Chapter 10 - O conflito

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X

Sharon

Endireitei-me no meu lugar e respirei fundo. Ele não me iria magoar, eu sabia que não; mas teria que exagerar um pouco para que ele reagisse.

- Sabes, os meus pais amavam-me. Eles deixaram-me muito cedo e parece que nunca saberei o porquê, exatamente, mas a verdade é que eles me amavam muito e dariam as suas vidas por mim.

Ele olhou para mim desconfiado sem se aperceber do que eu estava a tentar fazer. Como ele não dizia nada, continuei.

- O Brian também me ama, bem como a Ruth. Eles são a minha família. Dizes que nós, humanos, somos fracos por sentirmos tantas coisas diferentes, mas eu diria que isso só nos faz mais fortes.

- O que é que estás a querer dizer com isso? - perguntou-me finalmente, com uma expressão um pouco ameaçadora.

- Quero dizer que és fraco. Não me venhas com as tretas de seres um Guerreiro, porque apesar de seres forte, foste expulso da tua própria casa e não houve nem uma única pessoa a defender-te. Como se estivessem aliviados pelo facto de desapareceres. - levantei-me, um pouco nervosa, e dirigi-me à televisão para a desligar. Desta vez fiquei de costas para ele enquanto falava. A chuva caía agora ferozmente e o vento agitava as árvores visíveis da janela da sala.- Eu não era capaz de viver num sítio onde aqueles que se deviam preocupar comigo me deixariam morrer para salvar a própria pele.

- Porque é que estás a dizer estas coisas? - ouvi-o atrás de mim quase num sossurro. Virei-me e encontrei-o de pé atrás de mim. Conseguia ver que estava a começar a afetá-lo; já não encontrava confusão nas suas feições mas sim uma mistura de descontentamento e raiva. Estava a funcionar! Mas ao senti-lo tão próximo de mim, comecei a duvidar se isto tinha sido uma boa ideia.

- Porque é a verdade. - A minha cara ficava ao nível do seu peito por isso ganhei coragem, ergui o queixo com alguma dificuldade por causa da ferida no meu pescoço e encarei-o destemidamente apesar de começar a sentir pena por ele. - Os sem alma nascem sozinhos e morrem sozinhos, tu não és uma excepção.

Os olhos dele estavam agora semicerrados:

- Isso não é verdade. - ele aproximou-se de mim e estava visivelmente a conter-se para não gritar comigo. Estava a resultar!

- É sim. Pensa nisso...

- Sharon, para! - avisou-me, mas eu ignorei-o completamente

Tentei pensar antes de falar mas falhei miseravelmente e já me estava a arrepender das minhas próprias palavras antes mesmo de as proferir:

- Eu tenho o que tu nunca poderás ter. Eles preocupam-se comigo e eu com eles...

- Para! Já chega! - pegou nos meus pulsos com força e empurrou-me contar a parede entre a televisão agora desligada e a janela mais próxima coberta de chuva. Eu não ia desistir, não agora.

Soulless - Sem alma (portuguese)Onde histórias criam vida. Descubra agora