O início

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Carolina

Mais um ano letivo que se inicia e nada de novo acontece nessa escola.
Nem para mudar de turma, tenho sorte. São sempre as mesmas caras !!!

Observo o movimento dos alunos conferindo na lista suas respectivas salas, como se fosse haver alguma alteração.
O Colégio Marista Nossa Senhora da Glória, não é conhecido por inovar. Sendo assim, não entendo a razão de tanto alvoroço.

Ainda presa em minhas reflexões, tenho minha atenção desviada para a entrada, onde um garoto em uma cadeira de rodas vem sendo conduzido pela mãe.
Opa !!! Ele é novo na área e não parece nem um pouco satisfeito.

Olho atentamente para eles, assim como os demais, que abrem espaço no corredor para que passem.
Percebo os grupos aos cochichos, olhando para ele, sem disfarce algum.
E me sinto constrangida por ele. O pessoal daqui, tem dificuldade em lidar com o diferente.
Eu que o diga !!!

Bem, a seu favor, posso dizer que ele é lindo !!! Cabelos escuros e olhos claros ... Não consigo precisar a cor. Só chegando mais perto.

A mãe do garoto diz algo para ele, que dá de ombros com uma expressão de pouco caso. Ela o conduz até a sala do oitavo ano A, por acaso a minha e tenta acomodar sua cadeira entre as tantas carteiras.
Mais que depressa me dirijo para lá e começo a afastar as mesas.
Ela sorri e murmura um obrigada contido. Já ele me olha de cima à baixo e, revira os olhos.
Uau !!! Que antipático !!!
Olho azuis, lindíssimos. Mas o dono pelo jeito é um nojo.

Assim que conseguimos ajeitar o espaço, ele conduz a cadeira de rodas, ficando de costas para mim.
- Muito obrigada pela ajuda !!! Eu achei que as freiras iriam organizar a sala...
- Mãe, elas devem ter mais com o que se ocupar, pelo amor de Deus !!!- interrompeu bruscamente.
- Caio, elas sabiam que você ia começar hoje e eu pedi...
-Para me tratarem como um inútil ?! Você não muda !!!- a irritação o dominava.
- Não !!! Eu só me preocupo com você !!! Tanto que cedi, para que viesse estudar nessa escola.
- Ah, claro !!! Muito obrigado pela consideração, mamãe !!!
Assustada, permaneci estática observando a discussão. Até porque, ele havia fechado minha passagem.
- Bem, seja bem vindo ... ?- toquei em seu ombro levemente e senti um choque percorrer meus dedos.
Ele me ignorou ostensivamente. E para não ficar chato, a mãe respondeu:
- Caio. Eu sou Milena. E você é ?
- Carolina.
- Muito prazer e mais uma vez, obrigada pela ajuda.
- Imagine !!! Sempre que precisar ...
Fui interrompida, pela entrada dos demais alunos na sala. O sinal já tinha tocado, mas não me dei conta, tão envolvida fiquei pela situação.
- Bem, eu vou indo filho. Qualquer coisa ...
- Eu ligo, mãe. Pode deixar.- completou, apressando-a a sair com um gesto.
Aff, que garoto insuportável !!!

- Senhorita Brandão, pretende se sentar ou vai ficar de guarda- costas do aluno novo ? - Irmã Selma, professora de matemática, me interpelou nada simpática como sempre.

Senti todos os olhares se fixarem em mim e desejei desaparecer, ficar invisível.
- Bom dia, Irmã Selma. Pretendo me sentar.
Sem cerimônia, empurrei a cadeira dele para frente e me sentei ao lado, na última carteira vazia.
- Mas o que ...
- Desculpe, eu precisava passar.- disse cortando sua pergunta.

Ele bufou e virou o rosto, aparentemente se concentrando na professora.
- Bom dia, turma. Sejam bem vindos à mais um ano letivo. - ela nos olhava firme e com um sorriso nada caloroso- Como perceberam, temos um novo colega e quero que dêem as boas -vindas a ele. Por favor, senhor Figueiredo se apresente.
Eu odiava esse hábito dela de nos chamar pelo sobrenome e odiava mais ainda, essa necessidade de nos expor.
Percebi o desconforto dele, mas achei bem feito para o esquentadinho.
- Oi, meu nome é Caio.- disse por fim, baixinho.
- Seja bem-vindo , Caio.- Ana Paula, a fresquinha da turma, puxou o coral.
Porém, o olhava como se ele fosse um espécime raro.
- Muito bem. Apresentações feitas, vamos ao que interessa. Esse ano, vocês trabalharão em duplas na minha matéria e ficarão com o parceiro ao seu lado.
Olhei assustada dela para o garoto nada simpático e tentei fazer uma objeção.
- Mas irmã Selma, nós não ...
- Senhorita Brandão, nem mais nem menos. Os seus colegas já  formaram as duplas e me parecem bem satisfeitos.

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