Até a última canção de amor (Concluída)

Capítulo 1 - Olhos perigosos

Lauren Jauregui point of view

"A voz do anjo sussurrou no meu ouvido, eu não duvido já escuto os teus sinais."

Alceu Valença – Anunciação

O Rio de Janeiro era definitivamente meu lugar favorito no mundo. Cada pequeno detalhe da cidade me encantava.

Eu tinha plena consciência de que apesar de almejar isso o Rio estava longe de ser um mar de rosas. Um lugar cheio de excentricidades e diversidade cultural era no mínimo de tirar o fôlego.

A cidade em que a dor e a beleza vivem em mesma proporção, onde o fascinante e belo camufla uma realidade não tão excitante e que mesmo assim, sendo uma máscara bonita que camufla uma realidade que está longe de ser um modelo social, o Rio de Janeiro continua lindo, assim como na música de Gilberto Gil .

O Rio não era bonito pela aparência que agradava aos olhos, o Rio era bonito porque era real. Uma cidade com pessoas reais e sofrimentos reais. Com histórias incríveis e uma vontade gigante de vencer. O Rio era bonito porque era intocável, as pessoas não desistiam e eu sabia que jamais iriam.

Nasci e fui criada no Méier com uma família quebrada e uma mãe que sempre fez o possível e impossível para não deixar faltar nada em casa. Vi quando era nova demais minha irmã mais velha sair de casa para se casar com um rapaz dez anos mais velho, apenas por ter engravidado e desde então as coisas se tornaram ainda mais complicadas. Principalmente após Taylor perder o bebê.

Minha mãe sentia falta de minha irmã, mas se recusava deixar o Rio para visitá-la. Ela possuía uma conexão absurda com a cidade maravilhosa e de alguma forma ela se sentia presa aquela terra e não a deixava por nada.

E sempre senti a necessidade em contribuir de alguma forma com as despesas. O único problema era que eu não era boa em exatamente nada, eu gostava de cantar e escrever, entretanto aquilo jamais pagaria as contas ou colocaria comida dentro de casa, pelo menos era o que eu achava.

Minha vida era pela música e briza marítima da praia de Copacabana. Eu amava aquele lugar e durante muitas noites a areia da praia foi meu refúgio. E tudo teria continuado assim, comigo fazendo bicos para ajudar em casa e tomando na cara por ser mulher, pobre e precisar da ajuda de alguém.

As coisas teriam continuado uma merda se não fosse por um vídeo, uma gravação de mesa de bar onde eu tomava algumas cervejas com uns amigos e tocava no violão do dono do bar sua música favorita. A canção era "Pela luz dos olhos teus – Vinicius de Moraes".

Acho que nunca conseguirei agradecer por tudo que aconteceu após aquele vídeo viralizar. Em pouco tempo minhas redes sociais bombaram e as pessoas queriam me ouvir cantar e graças a isso eu tive a oportunidade de lançar um EP e um single com um rapper carioca muito conhecido.

A música me proporcionou um top dez no Spotify e uma oferta para lançar um álbum de verdade e aquilo mudou minha vida de uma forma absurda.

Com o dinheiro reformamos nossa casinha no Méier e então minha mãe teve a oportunidade de expandir seu negócio de doces e quentinhas.

Ela nunca esteve tão feliz.

Com a chegada do verão o calor do Rio se tornava quase insuportável e eu soube que era o momento ideal para tirar um tempo e visitar minha irmã.