Capítulo 4

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Neymar Jr

Tudo bem que a culpa de não termos um relacionamento agora é minha, mas não me julguem tanto. Vou contar os motivos que me fizeram negar. Vocês podem até dizer: Não precisa, sei que foi sua covardia. Mas as coisas vão sempre além da superfície.

Primeiro: sim, sou covarde, e fui mais ainda quando o dispensei. Mas eu não tive coragem de assumir um relacionamento com um homem. Ser surrado naquela época pela possibilidade de ser gay me deixou traumatizado. Pensem comigo: se meu tio mandou me espancar apenas porque boatos que seu sobrinho poderia ser gay surgiram, imaginem se ele descobre que é verdade? Isso perturba minha cabeça.

Segundo: eu não mereço o Phil. Ele é um homem espetacular, bom e honesto. E quem sou eu? O idiota que propôs uma aposta que machucou a todos. Sei que a culpa não foi inteiramente minha, porque existia a possibilidade deles contarem a verdade aos seus parceiros.

Mas e quanto ao Firmino? O amigo que sempre esteve do meu lado. Aquele cara é meu irmão, e eu mesmo assim o machuquei. Firmino sempre acreditou que um dia eu desistiria do papel de babaca e voltaria a ser o que sempre fui, mas acontece meu tio me estragou. Ele me fez odiar quem eu sou, por um tempo.

Beijar Philippe Coutinho foi a prova de que eu não posso e não devo me esconder dentro de mim mesmo. E por essa razão eu decidi que não o mereço, pelo menos por hora. Eu preciso que meus amigos de me perdoem, que eu me perdoe. Preciso ser alguém melhor. Não só para merecer um pouco de tudo que Philippe é, mas para mostrar que ainda existe algo bom dentro de mim, alguma coisa que pode ser salva.

(...)

Vim para a faculdade com um propósito diferente. Se eu desejo uma mudança, tenho que começar por onde mais me afeta: a faculdade de medicina. Não que eu não goste, mas não é o meu sonho. Meu pai que se contente em ter um genro pediatra.

E falando no Philippe, eu ainda não engoli a história de que aquela loira sem sal é namorada dele. E por que eu estava em uma loja de lingerie? O motivo é simples. Eu estava seguindo o Philippe. Como sabia que ele estaria lá? Coloquei um rastreador no celular do mesmo.

Não, eu não sou um louco psicopata que fica seguindo as pessoas, só estou mantendo a pessoa que eu gosto em segurança. Seguro de quê? Do meu tio. Ele tem olhos por toda parte, e se descobrir que Philippe é mais que um amigo, nem sei o que poderia fazer com ele.  

(...)

— Firmino? Ei, espera! — o chamei quando o vi.

— Olha, eu não quero falar com você. — ele disse sem nem olhar para mim.

— Sei que errei e que machuquei você. — segurei seu ombro. — Preciso que me perdoe, Firmino.

Ele me olhou com raiva.

— Eu não te odeio, você é meu irmão. — meus olhos já estavam cheios de lágrimas. — Entretanto, estou muito magoado. Me dê um tempo, e então teremos essa conversa novamente.

— Um abraço? — pedi meio hesitante.

— Sempre. — me abraçou carinhosamente.

Nossa conversa foi rápida e libertadora. Saber que Roberto Firmino não me odiava me trouxe um alívio imenso.

Caminhei até a sala da senhora Anderson. Preciso cancelar minha matrícula.

— Bom dia, Neymar. — pelo menos essa senhora já tinha entendido que eu odiava toda aquela formalidade.

— Vou direto ao assunto. — nem respondi sua saudação.

— Que é?

— Estou aqui para fechar minha matrícula em medicina.

— Seu pai está de acordo? — que velha intrometida.

— Sou maior de idade, e apesar de não pagar minhas contas, não tenho dono. — ela arregalou os olhos com minha grosseria. — Por muito tempo deixei meu pai controlar minha vida, mas já chega disso!

— Ele será notificado do cancelamento.

— Ótimo, vou adorar ver a cara dele quando souber. Ah, e amanhã mesmo já começo meu curso de música.

— Música? — perguntou espantada. 

— Algum problema?

— Nenhum.

— Foi o que pensei. — dito isso, saí de sua sala.

(...)

Quando cheguei em minha casa, a primeira pessoa que vi foi meu pai. Ele estava sentado em uma poltrona preta que ficava no canto esquerdo da sala. Olhei para o sofá e lá estava meu tio. Afonso Santos, o pior tio do mundo.

— Pensei que não ia chegar nunca, filho. — meu pai estava tão calmo.

— O senhor está doente? — ele fez uma expressão confusa.

— Não. — respondeu. — Fiquei sabendo que você desistiu da faculdade de medicina. — ele ainda tinha aquele sorriso perigoso nos lábios e meu tio estava calado, o que era estranho.

— E você não está com raiva? — perguntei. Minha voz estava carregada de medo.

— Eu sempre passei uma imagem errada de quem eu sou para você. — ele levantou de onde estava sentado. — Sempre fui muito duro, arrogante e te impus todas as minhas vontades.

Que conversa é essa?

— Você sempre foi muito imaturo, Neymar. Os anos passavam e nada de você amadurecer. Seu tio sempre me disse que a melhor maneira de te fazer crescer era sendo duro. Temo que falhei miseravelmente, pois isso só nos afastou.

— Do que você está falando, Pedro? — meu tio entrou na conversa.

— Que estou cansado de tratar meu filho mal, de ser um péssimo pai.

— Ele acabou de cometer uma rebeldia e você está aí sorrindo? O futuro da nossa família depende desse inútil. — odeio esse homem.

Agora as coisas começam a fazer sentido. Não que todas as atitudes ruins do meu pai fossem ser perdoadas apenas porque ele está se redimindo, mas agora entendo. Pedro, meu pai, sempre foi influenciado pelo odioso Marcos, vulgo meu tio.

— Outros podem dar continuidade ao legado da nossa família. Se meu filho ama música, ele vai cursar música.

— Oras, você está sendo um idiota.

— Estou sendo o pai que sempre deveria ter sido.

Meu tio tentou me acertar com um soco, mas foi impedido pelo meu pai.

— Quero você fora da minha casa, AGORA! — gritei.

Ele se aproximou de mim e sorriu maldosamente. Então sussurrou palavras que me deixaram apavorado.

— Estou sempre de olho em você, nunca se esqueça disso. E se isso não servir para te deixar amedrontado, lembre-se do passado.

Eu lembrei.

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N/A:pai do ney surpreendendo a todos, não é? já o tio dele é um verdadeiro monstro. neymar está crescendo, amém. philippe está em perigo?

Entre Perdas e Ganhos - Segunda TemporadaOnde histórias criam vida. Descubra agora