Miguel

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Certamente, eu, Marcelo, Carol e Caio, formamos um grupo improvável. O mulherengo e inconsequente, vulgo euzinho aqui. O popular e desejado por todas as garotas, a nerd considerada a esquisita e o que todos acham, diferente.
Eu amo fazer parte desse grupo, porque ele é formado pelas melhores pessoas do mundo.
Marcelo é um parceiro sem igual.
Carol a irmã que todo mundo gostaria de ter. Companheira, aliada e que te coloca no prumo quando necessário, ora com suas broncas, ora com um chamego e seu " Eu estou aqui. Conte comigo."
E o Caio, o que dizer desse cara fenomenal?
Amigo para todas as horas, sensato, o equilíbrio do nosso quarteto com sua perspicácia e humor sagaz.

Crescemos nos apoiando, sendo alicerce um do outro. Infelizmente, uma confusão de sentimentos se instalou entre nós.
Não sei quando ou como, mas obviamente, o Marcelo deixou de ver e sentir a Carol como amiga/irmã.
E a Carol, pensando bem, nunca viu o Caio dessa forma. Sendo assim, formou-se a ciranda: Marcelo gosta de Carol, que gosta do Caio, que gosta da Livia, que claramente não gosta de ninguém a não ser de si mesma.
Garota fútil e egoísta !!!
Enfim, voltando a minha análise ... o problema nisso tudo é que estamos nos afastando.
Sei que com a ida para à Universidade, iríamos nos afastar de certa forma, fisicamente ao menos.
Porém, estamos nos afastando emocionalmente !!!
Marcelo, desde o dia infeliz do baile, se fechou em copas e mal respondeu minhas mensagens.
Carol grudou no Caio e, eu tentei ficar próximo e apoia-los no que foi possível.
Mas tenho a sensação de que estou falhando ... E não só com eles.

A partir do momento em que decidi cursar Relações Públicas e não Direito, como todos os homens da família, a maneira como meus pais me tratam mudou.
Passei de filho de ouro, a " Esse aí ".
Contudo, me mantive firme em minha decisão e com a grana que recebi de herança dos meus avós maternos, vou morar em outra cidade.
Entretanto, me sinto triste, magoado com essa situação. Por que meus pais não podem respeitar e apoiar meu sonho?!

Me sinto esgotado e, não poder conversar com nenhum dos meus irmãos de coração torna tudo pior.
Só me restou colocar a máscara de Miguel o inconsequente, que leva tudo na brincadeira e fingir que está tudo bem.
Afinal, Caio e Carol, precisavam de apoio, de ânimo elevado. Só não sei se fui bem sucedido na minha representação dessa vez ...

Para piorar a situação, só me dei conta agora que estou indo morar em outra cidade, do quanto gosto da garota que estou ficando.
Lara além de linda e sensual, é divertida, inteligente, me faz me sentir bem comigo mesmo. Junto dela me sinto a vontade para ser eu mesmo, sem frescura ou disfarces.

 Junto dela me sinto a vontade para ser eu mesmo, sem frescura ou disfarces

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Acontece que por pura burrice, acabei por afastá-la de mim.
Esse meu jeito irreverente, de quem não quer compromisso e não se apega fácil, na verdade, só esconde o medo de me entregar e ser rejeitado. E viver uma relação como a dos meus pais, em que minha mãe aceita, tolera todos os descasos e desmandos do meu pai, por gostar demais.

Enfim, acabei metendo os pés pelas mãos e ela não quer nem me ver pintado de ouro.
Agora mais do que nunca, preciso dos conselhos sensatos do Caio. Que apesar de não ter experiência, sempre acerta.

Sem mais hesitar ligo para ele:
- É aí, mané? Pode falar?- pergunto assim que ele atende.
- Posso muleque. O que manda?
- Preciso de uma ajuda ... sabe a Lara ? Ela está com raiva de mim e preciso reverter essa situação ...
- Sei. Mas o que você fez dessa vez?- questionou com tom de riso na voz.
- Eu ... bem ... Ela me viu conversando com outra menina ...
- Conversando, Miguel? Ou ...
- Sério, cara !!! Só conversando, mas é que a Pati é grudenta e estava muito perto, então ...
- Você ferrou com tudo !!! - disse sério- Olha, se eu fosse você, iria a casa dela e conversaria frente à frente.
- Eu pensei em fazer isso ... Mas e se ela não quiser me atender?- disse inseguro.
- Insiste, oras !!! O não, você tem.- respondeu resoluto.
- É ... você tem razão. Valeu cara.
- Miguel ...
- Sim ?
- Mas só vá, se realmente gostar dela. Não brinque com os sentimentos dela, cara.
- Eu gosto ... e muito. Pode ficar em paz, quanto a isso. Mais uma vez, muito obrigado.
- Boa sorte.

Desliguei, certo do que eu tenho que fazer.
Que a boa sorte me acompanhe.

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