Capítulo 2

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Ederson Moraes

As coisas não terminaram nada bem entre os meninos. Eu sabia que não terminariam bem, estava claro que a reaproximação do Firmino não era desprovida de segundas intenções, meu irmão tem dessas coisas. E no fim, ele também saiu machucado. 

Roberto é uma cara bom, já me ajudou nos meus piores momentos, esteve do meu lado quando eu mais precisei. 

Ele está cursando administração por pura obrigação, meu pai quer que ele assuma os negócios da família, o que não é o sonho do meu irmão. Firmino ama música, principalmente Wesley Safadão. 

Agora eu, eu sim amo esse universo do senhor Firmino, mas o mesmo está empenhado em me tirar do controle de qualquer empresa da nossa família, apenas porque "não sou um herdeiro legítimo", como ele sempre faz questão de dizer. Todos devem pensar que sou covarde ou acomodado por não enfrentá-lo, mas não, não sou. Apenas sou grato por tudo o que ele me fez e de onde ele me tirou. José Firmino me permitiu estudar nas melhores escolas, ter um lar e agora realizou o meu sonho de cursar uma faculdade em Liverpool. 

Renunciei muitas coisas para estar aqui hoje. Ainda tenho sonhos com o passado, mas nada que eu não possa superar um dia. Acredito que não devo lutar por algo que já está perdido. Falo da minha vida amorosa, algo que eu já desisti de lutar faz tempo. Já pensei em recusar o dinheiro que meu pai mandar para pagar a mensalidade da faculdade, em arrumar um trabalho e me virar. Já pensei no estado em que meu coração se encontra e quis dar uma nova chance ao que ele sente, então lembro-me das ameaças. Mesmo que eu não dependa mais de José, ainda vou ter seu sobrenome, e ele não quer o nome da sua família sujo. Com isso, só consigo me perguntar o que vai acontecer quando ele descobrir que o Firmino nunca vai casar com uma mulher?

(...)

Enfim cheguei no apartamento do Firmino. Estou muito feliz em saber que meu irmão saiu da casa de nossos pais. Penso que morar lá não estava fazendo bem, pois, o mesmo vivia constantemente sendo manipulado pelo meu pai, agora ele pode ter uma certa liberdade. Sei que tem uma pessoa na faculdade sendo paga para nos vigiar, sobretudo a mim, e ainda não consegui descobrir quem é, provavelmente um funcionário.

Toquei a campainha, e logo a porta é aberta por Firmino.

- Ederson? - Firmino perguntou surpreso. Conversamos pouco na faculdade e também estamos um pouco distanciados há um tempo.

- Olá, velho amigo.

Não é uma mentira essa frase. Um dia, nós dois fomos bons amigos, mas acho que tanta dor nos separou um pouco. Somos dois homens, dois caras adultos, presos aos pais por motivos diferentes, entretanto, carregamos fardos e demônios quase iguais.

- Ed, estou muito feliz em te ver. - sua voz soou embargada pelas lágrimas. Meu irmão estava derrotado.

- Ei, você não pode deixar essa dor dentro de você te vencer. - segurei seu rosto entre minhas mãos.

- Você errou, Rofi - ele revirou os olhos com o apelido. Eu sabia que ele odiava, e é por isso que o chamo assim. - Agora é hora de assumir os seus erros e aceitar as consequências.

- Eu não quero ir pra faculdade e ter que olhar para ele...

- E vai evitar o Gabriel até quando? - perguntei respirando fundo.

Firmino nunca soube consertar seus erros. Sempre precisou de alguém para lhe mostrar o caminho. E, no momento pareço ser a pessoa que ele precisa. Porque em meio a todo esse caos, sou a única pessoa que não o odeia.

- Você quer sentar e ouvir minhas desgraças? - perguntou ele.

- Só se você quiser ouvir as minhas. - sorri.

- Sempre. - afirmou.

Sentamos no sofá e ele começa a falar.

- No começo não era nada sério. Pensei que ia levar bem até o fim, mas eu já devia saber como os clichês terminam, não é? - confirmei. - Eles sempre terminam em amor. O que ninguém me explicou, é que nem sempre o amor termina em sorrisos. Droga, Ed, era pra ser só uma brincadeira. 

- Danos colaterais, Rofi. - ele concordou.

- Sua vez. - apontou com a cabeça para mim.

- Estou pensando em recusar o dinheiro que nosso pai manda para pagar a mensalidade, mas sei no que isso vai resultar. - suspirei exasperado.

- Em guerra. Ele vai morrer quando souber que não vai existe ninguém para administrar as empresas dele.

- Quero... - fui interrompido.

- Ed, enxergue o óbvio. Nosso pai nunca vai aceitar você como CEO, pelo simples fato de ser homossexual e... - ele não terminou a frase, mas eu sabia o que iria dizer.

- Por eu ser adotado, pode falar. - Firmino tenta negar. - Não precisa negar, o nosso pai faz questão de jogar isso na minha cara sempre que conversamos.

- Eu sinto muito, porém os meus erros me fizeram acordar irmão. - ele sorriu. - Vou conseguir um emprego, deixar a faculdade de administração e começar a de música. Amo bateria e qualquer instrumento que faça um bom barulho. - aquela expressão de felicidade em um rosto que outrora estava derrotado, me deixava feliz. 

Só tinha um problema. José nunca aceitaria, não sem lutar.

- Lute pelos seus sonhos. - lhe dei incentivo.

- Sei que você vai continuar cursando administração, porque realmente ama, entretanto, peço que se afaste do nosso pai, Ederson, assim como vou fazer. Ele é um demônio consumindo o que temos de melhor.

Continuamos à conversar por algum tempo. Descobri que gosto muito mais do Roberto apaixonado e cheio de sonhos produtivos. Sei que é duro dizer, mas acho que a dor ensinou e mudou meu irmão. Ele é outra pessoa.



Entre Perdas e Ganhos - Segunda TemporadaOnde histórias criam vida. Descubra agora