixo criado por um lunático.” Disse derrubando os vários vidros no chão e o que restava de sua experiência.

Mas Kabuto permaneceu impassível, como se nada mais fizesse sentido. Aquilo não significava mais nada.

“Então está na morte o gozo final?”

Foi a última coisa que Sasuke ouviu antes de ver o homem com o bisturi na garganta.

Kabuto permanecia lá imóvel, ainda sangrando, não havia gozo, sequer satisfação. Era como uma angústia crescente. Sua roupa estava encharcada, estava sozinho e ainda não tinha gozo, só a espera. Nada havia mudado.



Lembrando: Kabuto, na história, é um maníaco, essa foi a interpretação dele sobre a morte. E não posicionamento nenhum referente a esse tabu que é o suicídio, sendo ele algo muito mais complexo. Eu não vou entrar nessa discussão nem romantizar nada. Era só a cabeça de um personagem e o que ele pensava. Não um posicionamento.

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