Carona

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O sinal toca e ambos vão para sala. Eles entram na mesma hora e Sai lança um rápido olhar para o loiro, antes de virar o rosto para a janela.

Naruto dá um suspiro. E a aula se segue, ele não consegue prestar atenção em nada do que o professor diz. Sasuke estava em perigo, e ele não podia contar a ninguém, não havia ninguém com quem contar. Sentia falta do melhor amigo, aqueles dias estavam sendo duros para ele. Muitas pessoas conversavam atrás e muito alto. Ele virou para pedir silêncio mas ninguém falava, as vozes aumentaram em sua cabeça, ele a abaixou e segurou, com as mãos trêmulas, nos cabelos. Os gritos se intensificaram de forma que um fio de sangue escorreu por seu nariz. Ele levantou a cabeça, com a visão turva só pode ver a cara de preocupação de Sai antes de desmaiar no chão duro. Não sentiu dor, só o frio do chão.

Ele acorda sem reconhecer o lugar, a visão meio turva e tenta se levantar bruscamente, mas sente muita tontura e perde o equilíbrio. Cairia se não tivesse sido amparado antes de cair no chão.

"Vai com calma, amigo. Foi um baque e tanto." Ele o ajuda a sentar na cama e escora na parede de frente para ele.

"O que aconteceu? Eu estou na enfermaria?" Disse tentando recuperar os sentidos.

"Está sim. Depois que você desmaiou o seu amigo ficou muito preocupado. E o garoto popularzinho também, então eles tiveram uma discussãozinha e eu me ofereci para te trazer. Eles ficavam atrasando o processo então eu resolvi." Deu de ombros.

"Obrigada." Disse meio vermelho. Ele sempre fora da sua sala mas não lembrava do seu nome.

"A propósito meu nome é Sasori." Sorriu amigável.

"Ah sim. Eu já sabia." Respondeu sem jeito.

"Tudo bem, Sasori. Pode ir, eu levo ele para casa." Disse o homem que acabara de chegar no recinto. Naruto arregalou os olhos e ficou encarando o homem se despedir do garoto.

"Eu sabia que voltaríamos a nos ver, mas quem diria seria tão breve. Só pode ser obra do destino."

"Kabuto. Eu nunca te vi aqui na escola antes."

"Você já veio a enfermaria alguma vez?"

Naruto deu de ombros e permitiu que o outro o ajudasse a se levantar. Eles saíram de lá, os corredores estavam vazios. Nem uma alma viva por lá.

"Onde estão todos?" Pergunta o loiro.

"Foram pra casa. Horas atrás." Responde Kabuto. "Vamos pelos fundos meu carro. Fica pra lá."

"É por isso que você não pegou o ônibus então, né?" Diz o loiro inocente.

"Naruto." Diz uma voz atrás dos dois.

"Kakashi-sensei." O loiro se vira. "O que está fazendo ainda na escola?"

"Eu fiquei corrigindo umas provas e acabei passando do horário." Diz com a mão na cabeça. "Vem, eu te levo pra casa." Fala ignorando completamente a presença do outro.

"Com licença. Eu já vou fazer isso. Ele acaba de sair da enfermaria e eu estou certificando"

"Não será necessário." Ele o interrompe pondo a mão no ombro do loiro. "Eu estou indo pra casa agora. Seu trabalho já foi cumprido por aqui."

Ele encaminha Naruto até a saída deixando o outro parado.

"A propósito" Se vira. "Eu não me lembro de ter te visto aqui na escola uma outra vez."

"Sou novo." Grita o outro já de costas. "Passar bem, Naruto." Acena ainda virado.

"Vamos." Diz Kakashi.

"Hai. E aonde fica seu carro, Kakashi-sensei?" Diz o loiro ao pisarem na calçada.

"Vamos de ônibus." Responde.

"O que? Quer dizer que você me fez perder a minha carona pra casa pra ir de ônibus?" Naruto o olha inconformado.

"Deixe de frescuras. Pelo o que parece você já está bem melhor e pode muito bem ir pra casa sozinho."

"Como é?" Ele se vira e vê Kakashi indo embora e dizendo um breve "a gente se vê amanhã". Pensa o quão estranho era o professor e segue seu caminho.

Quando chega em casa seus pais já haviam chegado. Embora tivessem que trabalhar sabia que os dois haviam passado por ali, sua mãe lhe deixara um belo ensopado no fogão. Ele se trocou e começou a comer.

Então Sai ainda se preocupava consigo, ele pegou o celular enquanto comia e viu o contato do amigo algumas vezes.

Os dedos percorreram se encostar e no teclado e, por fim, acabou digitando somente um "oi".

Ele acabou de comer e viu que o outro ainda não respondeu. Com o celular novamente em mãos digitou novamente.

"Sinto sua falta."

Ele viu que o outro ficou online e depois offline sem responder. Desde a infância que eram melhores amigos e desde sempre que o outro fora melhor com as palavras do que ele. Não era bom com essas situações.

Se jogou na cama, encarando a foto do garoto. Nada. Nenhuma mensagem, nenhum telefonema, ele sequer devia estar com o celular em mãos. Ele tentou ser o mais sincero e sucinto possível. Apertou no botão do áudio.

"Err..." Deslizou o dedo e apagou.

Pensou em algo para dizer e tentou uma segunda vez.

"Oi, Sai. Eu sei que você está chateado comigo. Mas eu preciso de você. Quer dizer. Não. Eu entendo porque você está chateado comigo, mas nesses dias se passaram coisas de mais. Eu acabei descobrindo coisas sobre mim e outras pessoas. E, eu sinto que isso, de alguma forma, acabou ficando entre a gente..." Não conseguiu concluir, sentiu a garganta apertada e dela não saiu nenhuma palavra mais. Vinte três segundos sem falar nada. Ele deslizou o dedo na tela e apagou o áudio.

Suspirou. Apagou a tela do celular. No mesmo instante ela fica acesa de novo notificando uma mensagem.

Ele abre a tela com certa pressa. E vê uma mensagem inesperada.

"Oi loiro. Quer me encontrar mais tarde?"

Que cara mais convencido. Ele deixou escapar um murmúrio de insatisfação. Aquelas palavras de Nagato ainda estavam na sua cabeça. De um jeito ou de outro era melhor tirar isso a limpo. Não que estivesse apaixonado por ele ou coisa do tipo. Mas estava curtindo ficar com um garoto sem medo e arrependimentos. Sem ter que dar algo em troca, sem precisar amá-lo.

"Claro. Por que não?" Ele mandou meio receoso. Não fazia seu estilo bancar o descolado. Por mais que não precisasse corresponder não sentia-se livre como com Sai. Era tudo tão confuso. E também tinha Sasuke, por que sonhara com ele? Ou pior, por que pensou nele quando mandou a resposta de confirmação.

Bagunçou seus cabelos, e viu a mensagem chegar.

"Beleza loiro. Te espero praça de antes."

Ele não respondeu simplesmente bloqueou o celular. Pegou seus fones na gaveta e pôs algo dançante para que passasse o tempo. Quando deu por si já estava requebrando e descendo até o chão.

Ele se olhou no espelho do guarda roupa, e sorriu. Mesmo com a cobrança dos pais, da escola e as reclamações de Sai na sua cabeça, sempre arranjava um tempo para dançar e agora não seria diferente. Sempre gostou de dançar dessa forma, quem o olhasse nas festas diria até que ele era vulgar, mas quem se importava? Sai nunca havia se importado. Sakura sim, mas e daí? Ela o deixava de lado o tempo todo. Nunca foi essencial como Sai. Esse sim sempre fora, ele continuava se expressando com o corpo. Dessa vez uma música mais lenta e melódica, continuava rebolando. Em ritmo mais lento e suave. Sensual seria a palavra. Não se importava em casa ou na rua a dança era a mesma, contanto que a emoção fosse. Ele seduzia lentamente alguém com seus movimentos de braço, a mão deslizando suavemente pelo corpo enquanto descia devagar e subia. Quem seduzia? Pra quem dançava?



E então, pra quem?

Pense em mimOnde histórias criam vida. Descubra agora