Salvation

Palavra não dita, oportunidade perdida

Carolina

Meu Deus do céu!
Que gosto ruim é esse na minha boca?! Por que minha cabeça tem uma banda desafinada tocando dentro dela?!
Em um flash me recordo do primeiro copo de uísque e da coragem líquida, adquirida.
Em seguida, mais flashs confusos de Marcelo e eu, tomam a minha mente e me fazem sentar abruptamente na cama... ops, mundo girando em uma rotação acima do normal!
E quando pintei as paredes do meu quarto de cinza?!
Opa!
Não estou no meu quarto e definitivamente, o mundo está rodando muito rápido... enjoada, saio tropeçando e consigo chegar ao banheiro, antes de fazer um estrago maior.

Depois de colocar a alma para fora, retorno ao quarto e me jogo novamente na cama, que reconheço como sendo de Marcelo.
A pergunta que não quer calar é: como vim parar na casa dele, sendo que combinei de dormir no apartamento do Caio?
O que será que eu fiz depois da terceira dose de uísque?
Será que me declarei?
E onde Caio e Marcelo estão?

Antes que eu pudesse fazer algo para conseguir as respostas para todas essas questões, ouvi uma batida leve na porta e Marcelo entrou.
- Bom dia, Carol. - disse sério - Como você está se sentindo?
- Bom dia. Destruída.- respondi tentando analisar a expressão indecifrável.
- Era de se esperar, afinal, para quem não bebe nada além de vinho, você extrapolou...
- Marcelo, sem sermão, por favor!- interrompi sua fala carregada de reprimenda.
- Não se trata de sermão, Carolina! Fiquei apavorado quando te vi naquele estado! - redarguiu incisivo - Falando coisas desconexas e...
- O que eu disse exatamente?! - questionei em pânico.
Depois de uma breve hesitação, respondeu:

- Falou que era corajosa e que precisava conversar com o Caio. Depois chorou e apagou.- me encarou - Ele já tinha ido embora, quando tudo isso aconteceu...
- Graças a Deus !- soltei involuntariamente.
-O que está acontecendo entre vocês?- questiona incisivo, me encarando firmemente.
Ao mesmo tempo aliviada e surpresa, olhei para ele por alguns instantes, antes de responder evasiva:
- Acontecendo entre nós?! Como assim?!
- Foi o que eu perguntei, Carolina.
Percebi que estava irritado e não entendi a razão.
- Não está acontecendo nada! E por que você está irritado?- indaguei me sentando na beirada da cama.
- Eu não estou irritado!- disse passando a mão pelo cabelo em um gesto nervoso- Só quero entender o que houve ontem, o que te levou a se embebedar!
Seu olhar aprisionou o meu e me senti enregelar.
Nós sempre fomos amigos, sempre o considerei meu confidente, mas nunca tive coragem de falar sobre os meus sentimentos por Caio. Algo me impedia de compartilhar essa faceta da minha vida. E agora, diante dessa postura inquisitorial, me senti compelida a esconder o que desejei fazer e, principalmente, o que sinto.
- Eu... ora, só quis comemorar! E talvez, tenha extrapolado um pouco...
- Extrapolado um pouco?! Você estava completamente bêbada, Carolina!- disparou raivoso.
- Ei! Foi só um porre! Ou coloquei a vida de alguém em risco?!- redargui irritada com o comportamento autoritário-  E você é a última pessoa que pode me julgar! Já fez isso várias vezes.
Afastou -se por um momento, passando as mãos pelo cabelo, repetindo o gesto claro de nervosismo.
- Eu não estou te julgando, é que me preocupo com você! E...- parou de falar de maneira abrupta, me dando as costas novamente, rompendo assim o nosso contato visual.
Me aproximei e toquei suas costas, a rigidez em seus músculos me deu a noção da tensão que o dominava.
- Má, não quero discutir...- contornei seu corpo alto e forte, me colocando à sua frente- Agradeço por sua preocupação e cuidado, mas estou bem. Só abusei da bebida por conta da emoção.
Inesperadamente, ele me abraçou e disse:
- Ah, Carol se você soubesse o quanto ...
O som do telefone tocando interrompeu sua fala emocionada. Ele me soltou abruptamente e praguejando, saiu do quarto.

Se eu soubesse o que?
Marcelo estava ficando cada vez mais difícil de entender. Aliás, nos últimos anos impôs uma distância física e emocional entre nós, que não consigo compreender a razão.
Mas vou esclarecer essa situação de uma vez por todas. O que quer que esteja o afastando de mim, de nós todos, terá que vir às claras e, farei o meu melhor para ajudá-lo.
Decidida me encaminhei para o banheiro, um banho é o primeiro passo para colocar as coisas nos eixos.