PRÓLOGO

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Graças à festa de aniversário da filha de uma amiga eu não teria novamente mais um sábado à noite atarefado e estressante corrigindo provas e elaborando questões, organizando simulados e revisões – programa típico da vida de uma professora, ainda mais uma professora referência em Teresina, diga-se de passagem.

Leciono para o ensino médio em três das melhores escolas particulares da cidade, além de ministrar um curso de redação intensivo e um preparatório para o Enem voltado para a área de Linguagens, Códigos e suas Tecnologias. Não me dispensam em nenhum "aulão" para os vestibulares e ainda ministro revisões e simulados nos finais de semana para escolas diversas. Sou uma professora muito bem remunerada e amo o que faço, embora tenha abdicado da minha vida pessoal para isso.

Eu estava feliz porque ia encontrar minhas amigas, já que a correria do dia a dia não permite encontros fortuitos. O meu círculo de amizades também é muito restrito e minhas amigas são todas, sem exceção, casadas ou divorciadas com filhos, namorados e até mesmo netos a tiracolo, o que me causa desconforto às vezes. Mas é nisso que dá ser a única solteira sem filhos de um grupo cuja maioria está na casa dos quarenta!

Desde que fiquei viúva há mais de cinco anos, não tive interesse de embarcar em um novo relacionamento. Confesso que havia desistido dessa parte da minha vida mesmo tendo apenas trinta e cinco anos. E já que ser professora de Português era a melhor coisa que eu fazia, eu me dedicava exclusivamente a isso.

Na metade da festa, enquanto eu conversava animada à mesa sobre um livro de romance com as minhas amigas (nesse momento a sós, sem maridos, namorados ou filhos por perto), uma mão pressionou meu ombro gentilmente. Olhei de imediato para trás e avistei um conhecido rapaz de olhos acinzentados cuja franja cobria a testa lhe conferindo um ar de ídolo adolescente como o tal do Justin Bieber no começo da carreira, que me deixou maluca ao som de "baby, baby, baby, oooh" – a febre juvenil infernal contagiosa que pegou em todas as escolas em que eu lecionava.

— Olá, professora Cristina! – ele disse com um sorriso de orelha a orelha antes de soltar o ar exasperado, como se estivesse prendendo a respiração.

— Oi, Rodrigo! Que surpresa agradável. – levantei-me da cadeira em que estava sentada, exibindo uma expressão comedida, e apertei a mão do irmão de uma das minhas alunas em um cumprimento formal.

— É mesmo uma surpresa agradável te encontrar aqui! – ele ainda não tinha soltado a minha mão e a balançava, o que, de certa forma, me causou incômodo diante da sua expressão vidrada e dos olhares inquisidores das minhas amigas – De onde conhece a aniversariante?

— Ela é filha de uma grande amiga. – soltei bruscamente a sua mão e apontei para Viviane, a mãe da aniversariante.

Viviane e Rodrigo trocaram palavras afetuosas e a minha amiga começou a falar sobre o quanto a sua filha Camila e o Rodrigo eram amigos, mas que ela gostaria que fossem mais que isso. Os dois jovens estudavam juntos na Universidade Federal do Piauí, onde cursavam Medicina. Por essa eu não esperava. Depois fui interrogada sobre de onde conhecia Rodrigo e mencionei ser professora da Rafaela, a sua irmã caçula.

— Será que eu posso falar com você em particular só um minutinho? – Rodrigo me perguntou de repente, parecendo um pouco receoso.

— Claro que sim. – sorri com educação, já imaginando que ele fosse falar sobre a sua irmã. Eu definitivamente não estava a fim de levar o meu trabalho para a festa, mas fazia parte da minha natureza ser gentil com os familiares dos meus alunos em qualquer lugar que nos encontrássemos.

Caminhamos até um local mais reservado do salão do Buffett, que parecia com uma sala de estar. Ali, naquele espaço mais silencioso e sem a presença de outras pessoas, Rodrigo aproximou-se demais de mim a ponto de eu sentir a sua respiração e o seu hálito em meu rosto. Imediatamente percebi que ele havia bebido, mas não sabia o quanto. Talvez muito, considerando que ele estava corado, um pouco esbaforido e cambaleante.

— Está tudo bem, Rodrigo? Você me parece vermelho, como se estivesse sufocando. – não quis perguntar o quanto ele tinha bebido. O rapaz tinha seus vinte e poucos anos, tinha mais era que curtir. Eu não ia dar uma de Dona Hermínia.

— Só estou com um pouco de calor. – ele esboçou um sorriso.

— Certo. Eu já sei que quer falar sobre a Rafaela. Ela está melhorando bastante em Português. Fiquei até impressionada com a sua última redação. Aposto que...

— Não quero falar sobre ela. – ele disse de uma vez, me interrompendo.

— E quer falar sobre o quê? – arqueei uma das minhas sobrancelhas, colocando um cacho solto atrás da orelha.

— Você fica muito sexy fazendo isso. – ele sussurrou, me encarando com uma expressão enigmática no rosto.

— Perdão, o que disse? – arqueei novamente uma sobrancelha, dessa vez espantada, sem acreditar que tinha ouvido a palavra "sexy" saindo da boca de Rodrigo.

Ele se aproximou mais de mim, visivelmente decidido, o que me faz dar passos para trás até chocar o meu corpo contra a parede. Rodrigo avançou colocando cada mão de um lado da minha cabeça, apoiando-se na parede. A nossa diferença de altura fazia com que eu me sentisse um ratinho indefeso encurralado por um gato astuto.

— O que está fazendo? – quase gritei perplexa com aquele comportamento.

— Eu não sei. Só preciso tocar em você. – e colocou uma mão em meu rosto enquanto olhava para a minha boca.

— Você não precisa disso, Rodrigo. – tentei afastá-lo, mas ele foi mais rápido. Os nossos lábios colidiram.

Rapidamente a língua de Rodrigo escorregou para dentro da minha boca e sua mão livre agarrou a minha nuca. Eu fui corrompida pelo sabor do seu beijo e retribuí desajeitada, mas com sede. Há muito tempo eu não era beijada daquela forma. Deixei-me levar. O irmão da minha aluna imprensou-me e levantou uma das minhas pernas ao redor do seu quadril. Eu podia sentir a sua ereção tentar roçar a minha calcinha por baixo do vestido. Aquilo era demais para mim. Consegui me libertar.

— Rodrigo, o que pensa que está fazendo? – perguntei atordoada enquanto me afastava dele.

— O que eu sempre tive vontade de fazer. – ele respondeu com um olhar perverso estampado no rosto. Sentir-me excitada diante daquilo me deixou ainda mais perplexa.

— Eu não esperava por isso. Sou professora da Rafaela e bem mais velha que você. Também está claro que você bebeu e vai se arrepender do que fez quando voltar a si. Está confundindo as coisas, Rodrigo.

— Não. Você é quem nunca percebeu as minhas intenções ou finge não perceber. Eu te desejo desde o dia em que te vi pela primeira vez há três anos. Bebi, é verdade, mas minhas ações são conscientes. A bebida me deu coragem e não aguentei te ver aqui, usando esse vestidinho apertado. Você me deixa louco, Cristina.

— Ah, já chega disso! – minha voz saiu estridente – Vou fingir que nada aconteceu e você vai fazer o mesmo. Boa noite, Rodrigo.

O clima ficou constrangedor entre nós dois. Eu o vi encarar minha boca novamente e percebi que estava mordendo o lábio inferior com o nervosismo que se instalou em mim. Meu coração batia acelerado e eu sabia que estava assim desde o primeiro passo de Rodrigo. Minhas pernas também estavam gelatinosas, o que me impedia de dar meus próprios passos para longe dali.

— Você retribuiu o meu beijo. – ele sussurrou – Vai dizer que não gostou?

— Vou dizer que aquilo foi um erro, uma atitude impensada.

Consegui dar alguns passos e criei coragem de evadir. Praticamente corri de volta à minha mesa sem olhar para trás. O que tinha sido aquilo, meu Deus?

O IRMÃO DA MINHA ALUNA (VOL. 3 - SÉRIE OS IRMÃOS)Onde histórias criam vida. Descubra agora