Chapter 11 - "Agora e sempre"

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XI

Jeff

Então era verdade! Eles eram como eu. Era impossível que algum humano soubesse este código; a comunicação entre humanos e sem almas era praticamente impossível porque tanto a internet como outros meios de comunicação como telemóveis e telefones eram restritos. Isto não era uma brincadeira.

O ecrã mudou de novo e desta vez apareceu um texto um pouco maior.

Se conseguiste entrar aqui, significa que és mesmo um de nós. Não foste o único a ser expulso da nossa cidade; existem mais como tu e há dois anos que os estamos a reunir a todos. Por enquanto só temos uma casa segura, onde estamos e sobrevivemos há bastante tempo. Eu sou diferente. Eu comecei este movimento porque estou com uma pessoa que me ajudou a ser aquilo que eu devia ter sido desde o início. Ela curou-me a mim e a outra rapariga quando estávamos confusos e já não sabíamos quem éramos. Se estiveres com o mesmo problema, podemos curar-te a ti também se estiveres disposto a isso. Não estás sozinho. Vem juntar-te a nós nesta morada e vem sozinho; podes confiar em nós. A chave para entrares é Agora e Sempre

No final da página estava a morada à qual eles se referiam. Era muito longe de onde nós estávamos. Só naquele momento é que a Sharon retirou os olhos do ecrã e olhou para mim a sorrir.

- É verdade! Eles podem ajudar-te, se o que tu estiveres a passar for o mesmo que eles passaram em tempos. Esta confusão toda pode acabar.

Ela tinha razão. Eu agora tinha a certeza de que era possível. Eu tenho de encontrá-los; eu tenho de juntar-me a eles se quero sobreviver.

- Espera, estás a pensar ir ter com eles? - perguntou-me com um certo brilho nos olhos.

- Sim. - respondi.

- E é só assim? Vais-te embora sem... - parou para refletir com uma expressão séria e depois continuou. - Sabes que mais? Vai. Tu tens de ir. É o melho para ti, eu se que não vais vacilar quanto a isso.

Ela levantou-se com um sorriso fraco e dirigiu-se à porta do quarto. Chamou-me e eu segui-a; a Ruth não parava de nos chamar.

Nessa noite não consegui adormecer a pensar em todas as hipóteses que tinha. Estava a começar a duvidar das minhas certezas. Quer dizer, eu tinha a certeza de que era o mais seguro para mim mas havia qualquer coisa que me dizia que eu estava muito bem aqui e que não devia deixar esta casa. Será que era porque eles de certa maneira ainda estavam em perigo desde a outra noite? Ou será que era por causa da Sharon? Peguei no caderno que estava no chão perto das minhas sapatilhas, liguei a luz e reli o que tinha escrito. Uma parte de mim queria ficar com a rapariga de cabelos loiros... “Ela estava a chorar e se eu tivesse chegado mais cedo ela poderia não estar assim.” Ela significava alguma coisa para mim, mas eu já não me comseguia lembrar. “Ela agora está deitada à minha frente a dormir e tudo o que eu quero fazer é abraçá-la e dizer-lhe que não vai voltar a acontecer”.

Se eles me pudessem curar, talvez eu pudesse descobrir o que aquilo significava. Mas eu não podia. Pelo menos ainda não.

Na semana seguinte comecei a trabalhar. Trabalhei em todos os turnos para ganhar o máximo de dinheiro possível porque se estava a pensar fazer uma viagem tão grande, precisava mesmo de dinheiro. A única coisa que eu fazia baseava-se na arrumação dos produtos e por vezes na limpeza das casas-de-banho. A gerente chegou à conclusão de que eu não tinha a capacidade de falar com os clientes, já que eu não me importava muito com o que eles queriam ou deixavam de querer. Afinal aquela rapariga que eu tinha encontrado no primeiro dia em que lá tinha estado, não trabalhava de todo. Ela metia-se com alguns clientes e lia revistas o dia todo. Não havia nada de útil que ela fizesse e depois de se aperceber finalmente de que eu não estava interessado em falar com ela, afastou-se de mim e agora só falava comigo quando era mesmo necessário.

Soulless - Sem alma (portuguese)Onde histórias criam vida. Descubra agora