5

583 76 2
                                    

Passei a tarde pensando no que dizer a Rodrigo. Àquela altura da noite ele já sabia que a irmã estava suspensa. Dirigi até o seu condomínio. Tive vontade de levar as flores e a cesta, mas as rosas eram tão lindas e a comida estava com uma cara tão boa, que desisti da ideia. Aliás, a comida não tinha só a cara boa, como o gosto também. Mas levei o lingerie. Eu não precisava daquilo. Não tive coragem de abrir o bilhete que acompanhava o buquê, então apenas o joguei no fundo de uma gaveta.

Após ser autorizada a entrar no condomínio e subir para o apartamento de Rodrigo, bati na porta. Quem abriu foi Rafaela, já usando um pijama para dormir. Olhei para o relógio. Vinte e duas horas. É. Saí de casa de supetão, levando a cara e a coragem, sem me importar com o horário.

— Oi, professora Cristina. – disse Rafaela, um pouco tensa – O Rodrigo está no banho. Não sabíamos que a senhora ia aparecer aqui.

— Tudo bem. O que vim fazer é jogo rápido, mas posso esperar o Rodrigo terminar o banho.

Após alguns minutos de silêncio na sala, sentada no sofá, com Rafaela apenas me olhando, Rodrigo apareceu, usando uma samba canção do Batman – mais uma prova do quanto ele é um garotão. Ele se surpreendeu quando me viu.

Cristina?! – e olhou para a embalagem de presente na minha mão.

— Precisamos conversar.

— Você pode vir até o meu quarto?

— Não. – levantei e pus a mão na minha cintura, o queixo erguido.

— Rafaela, vai para o seu quarto.

A garota saiu da sala se arrastando e ele sentou-se no sofá. Continuei de pé.

— O que se passa pela sua cabeça, Rodrigo?

— Você não gostou dos meus presentes?

— Não! – gritei e ele esmoreceu.

— Desculpe...

— Sei que não agiu por mal, mas de boas intenções o inferno está cheio.

— Cristina, senta aqui...

— Não! Você vai me escutar. Um grupo de alunas, incluindo nele a sua irmã, foi suspenso por causa da discussão com uma professora que fez insinuações sobre esse presente que você me deu e depois aquele buquê exagerado com uma cesta de café da manhã também entregues na escola. Insinuaram até que Rafaela e eu estávamos tendo um caso! Agradeço os presentes, mas você foi muito sem noção ao mandá-los para a escola em que trabalho, em que sou professora da sua irmã! – eu estava exaltada – E que ideia foi essa de pedir para ela escolher e me entregar um lingerie que você comprou? Aquilo foi muito constrangedor!

Não deixei Rodrigo falar quando ele tentou e dei continuidade ao que dizia, falando tudo que estava engasgado, finalizando com a minha conversa com Ângela, a diretora da escola.

— Já chega, Rodrigo! O que fizemos foi apenas uma transa! E trate de se relacionar com pessoas da sua idade. A Camila, por exemplo, filha da Viviane. Minha amiga é louca para que vocês dois namorem.

— A Camila é lésbica assumida e a tia Viviane sabe disso. Ela fala essas coisas para tapar o sol com a peneira na frente dos outros, mas a namorada da Camila estava lá na festa. A família toda é que ainda não sabe, mas os amigos sim.

Por essa eu não esperava. Engoli minha surpresa.

— Mesmo assim. Não importa.

— Cristina, me dá uma chance. Eu prometo ser menos exagerado. O lingerie foi ideia da Rafaela, porque viu a sua calcinha rasgada no meu quarto. Acho que ela anda lendo muitos romances inadequados para a idade dela. Enfim, eu só fiquei sabendo o que houve depois que ela te presenteou. Achei muito ousado e decidi mandar algo mais romântico, como um pedido de desculpas pelo que ela fez. Estou dizendo isso no bilhete que te escrevi, que estava com as flores.

O IRMÃO DA MINHA ALUNA (VOL. 3 - SÉRIE OS IRMÃOS)Onde histórias criam vida. Descubra agora